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15.7.07

Cinquenta e Sete mil e picos 

Nem sequer sessenta mil votaram em Costa. Eu não votei, não tive paciência para deixar uma piscina a trinta e um graus e meio para me meter no carro e andar quarenta quilómetros, duas horas mais cedo, para colaborar numa palhaçada. A palhaçada da democracia portuguesa. Nenhum candidato valia o esforço, nenhuma opção valia uma saída da água ou um segundo a menos a contemplar o campo. Sentir-me-ia aviltado, conspurcado, por esse esforço em prol da farsa da democracia portuguesa.
Um Carmona a mais ou a menos, um PS de Felgueiras, tudo já me é indiferente, o nojo é tal que apenas o pessimismo toma o lugar. Não foi por falta de esclarecimento que não votei, foi por excesso de esclarecimento. Tomei demasiado Schopenhauer, abusei demasiado de Wagner, consumi excessivamente Bach. São os efeitos secundários do génio que me deixam indiferentes ao lodaçal infame desta gentalha.

Depois vi, por breves instantes, os que nos tomam por palhaços a celebrar, isto mais uma meia dúzia de apaniguados e uns candidatos a assessores. Desta vez não houve direito a vaias e assobios. Os quinhentos mil que não votaram em Costa estavam-se nas tintas. Apesar da celebração, apesar da não participação da esmagadora maioria da população, que acredito eu, também não votou por ter percebido que não vale a pena, os tartufos do costume celebram vitórias e choram derrotas. Nenhum percebeu que o verdadeiro descontentamento está no descrédito do sistema. Ninguém percebeu que dar uma volta, lavar o carro, ir ao café, que a praia até estava má, são razões demasiadamente fortes para que nos demos ao trabalho de votar numa chusma de aldrabões, corruptos e vigaristas.

A abstenção surge porque já ninguém acredita nestes políticos e neste sistema. Até quando?

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