11.1.09
Revelações - Confirmações
Em 2008 assistiu-se a algum marasmo no nosso panorama musical. Continuam as temporadas Gulbenkian e da Casa da Música, sendo a primeira muito conservadora nas suas escolhas, mas com elevada qualidade, e a segunda mais inovadora nas suas propostas. É tempo de espectativa, ambas as instituições mudaram de programador, os efeitos nas temporadas far-se-ão sentir a médio prazo, parecendo a Casa da Música manter-se numa certa continuidade. A Orquestra Nacional do Porto afirma-se como a melhor orquestra de formação (de raiz) sinfónica de Portugal e parece ter conseguido assegurar a transição de titular de forma eficaz e com valor acrescentado.
O Teatro de S. Carlos manteve-se a um nível muito baixo: fazer inúmeros concertos de concertina e reco-reco, a par de alguns outros mais meritórios, não é a vocação de um Teatro Nacional de Ópera. Exige-se, isso sim, ópera de qualidade, uma orquestra sinfónica de qualidade e um coro a subir de forma. Milhares de eventos menores podem ficar a cargo de outros programadores e/ou festivais, etc... Com esta direcção artística de Dammann, e apesar de Julia Jones como nova titular da OSP, não se nota evolução significativa. O coro está agora muito pior desde o, mais que discutível, afastamento de Giovanni Andreoli para dar lugar a um mais um homem de Colónia.
O CCB apresentou uma temporada em crescendo. São discutíveis as políticas de formação de preços: uma orquestra de jovens, como a Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por um jovem promissor, mas sem grande currículo na direcção de orquestra, não pode ter o mesmo preço que uma orquestra consagrada dirigida por um maestro de craveira mundial como Marc Minkowsky.
Considero que a aposta na OCM deve ser mantida e, sobretudo, ampliada nos recursos. Uma orquestra de jovens altamente promissores não pode ter apenas dois ou três concertos por ano. O CCB deve investir mais neste projecto de Pedro Carneiro para apurar o estilo e a coesão dos instrumentistas. Alguns concertos iniciais promissores não tiveram neste final de ano a previsível subida de qualidade. O atingir de um patamar mediano não é desejável. Pedro Carneiro e os seus músicos têm muito mais potencial do que o demonstrado. São necessários mais concertos e o convite a maestros de alto nível para ensaiar (uma ideia inicial que parece não se ter mantido) e dirigir esta orquestra a par de Carneiro, senão o projecto ficará condenado à política das boas vontades na habitual estagnação portuguesa.
A restante programação do CCB tem tido momentos de elevada qualidade e algumas desilusões (como o do King Consort). A política de manter agrupamentos residentes, como o Divino Sospiro [conflito de interesse: sou sócio fundador], tem dado projectos com interesse. Apostar na Maria João Pires pode ser interessante mas também perigoso, uma vez que esta pianista pode ser capaz do melhor e do pior.
O CCB deverá de futuro ser mais consistente ao longo do ano e não se concentrar em alguns eventos que esgotam o orçamento.
A Metropolitana perdeu Gabriela Canavilhas e ganhou Cesário Costa. Michael Zilm trouxe momentos de altíssima qualidade que não foram acompanhados por outros maestros estrangeiros como Augustin Dumay. A Orquestra tem valor mas carece de ensaios e de direcções de qualidade. Espero que com Cesário Costa o nível geral aumente. O trabalho da Metropolitana é sério e profissional.
A Culturgest, dispondo de um auditório com fraca acústica, está condenada a uma programação alternativa e, quase sempre, com amplificação. No entanto o lado amplo, inovador e sofisticado da programação, onde predominam muitos elementos post modernos, acaba por ser quase sempre estimulante, quer seja no jazz, na ópera contemporânea, no bailado ou teatro... Gosto muito das conferências e ciclos que esta entidade produz.
Estrearam-se menos óperas em 2008 do que em 2007 [ano de Das Märchen de E. Nunes e W de José Júlio Lopes], assisti a "Um Outro Fim" de Pinho Vargas e gostei muito da música.
Artur Pizarro, para mim, destaca-se como o solista instrumental de maior qualidade em Portugal sem esquecer António Rosado. Na voz mantém-se o seguro Luís Rodrigues como "a rocha" dos barítonos portugueses. Tenho gostado do trabalho de Mário Alves (tenor) e Ana Quintans afirma-se como uma cantora de grande estilo.
Existe também um jovem naipe de cantores e instrumentistas portugueses que se tem vindo a afirmar.
Os problemas são sobretudo estruturais. O Estado não financia a música, a educação pública não dá qualquer valor à música. A população em geral não tem gosto musical o que impede um crescimento apoiado na sociedade civil: sem uma grande base cultural dos seus dirigentes as escolas privadas também não estimulam a aprendizagem musical e as escolas privadas de música são escassas. Os programadores locais e os pequenos festivais têm cada vez menos dinheiro. A crise económica afasta sponsors e as grandes empresas que, lideradas por gente pouco culta na sua esmagadora maioria, não destina quaisquer fundos à responsabilidade social na área artística.
Existe uma massa de jovens que eu prevejo, se o estado das coisas não se alterar, condenado à frustação, ao desânimo e a vegetar economicamente. A emigração, a participação em espectáculos ligeiros e as lições avulsas são quase o único destino destes jovens.
