19.11.07
Papa Bento XVI e o artigo de Miguel Sousa Tavares.
O Papa repreendeu os bispos portugueses.
Escrevi aqui uma crítica com alguma paixão, talvez desnecessária, sobre um assunto que fere tantas susceptibilidades e envolve o respeito por crenças profundas: o fenómeno mariano de Fátima. Elogiei o Papa, como homem profundamente sábio, prudente e culto, naquilo que aparenta ser a sua reserva relativamente ao fenómeno. Recebi críticas ponderadas, que aceito com humildade, de alguns leitores.
Dissertei sobre o espectáculo da fé, quando a Fé deve ser, no meu entender, um fenómeno profundo e individual partilhado na comunidade onde o crente se insere, a diocese e a paróquia. Não creio que qualquer ida a Fátima substitua a vivência e a prática diária. Era esse o sentido do meu texto. Fátima interessa-me pouco do ponto de vista pessoal, no entanto diz muito a muitos crentes e esses merecem todo o meu respeito, não havendo qualquer necessidade de lhes chamar analfabetos ou ignorantes... Para mim o único interesse da Fátima é o sentido da caminhada, da descoberta da via, da reflexão interior durante a caminhada, do sentido da peregrinação tão importante para o ser humano. Quando vejo o garrafão do piquenique não descortino sentido de peregrinação, quando observo a autoflagelação gratuita não vejo aí qualquer descoberta ou meditação...
Há mais gente que pensa como eu, nesse mesmo sentido recomendo uma leitura a Miguel Sousa Tavares no último Expresso. Sousa Tavares escreve, com alguma superficialidade, depois da reprimenda de Bento XVI aos bispos portugueses, eu escrevi antes. Creio que o autor exagera ao falar de João Paulo II, embora entenda o seu descontentamento, mas estou totalmente de acordo quando fala de Bento XVI.
Segue o Texto de Sousa Tavares porque os links do Expresso são perecíveis:
Escrevi aqui uma crítica com alguma paixão, talvez desnecessária, sobre um assunto que fere tantas susceptibilidades e envolve o respeito por crenças profundas: o fenómeno mariano de Fátima. Elogiei o Papa, como homem profundamente sábio, prudente e culto, naquilo que aparenta ser a sua reserva relativamente ao fenómeno. Recebi críticas ponderadas, que aceito com humildade, de alguns leitores.
Dissertei sobre o espectáculo da fé, quando a Fé deve ser, no meu entender, um fenómeno profundo e individual partilhado na comunidade onde o crente se insere, a diocese e a paróquia. Não creio que qualquer ida a Fátima substitua a vivência e a prática diária. Era esse o sentido do meu texto. Fátima interessa-me pouco do ponto de vista pessoal, no entanto diz muito a muitos crentes e esses merecem todo o meu respeito, não havendo qualquer necessidade de lhes chamar analfabetos ou ignorantes... Para mim o único interesse da Fátima é o sentido da caminhada, da descoberta da via, da reflexão interior durante a caminhada, do sentido da peregrinação tão importante para o ser humano. Quando vejo o garrafão do piquenique não descortino sentido de peregrinação, quando observo a autoflagelação gratuita não vejo aí qualquer descoberta ou meditação...
Há mais gente que pensa como eu, nesse mesmo sentido recomendo uma leitura a Miguel Sousa Tavares no último Expresso. Sousa Tavares escreve, com alguma superficialidade, depois da reprimenda de Bento XVI aos bispos portugueses, eu escrevi antes. Creio que o autor exagera ao falar de João Paulo II, embora entenda o seu descontentamento, mas estou totalmente de acordo quando fala de Bento XVI.
Segue o Texto de Sousa Tavares porque os links do Expresso são perecíveis:
Bento XVI chamou os bispos portugueses a Roma para lhes dar uma reprimenda exemplar e inesperada: Portugal, segundo o Papa, vai mal de verdadeira fé e de militância católica: muito folclore e pouca substância. Esta foi a resposta que a Igreja Católica portuguesa recebeu ao convite para que o Papa viesse a Fátima para a inauguração da nova (e lindíssima) basílica do Santuário. Menos Fátima e mais Evangelho, respondeu-lhes Bento XVI. Menos multidões nas datas marcadas no Santuário e mais gente nas igrejas e na vida das paróquias.
Sob a chefia de João Paulo II, a Igreja portuguesa viveu anos pacíficos, adormecida à sombra de 'verdades' imutáveis e tranquilas: 95% de baptizados, logo de católicos; um código consistente de direitos e privilégios garantidos pelo Estado e cujo núcleo duro nunca foi posto em causa; e uma crescente reanimação pelo chamado 'culto mariano', que todos os anos arrasta multidões até Fátima, numa demonstração de fanatismo religioso que nada fica a dever às de outras religiões para que costumamos olhar com a sobranceria de quem contempla manifestações de selvagens fanatizados. João Paulo II - provavelmente o pior Papa que a Igreja teve desde Pio XII - era muito dado a essas manifestações de fé colectiva e irreflectida, ampliadas pela televisão e os "media". Verdadeiramente, ele acreditava que, afinal, o reino de Deus era deste mundo e que aqui é que se travava a batalha decisiva: tudo o que lhe cabia fazer, enquanto representante de Cristo na terra, era viajar quanto pudesse, arrastando atrás de si as televisões e as legiões de fiéis.
O Papa Ratzinger é diferente. Ocupou-se da doutrina enquanto Woytila se ocupava da fé. Teólogo, intelectual brilhante, com uma noção da intemporalidade da Igreja que vai muito além dos fenómenos passageiros de histeria de massas, ele sabe que 300.000 peregrinos em Fátima não significam 300.000 cristãos no dia-a-dia da Igreja e das suas próprias vidas. Sabe que há católicos, e a grande maioria, que é capaz de viver 364 dias por ano ao arrepio da moral e dos mandamentos da Igreja e um dia por ano a conquistar a absolvição dos seus 'pecados' numa excursão a Fátima, mais ou menos penosa. E sabe que a fé e a religião são coisas diferentes disso.
Penso que nem mesmo o mais disponível dos católicos é capaz de olhar para o Papa Ratzinger e ver nele o representante de Deus ou o enviado de Cristo a este mundo. Mas, em contrapartida, o seu pontificado é capaz de vir a resultar mais útil para a igreja católica do que os longos anos de papado do seu antecessor. A sua mensagem vai-se tornando progressivamente clara: mais substância e menos aparência.
Etiquetas: Bento XVI, Fátima, Miguel Sousa Tavares
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