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7.7.07

Salazar e Sócrates 

Compara-se frequentemente, mas indevidamente, Sócrates com Salazar. Isto acontece na imprensa, em inúmeras conversas privadas, nos meios académicos em geral, em conversas em juris de doutoramente, em anedotas ao almoço entre colegas da universidade onde Sócrates é ridicularizado pela história do curso de engenharia, e aqui no Técnico, onde lecciono, o nível do anedotário é superiormente desenvolvido e onde até se aconselham os alunos a estudar a sério que "isto aqui não é a Independente e os senhores alunos não são políticos para poderem tirar o curso por FAX". É certo que Sócrates e Salazar eram ambos oriundos das berças mas, pelo menos, Salazar tinha um curso superior e um doutoramento, tinha provado na vida profissional uma enorme competência e respeito. Lia muito e era muito culto, gostava de música, é célebre o episódio da Guilhermina Suggia e do seu Cachet. Como ministro das finanças foi brilhante e adquiriu ainda maior prestígio com isso. Como ditador foi sério, não um ditadorzeco da treta cujos apaniguados instauram processos por causa de anedotas, fez uma polícia política à séria, decidiu lutar nas colónias contra os movimentos de libertação, foi coerente até ao fim; algo que também foi motivo de respeito em Cunhal. Salazar teve imensos defeitos, objectivamente, e face à ética democrática de hoje, foi um criminoso. Mas é preciso ter cuidado com as generalizações e o anacronismo: na sua ética e à luz da sua perspectiva, e do tempo em que começou a governar, fazia aquilo que genuinamente acreditava ser o bem do país. Sócrates é um pequeno fruto de anos de salazarismo. Salazarismo que produziu um português médio impreparado, quase analfabeto, muito inculto, com formação académica débil.
O autoritarismo de Sócrates é apenas fruto da insegurança e, ao contrário de Salazar, desajustado da ética democrática que hoje vigora. A forma como distribui os tachos pelos amigos (exemplo Vara), os seus discursos lineares, sem referentes ideológicos ou culturais, a sua oralidade pobre, são apenas reflexos dessa impreparação. Sócrates teve a sorte de nascer em Portugal, um país ainda hoje miserável - por culpa do seu antecessor Salazar - e, sobretudo, miserável ao nível das consciências. Sócrates teve a sorte de saber aproveitar as oportunidades que lhe surgiram. Impreparado, mas determinado, Sócrates andou a exibir habilitações profissionais que não tinha durante anos, o que demonstra os seus complexos: inculto mas susceptível. Temos como primeiro ministro um homem com problemas com a sua realização pessoal, que o levaram a tentar acabar o curso na Universidade mais "à mão" e não na mais prestigiada, quando não tinha a menor necessidade de andar a estudar o betão pré-esforçado, um homem com problemas com o seu percurso académico; incapaz de encaixar críticas e sem cultura democrática. A determinação é boa, o facto de ter Mariano Gago no governo não é mau de todo, mas ter a Maria de Lurdes Rodrigues e Correia de Campo é péssimo. Sócrates, impreparado mas determinado, apoia todos por igual, os que sabem realizar alguma coisa e os que são péssimos. Entretanto tem umas figuras decorativas na cultura e um orçamento miserável para este ministério, que deveria ser um dos pilares do desenvolvimento do país. Mas se Sócrates chegou a primeiro ministro sem precisar de cultura, porque raio precisarão os portugueses de cultura? Analfabetos é que é bom, aqui e tal como no tempo de Salazar. Apesar das diferenças prefiro claramente o ditador de Santa Comba Dão.

Este post surge depois dos casos da DREN e da sua directora, da demissão da Directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho e das inenarráveis declarações de Correia de Campos sobre o assunto, depois de declarações de Maria de Lurdes Rodrigues sobre as repetições de provas a Química, das pressões directas de Sócrates sobre a imprensa, do processo instaurado ao Blogger que denunciou as incongruências do currículo profissional e académico de Sócrates e depois de saber que um governador civil mandou fazer uma investigação a um grupo de 80 a 100 populares que assobiou e "chamou nomes" ao senhor primeiro ministro em Guimarães na semana passada. Note-se também a crescente instrumentalização da RTP cujos noticiários são longas exibições de propaganda governamental do género SEXA esteve aqui e ali e falou acoli para um grupo de bombeiros e inaugurou um fontanário, seguem-se sempre imagens e som...

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