12.3.07
Estações de Haydn
Um concerto hoje na Gulbenkian simplesmente arrasador. Haydn genial tocado de forma sublime. Nada mais há a dizer: um dos melhores concertos dos últimos dez anos em Portugal.
Um leve exagero histriónico de Henschel, com a voz pouco profunda para o papel, parece-me ter sido um pouco inferior aos restantes membros em cena, uma Rebecca Evans com voz um pouco fria na primeira parte, um oboé a dar uma fífia, foram elementos desgarrados que não mancharam em nada um trabalho excepcional de Gardiner.
Trompas olímpicas, restantes metais excelentes, madeiras notáveis, cordas perfeitas, coro deslumbrante, concepção dando lugar à arquitectura global e ao detalhe num equilíbrio e musicalidade sem par. Equilíbrio total entre instrumentos e vozes, sentido de humor, ritmo, música ao mesmo tempo tempestuosa e pictórica, sombria e radiosa, contrastes construídos de forma inteligentíssima por Gardiner.
Hoje tudo excelente: timbre dos instrumentos originais, pureza sonora sem vibratos lamechas, articulações lindíssimas, sonoridades utilizadas como cores de uma paleta. Que beleza a introdução do Inverno nos seus tons sombrios, que claridade no Verão! Que tempestade de Verão mais violenta e arrebatada, que caçada mais sugestiva, que bebedeira mais sumptuosa na cena do vinho.
Um tenor incrível (Gilchrist): que sobriedade, que coloração nos graves, que poder e brilho nos agudos, que caracterização poética entre o sombrio e tenebroso, com voz escura, na caminhada na neve e que alegria radiosa, ao encontrar o abrigo e o fogo. Simplesmente inesquecível.
O Coro foi perfeito. A orquestra perfeita. As solistas perfeitos mesmo nas suas imperfeições: o grão de Gilchrist só aumentou expressividade, Henschel apesar de cantar os cães a passear como se tratasse do suicídio do Werther deu muita intensidade ao papel e tem uma voz bonita, Rebecca Evans apesar de perder o timbre em pianíssimo arriscou no limite. Gardiner esteve perfeito, um pensador e um verdadeiro maestro, segurança absoluta, beleza e sobriedade do gesto, trabalho de ensaio e coordenação do conjunto impressionantes, beleza geral da concepção, tormentosa e apaixonada, subtil e pictórica, para mim o grande elemento aglutinador que construiu umas Estações que nos deram a verdadeira dimensão do enorme compositor que Haydn é.
ENGLISH BAROQUE SOLOISTS
MONTEVERDI CHOIR
SIR JOHN ELIOT GARDINER (Maestro)
REBECCA EVANS (Soprano)
JAMES GILCHRIST (Tenor)
DIETRICH HENSCHEL (Barítono)
P.S. Notas de programa: A Gulbenkian poderia apenas traduzir as páginas 362 e seguintes do Guia da Fayard da Música Sacra pós 1750. Saía com certeza mais barato e as notas teriam melhor estrutura e seriam mais completas e menos um mero resumo truncado do original francês. "Deísta", "Perfume", "cromatismos audaciosos", e mesmo frases inteiras literalmente traduzidas do francês cheiram a esturro, falta-me a paciência para cotejar, mas tendo lido uma coisa à tarde antes do concerto e as notas depois do mesmo, parece-me tudo muito semelhante, facto que não é novo e por ser repetitivo me leva a referi-lo de novo aqui. A ausência de bibliografia é notória, e deveria ser incluída em casos semelhantes; assim, pelo menos, a coisa não era tão descarada. O coordenador original dos textos do livro da Fayard é François René-Trancheford com colaboração de outros autores. Fayard, Paris, 1993.
Um leve exagero histriónico de Henschel, com a voz pouco profunda para o papel, parece-me ter sido um pouco inferior aos restantes membros em cena, uma Rebecca Evans com voz um pouco fria na primeira parte, um oboé a dar uma fífia, foram elementos desgarrados que não mancharam em nada um trabalho excepcional de Gardiner.
Trompas olímpicas, restantes metais excelentes, madeiras notáveis, cordas perfeitas, coro deslumbrante, concepção dando lugar à arquitectura global e ao detalhe num equilíbrio e musicalidade sem par. Equilíbrio total entre instrumentos e vozes, sentido de humor, ritmo, música ao mesmo tempo tempestuosa e pictórica, sombria e radiosa, contrastes construídos de forma inteligentíssima por Gardiner.
Hoje tudo excelente: timbre dos instrumentos originais, pureza sonora sem vibratos lamechas, articulações lindíssimas, sonoridades utilizadas como cores de uma paleta. Que beleza a introdução do Inverno nos seus tons sombrios, que claridade no Verão! Que tempestade de Verão mais violenta e arrebatada, que caçada mais sugestiva, que bebedeira mais sumptuosa na cena do vinho.
Um tenor incrível (Gilchrist): que sobriedade, que coloração nos graves, que poder e brilho nos agudos, que caracterização poética entre o sombrio e tenebroso, com voz escura, na caminhada na neve e que alegria radiosa, ao encontrar o abrigo e o fogo. Simplesmente inesquecível.
O Coro foi perfeito. A orquestra perfeita. As solistas perfeitos mesmo nas suas imperfeições: o grão de Gilchrist só aumentou expressividade, Henschel apesar de cantar os cães a passear como se tratasse do suicídio do Werther deu muita intensidade ao papel e tem uma voz bonita, Rebecca Evans apesar de perder o timbre em pianíssimo arriscou no limite. Gardiner esteve perfeito, um pensador e um verdadeiro maestro, segurança absoluta, beleza e sobriedade do gesto, trabalho de ensaio e coordenação do conjunto impressionantes, beleza geral da concepção, tormentosa e apaixonada, subtil e pictórica, para mim o grande elemento aglutinador que construiu umas Estações que nos deram a verdadeira dimensão do enorme compositor que Haydn é.
ENGLISH BAROQUE SOLOISTS
MONTEVERDI CHOIR
SIR JOHN ELIOT GARDINER (Maestro)
REBECCA EVANS (Soprano)
JAMES GILCHRIST (Tenor)
DIETRICH HENSCHEL (Barítono)
P.S. Notas de programa: A Gulbenkian poderia apenas traduzir as páginas 362 e seguintes do Guia da Fayard da Música Sacra pós 1750. Saía com certeza mais barato e as notas teriam melhor estrutura e seriam mais completas e menos um mero resumo truncado do original francês. "Deísta", "Perfume", "cromatismos audaciosos", e mesmo frases inteiras literalmente traduzidas do francês cheiram a esturro, falta-me a paciência para cotejar, mas tendo lido uma coisa à tarde antes do concerto e as notas depois do mesmo, parece-me tudo muito semelhante, facto que não é novo e por ser repetitivo me leva a referi-lo de novo aqui. A ausência de bibliografia é notória, e deveria ser incluída em casos semelhantes; assim, pelo menos, a coisa não era tão descarada. O coordenador original dos textos do livro da Fayard é François René-Trancheford com colaboração de outros autores. Fayard, Paris, 1993.
Etiquetas: Crítica de Concertos, Dietrich Henschel, English Baroque Soloists, Estações, James Gilchrist, John Eliot Gardiner, Monteverdi Choir, Rebecca Evans
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