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24.12.08

Concertos no CCB - Maratona Beethoven "Concerto de Viena" II 

II PARTE Dia 21 de Dezembro, 21h Grande auditório do CCB

Orquestra: SInfonia Varsovia
LATVIJAS RADIOKORIS (Coro da Rádio Letónia)

Direcção: Marc Minkovsky
SANDRA MEDEIROS soprano
JULIANA MAUGER alto
FERNANDO GUIMARÃES tenor
JOÃO DE OLIVEIRA baixo
Artur Pizarro piano

Sinfonia nº5 em dó menor, op.67 (1808)
Sanctus (Benedictus - Osanna) da missa em Dó, op.86 (1807)
Fantasia for piano em sol menor, op.77 (1808)
Fantasia em dó menor para piano, choro e orchestra, op.80 (1808)

Começámos a segunda parte desta maratona Beethoven com a Quinta Sinfonia de Beethoven mas o que escrevo sobre a quinta de Beethoven aplica-se a todo este concerto.
Estávamos com alguma espectativa: ver uma orquestra moderna dirigida por um maestro "antigo", titular da mesma, podia criar algumas tensões de estilo.
Nada de mais errado, a fusão e combinação das personalidades foi impressionante. Ouvimos um Beethoven empolgante, apaixonado, vivo, energético, denso mas, ao mesmo tempo, transparente. É certo que o vibrato e o som "polaco" desta orquestra ainda se fazem sentir mas a direcção de Minkowsky assegura articulações muitíssimo bem trabalhadas, finas, que lhes conferem uma elegância e uma capacidade de diálogo entre as diversas secções temáticas que revelam um Beethoven que trabalhou até à exaustão o detalhe das suas obras, um arquitecto de grande fôlego e um homem da precisão e do detalhe. Foram particularmente impressionantes os pianíssimos dos violinos no último andamento, de uma delicadeza ímpar e, ao mesmo tempo, de uma capacidade técnica perfeita, sem perder corpo nem textura, acentuando os mais ínfimos detalhes da articulação escrita na partitura.
Os mais pequenos detalhes de acentuação foram executados pelos músicos, todos os forte-piano, crescendos que terminam em p, sforzandi de acentuação em passagens rápidas executados com perfeição pelas cordas. Os contrabaixos e violoncelos foram perfeitos nas passagens mais exigentes. A coesão de toda a orquestra nas diversas entradas também foi notável, demonstrando uma perfeita empatia e uma equipa muito sólida. O trabalho dos soli nos sopros foi também perfeito com poesia e segurança em todas as intervenções.
Apenas não gostei de algumas colcheias isoladas em fortíssimo dadas com demasiado peso pelas cordas e do facto de Minkowsky, noblèsse oblige, não ter usado a nova (já nem tanto) edição "Urtext" das sinfonias de Beethoven.
Passando às partes com elementos vocais: a direcção de Minkowsky do belíssimo coro da Rádio da Letónia foi exemplar, gestos amplos, grande segurança, modificando a forma mais empática que usou para dirigir a "sua" Sinfonia Varsóvia na Quinta.
Os solistas vocais portaram-se à altura do acontecimento e todos, sem excepção, se apresentaram com dignidade nas partes em que se destacam. Gostei do peso vocal de João Oliveira, muito seguro e em plena forma musical.
Artur Pizarro chegou e encantou, a Fantasia em Sol Menor, raramente escutada, foi um modelo de elegância, suavidade de Touché em todas as circunstâncias: desde o mais suave pianíssimo ao fortíssimo nunca martelado (ao contrário do solista da sessão anterior). Pizarro teve o sentido de humor e a qualidade de nos dar unida e coesa uma fantasia difícil: parece desconexa nos seus contrastes mas Pizarro soube ter a magia de os unir, numa perfeição estilística de altíssimo nível.
O concerto terminou com a fantasia coral de Beethoven, uma apoteose digna para uma tarde que acabou numa noite magnífica. Um solista extraordinário no piano: Artur Pizarro, com uma naturalidade musical e uma segurança arrepiantes, com uma orquestra plena de energia e confiança, um coro excelente e solistas (agora saídos do coro) com um plano musical não inferior aos solistas anteriores.
Um maestro, Marc Minkowsky, que trouxe a partitura para todas as obras que interpretou. Parece que era a primeira vez que dirigia a Quinta de Beethoven com esta orquestra e quis assegurar-se de que todos os detalhes não lhe fugiam ao domínio. Trouxe também uma batuta enorme com encastoamentos em prata que fez a delícia do público que me rodeava... Uma batuta que usou para o serviço da música e foi excelente.


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