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21.9.07

Pavarotti - e a música continua 

Pavarotti: não percebo a colecção de homenagens blogosférias, vídeos fanhosos no you tube, gravações mais ou menos rascas do homem.
Era um gordo que cantava bem, comunicava bem, era um grande cantor de papéis pouco complicados em termos psicológicos e musicalmente simples, ainda que vocalmente impressionantes, tinha uma voz clara e transparente e, de facto, única, mas isso foio há muito tempo. Pavarotti vendeu muitos discos. Cem milhões, segundo afirma Norman Lebrecht no seu livro em que faz a análise post morten da indústria discográfia na sua vertente clássica que, como se sabe, acabou com as majors a venderem fundos e a editarem porcarias como novidades que não interessam nem ao menino Jesus...
Pavarotti não escapou ao péssimo gosto que ostentou a par da sua figura grande de bonacheirão e ao seu profissionalismo nos palcos de ópera: o seu disco de 97, por exemplo (entre outros) é um monte de esterco comercial, autêntica prostituição de uma arte que lhe deveria merecer alguma dignidade, já que foi graças à arte do canto e ao domínio quase perfeito da técnica vocal que Pavarotti conseguiu ser o segundo artista "clássico" a vender mais discos. E não, engana-se o leitor se pensa que o primeiro do ranking foi uma Bartoli, uma Callas ou outro cantor qualquer...
Enfim, morreu uma voz, morreu um homem, lamento a perda mas não me peçam ladaínhas laudatórias. Pavarotti, ao contrário do que se diz, não contribuiu para divulgar o canto lírico e a ópera. Não é com lixo em dueto com o esqueleto do Frank Sinatra, morto e enterrado com catarro e voz roufenha de tabaco mortal, mal desenterrado de umas fitas magnéticas que se leva gente mais ao Ring de Wagner.
A propósito, a obra singular de música "clássica" que vendeu mais foi o Ring do Solti em vinil e CD. Foram mais de 48 milhões de cópias por cerca de quinze horas de música! E não foi preciso nenhum Pavarotti...

Pelo menos acabaram-se os discos da treta e os amigos da treta, como a fraude Bocelli pelo meio, e os concertos da treta com Pavarotti e amigos que não tinha, como nos diz Volpe na sua autobiografia. Volpe foi o último General Manager do Metropolitan antes de Peter Gelb, este último veio da indústria discográfica da qual foi um dos mais dedicados coveiros e cujo único sucesso no sector da música clássica da Sony foi a edição da banda sonora do Titanic.

Pavarotti: o homem que recebeu um milhão de dólares debaixo da mesa pelo 1º concerto dos três tenores, sem os dois outros saberem. Paz à sua alma, a música continua.

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