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26.9.07

Lixo Universal 

Não falo da Igreja Universal do Reino de Deus, falo mesmo da Universal com Decca, DG e outras etiquetas.
Hoje leio mais um email do esforçado e profissional Paulo Ochoa e vejo mais quatro "highlights", os destaques para estes meses da programação da Universal.
Começamos com o desgraçado do Pavarotti, com os "homens de negócios" da Universal a cavalgar em cima do morto. Segue-se uma Bartoli a esganiçar-se aos berros numa Maria Malibran qualquer que ninguém sabe como cantava e que provavelmente nos faria arrepiar os cabelos ainda mais do que o novel vibrato (volta Natália de Andrade) da Cecilia e os produtos discográficos desta multinacional. Temos, logo a seguir, mais um quinto de Beethoven pela Hélène Grimaud, deve ser o centésimo milésimo, com a direcção de Vladimir Jurowski e a belíssima Staatskapelle de Dresden mas com a formação completa e um vibrato de arrepiar ainda mais os meus pobres cabelos, a interpretação volta a ser pomposa, falsamente heróica e pouco inovadora; com o erro técnico de ter demasiada potência nos graves do piano, provavelmente para dar uma sensação de densidade que resulta em empastalemento do som. Onde estão os técnicos do "som Decca"? Ou foram todos despedidos ou morreram ou estão reformados e as gravações parecem feitas por "free-lancers" contratados do pop-rock... O último disco destes "highlights" é um não menos batido concerto para violino de Mendelssohn por Daniel Hope que descobriu uma nova versão "Urtext", neste caso o tal Hope deve tocar sozinho a versão "urtext" onde se destaca nos tímbales, e gravada em multipista, porque não há qualquer referência, (nem no site da Universal, nem no email) a orquestra ou a maestro! Creio que esta é a centésima quinquagésima milésima ducentésima duodécima gravação do concerto mártir de Mendelssohn e a interpretação não podia deixar de ser incrivelmente arrebicada e de mau gosto, apesar dos tais tímbales. E fica a informação que se trata da Orquestra de Câmara da Europa e o maestro é Hengelbrook, o vibrato volta a ser arrepiante: lamechas, lamuriento e de mau gosto.

A multinacional passa ao lado de todas as propostas inovadoras que se têm feito no domínio na interpretação nos últimos quarenta anos e está francamente fossilizada no lixo "vibrante" que tenta recrear hoje Mendelssohn, Beethoven e o chamado "belcanto" à moda dos anos sessenta do século passado. Produtos passados e sem interesse, sem inovação interpretativa, sem chama nem vida, recriações requentadas do mesmo que tem sido feito nos últimos cem anos. Não há pachorra para tanta falta de qualidade, mesmo quando o embrulho duma Bartoli e a sua falsa chama de "artista muito séria pouco dada às solicitações do mercado" tenta dar alguma credibilidade a um conteúdo miserável.

Acresce a isto uma foto da Bartoli quando tinha menos 15 anos e menos 30 quilos e está tudo dito sobre os pesos "light" que resultam destes "highlights". Conclusão, recomendo que não se compre nada disto. Bola preta à Universal nesta "reentré", como lhe querem chamar.

O trabalho desta companhia é bem diferente de uma Carus, entre tantas outras, uma editora pequena que todos os meses aparce com novidades muitíssimo mais interessantes do que os produtos de marketing que são produzidos por uma companhia que não tem o menor respeito pelos intérpretes, pelo público e pela história das marcas que representa e dirigida por meros empresários, sem a menor noção do que é a qualidade musical. Lembrei-me da Carus a propósito da nova edição do Paulus de Mendelssohn, uma gravação extraordinária, de uma profundidade tremenda, de uma meditação interna e uma musicalidade e força que nos transportam a outro universo, que nada tem a ver com a Universal, um universo exaltante em que a obra recupera toda a sua energia através de uma leitura sem concessões de Frieder Bernius, esse sim um grande dirigente, servido por solistas de altíssimo nível com Kiehr, Güra e Volle, um coro notável (talvez o melhor dos intérpretes aqui reunidos) e a Deutsche Kammerphilharmonie de Bremen, a anos luz de distância do Mendelssohn manhoso da Universal do Daniel Hope e de um maestro qualquer escolhido para o acompanhar. Quando há discos destes para adquirir não faz sentido gastar um cêntimo nos produtos Universal, é o chamado dinheiro deitado para o balde do lixo, era preferível que esta multinacional saísse do mercado discográfico dito clássico, a sua política editorial é uma fraude e só serve para fomentar o mau gosto dos papalvos, cada vez menos felizmente que o público não é estúpido, que seguem os produtos Decca, DG e outros, pela sua história e prestígio.

Bem tem razão o Norman Lebrecht ao dizer que a indústria morreu. A ler o seu livro, também fortemente recomendado.

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