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25.4.07

Alguém que me explique isto dos dias da música 

Não fui aos "dias da música" dedicado ao piano no CCB, tinha mais que fazer, as ervas cresciam, os pássaros cantavam e era preciso pensar.

Entretanto preciso que alguém me explique umas coisas.

Mega Ferreira disse que René Martin era um despesista e que os orçamentos do francês eram sempre largamente ultrapassados. Fiz umas contas para estes dias do piano:


Orçamento inicial 400.000 euros. Custo final: 600.000 euros. Derrapagem orçamental 50%. Afinal quem é o despesista?

30 pianistas, alguns nem devem aparecer no google. Concertos a solo e a duo. Muitos eram pianistas portugueses, mais baratos por causa das viagens, e algumas orquestras: Orquestra de Câmara Württemberg, ORCHESTRUTOPICA, Orquestra Metropolitana, Orquestra Filarmónica da Eslováquia.
Serão 250 músicos no máximo, com muita caridade, mais os 30 pianistas, um percussionista e um cravista. Ficou, mais coisa menos coisa, a cerca de 2100 euros por músico (onde se incluem os músicos das orquestras, que são pagas sempre da mesma forma tabelada e institucionalizada). Conclusão: os preços pagos pelo CCB aos solistas são muito mais elevados do que nos tempos de René Martin e não são inferiores a preços de concerto normal, não existe qualquer economia de escala. Um recital aqui ou num outro lado qualquer é ao mesmo preço. Não seria melhor fazer uma temporada superior com estes 600.000 euros gastos num fim de semana?
E a fantochada dos putos a martelar nos pianos com os pais embevecidos a verem a rapaziada a escavacar os pobres instrumentos?... Será que é isto a educação musical de fundo que Portugal precisa, será isto um projecto educativo com pés e cabeça? Cruzamentos de pianos com girafas?... E os jornalistas, imbecis como de costume, também eles embasbacados com a dita fantochada, santa imbecilidade lusitana... Entretanto tocam pianistas como Pascal Rogé e ninguém diz nada e só a Maria João Pires e o Laginha é que são notícia?

Custo de 2006: 1.200.000 euros (o dobro). Número de concertos: 115. Músicos 857. Feitas as contas fica a 1400 por músico, e que músicos, além disso vindos (mais de 450) do estrangeiro, com viagens a pagar pelo CCB. Cito de memória alguns nomes.

Orquestras: Ricercar Consort, Les Siècles, Sinfonia Varsovia, Akademie für Alte Musik Berlin, Collegium Cartusianum, Concerto Köln, La Fenice, Divino Sospiro, Ensemble Matheus, Solistes de l’Ensemble Baroque de Limoges, Ensemble 415, etc, etc.

Coros e ensembles vocais:
Ensemble Vocal de Lausanne, RIAS-Kammerchor, Kölner Kammerchor, Coro de Câmara de Namur, The Tallis Scholars, La Venexiana, etc...

Inúmeros agrupamentos de câmara e solistas e maestros de renome mundial: Ensemble Pierre Robert, Skip Sempé, Carlos Mena, Tharaud, Oleg, Coin, Fernandez, Pierlot, Neumann, Reuss, Jean Tubéry, Desenclos, Cavina, Hantaï, Banchini, etc...

Pelo que vejo os programas de 30 pianistas, que se bastam si próprios, e umas orquestras baratas ficam a um preço escandaloso comparado com os preços de René Martin, e a qualidade é incomparável.
É evidente que há bons artistas nos dias da música, mas dizer-se que Mega está de parabéns parece-me uma patetice de gente sem referências. Merecia umas setas para baixo, bem no fundo da escala. Além disso parece que disse que não sabia o que era a Festa da Música (segundo a imprensa). Mas será que sabe o significado da palavra modéstia?... é que soa a ridículo.
E a taxa de Mega é mais baixa que a de René, que no ano passado ultrapassou os 94% de ocupação ao contrário dos 88% deste ano. Dirão que é bom, claro que não é mau, sobretudo se olharmos para a programação apresentada, mas Réné Martin tem melhor resultado. Objectivo e linear. Mas o pior é mesmo a deselegância: Mega Ferreira consegue esta taxa de ocupação porque aproveitou o balanço do René Martin (e de Miguel Lobo Antunes), René que construiu o modelo, Miguel Lobo Antunes que o lançou em Portugal e o adaptou à nossa medida. Mega Ferreira nunca teria sequer os 70% que previa inicialmente se não fosse a aura que a Festa da Música obteve ao longo destes anos, a não ser com custos gigantescos de promoção e marketing, que obviamente não gastou neste ano. Não o reconhecer é deselegância, não o citar é ingratidão. Copia-se descaradamente e despudoradamente o modelo, faz-se uma versão baratucha que putativamente fica a um terço do custo de 2006, ultrapassa-se o orçamento em 50%, chega-se a metade do valor anterior; chamam-se, de caminho, uns nomes ao programador antecedente, finalmente até se diz que não se sabe o que é a Festa da Música, muito edificante, sem dúvida.
Onde ficamos no argumento de que se está a desbaratar num fim de semana grande parte dos recursos do CCB? Será que agora esta instituição pública não fica muito limitada na sua capacidade de programação anual?

Entretanto afirmou-se que a "crítica tinha feito um balanço positivo" destes dias do piano, mas será que esteve lá alguma crítica para além do Bernardo Mariano? Que até foi particularmente crítico...

Será que alguém me explica?

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