Por outro lado a crítica é pouco estimulante, mortiça, com pouco espaço público e, no meu caso, algo resingona. Em 20009 espero ser mais compreensivo para com os pequenos erros alheios e não usar de artilharia tão pesada para com o trabalho do próximo... veremos se consigo.
O Teatro de S. Carlos manteve-se a um nível muito baixo: fazer inúmeros concertos de concertina e reco-reco, a par de alguns outros mais meritórios, não é a vocação de um Teatro Nacional de Ópera. Exige-se, isso sim, ópera de qualidade, uma orquestra sinfónica de qualidade e um coro a subir de forma. Milhares de eventos menores podem ficar a cargo de outros programadores e/ou festivais, etc... Com esta direcção artística de Dammann, e apesar de Julia Jones como nova titular da OSP, não se nota evolução significativa. O coro está agora muito pior desde o, mais que discutível, afastamento de Giovanni Andreoli para dar lugar a um mais um homem de Colónia.
O CCB apresentou uma temporada em crescendo. São discutíveis as políticas de formação de preços: uma orquestra de jovens, como a Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por um jovem promissor, mas sem grande currículo na direcção de orquestra, não pode ter o mesmo preço que uma orquestra consagrada dirigida por um maestro de craveira mundial como Marc Minkowsky.
Considero que a aposta na OCM deve ser mantida e, sobretudo, ampliada nos recursos. Uma orquestra de jovens altamente promissores não pode ter apenas dois ou três concertos por ano. O CCB deve investir mais neste projecto de Pedro Carneiro para apurar o estilo e a coesão dos instrumentistas. Alguns concertos iniciais promissores não tiveram neste final de ano a previsível subida de qualidade. O atingir de um patamar mediano não é desejável. Pedro Carneiro e os seus músicos têm muito mais potencial do que o demonstrado. São necessários mais concertos e o convite a maestros de alto nível para ensaiar (uma ideia inicial que parece não se ter mantido) e dirigir esta orquestra a par de Carneiro, senão o projecto ficará condenado à política das boas vontades na habitual estagnação portuguesa.
A restante programação do CCB tem tido momentos de elevada qualidade e algumas desilusões (como o do King Consort). A política de manter agrupamentos residentes, como o Divino Sospiro [conflito de interesse: sou sócio fundador], tem dado projectos com interesse. Apostar na Maria João Pires pode ser interessante mas também perigoso, uma vez que esta pianista pode ser capaz do melhor e do pior.
O CCB deverá de futuro ser mais consistente ao longo do ano e não se concentrar em alguns eventos que esgotam o orçamento.
A Metropolitana perdeu Gabriela Canavilhas e ganhou Cesário Costa. Michael Zilm trouxe momentos de altíssima qualidade que não foram acompanhados por outros maestros estrangeiros como Augustin Dumay. A Orquestra tem valor mas carece de ensaios e de direcções de qualidade. Espero que com Cesário Costa o nível geral aumente. O trabalho da Metropolitana é sério e profissional.
A Culturgest, dispondo de um auditório com fraca acústica, está condenada a uma programação alternativa e, quase sempre, com amplificação. No entanto o lado amplo, inovador e sofisticado da programação, onde predominam muitos elementos post modernos, acaba por ser quase sempre estimulante, quer seja no jazz, na ópera contemporânea, no bailado ou teatro... Gosto muito das conferências e ciclos que esta entidade produz.
Estrearam-se menos óperas em 2008 do que em 2007 [ano de Das Märchen de E. Nunes e W de José Júlio Lopes], assisti a "Um Outro Fim" de Pinho Vargas e gostei muito da música.
Artur Pizarro, para mim, destaca-se como o solista instrumental de maior qualidade em Portugal sem esquecer António Rosado. Na voz mantém-se o seguro Luís Rodrigues como "a rocha" dos barítonos portugueses. Tenho gostado do trabalho de Mário Alves (tenor) e Ana Quintans afirma-se como uma cantora de grande estilo.
Existe também um jovem naipe de cantores e instrumentistas portugueses que se tem vindo a afirmar.
Os problemas são sobretudo estruturais. O Estado não financia a música, a educação pública não dá qualquer valor à música. A população em geral não tem gosto musical o que impede um crescimento apoiado na sociedade civil: sem uma grande base cultural dos seus dirigentes as escolas privadas também não estimulam a aprendizagem musical e as escolas privadas de música são escassas. Os programadores locais e os pequenos festivais têm cada vez menos dinheiro. A crise económica afasta sponsors e as grandes empresas que, lideradas por gente pouco culta na sua esmagadora maioria, não destina quaisquer fundos à responsabilidade social na área artística.
Existe uma massa de jovens que eu prevejo, se o estado das coisas não se alterar, condenado à frustação, ao desânimo e a vegetar economicamente. A emigração, a participação em espectáculos ligeiros e as lições avulsas são quase o único destino destes jovens.
Por outro lado a crítica é pouco estimulante, mortiça, com pouco espaço público e, no meu caso, algo resingona. Em 20009 espero ser mais compreensivo para com os pequenos erros alheios e não usar de artilharia tão pesada para com o trabalho do próximo... veremos se consigo.
Etiquetas: Crítica
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