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9.3.07

Jardim das Vozes 

Desligo um pouco da Wagner para comentar o concerto do Jardin des Voix e Les Arts Florissants sob a direcção de William Christie na Fundação Gulbenkian ontem. Um concerto semi-encenado, com entradas, e saídas, dos músicos e cantores ao longo das peças musicais, gestos e movimentos no palco muito sugestivos e de acordo com a música, belíssima aliás, que compunha o programa:

Claudio Monteverdi
Questi vaghi concenti (V Livro de Madrigais)
Io mi son giovinetta (IV Livro de Madrigais)
Biagio Marini
Passacaglia para orquestra
Claudio Monteverdi
Mentre vaga angioletta (VIII Livro de Madrigais)
Orfeu: excertos do Prólogo e Ária da Música
Giacomo Carissimi
Tra pui ripost (Cantata para 3 vozes)
Francesco Cavalli
La Callisto: «Lucidísima face»
Claudio Monteverdi
Lamento de la ninfa (VIII Livro de Madrigais)
Orfeo: «Possente Spirto»
L’incoronatione di Poppea: «Pur ti miro»
Georg Friedrich Händel
Arminio: «Ritorna nel core vezza brillante»
Deidamia: «M’hai resa infelice»
Niccolò Piccinni
La buona Figliuola: «Furia di donna irata»

Georg Friedrich Händel
Rinaldo (versão de 1711): «Vo far guerra»
Joseph Haydn
L´incontro improvviso:
- «Son quest’occhi» (dueto)
- «E in ordine la festa» (sexteto)

Desde o início do século XVII até quase ao dealbar do século XIX, o concerto foi uma sucessão de belíssimos momentos musicais. É evidente que as vozes não eram todas perfeitas, mas a alegria e o estilo dos cantores foram elementos que nos trouxeram a emoção de termos a verdadeira música entre nós. Houve momentos em que as coisas pareciam descair, como no lamento de Orfeo, mas a direcção de Christie, sempre atenta e de qualidade elevada, a extraordinária orquestra de uma coesão e densidade sonoras notáveis, serviram de amálgama que solidificaram o conjunto. E que belo baixo contínuo, com harpa, alaúde, cravo ou órgão, viola da gamba, violoncelo e violone na primeira parte, juntando-se mais três violoncelos e fagote na segunda em substituição da gamba. Um concerto quase com nota vinte na emoção artística e atendendo à juventude do elenco. Gostei muito da voz de Laura Smith, que densidade e corpo vocais extraordinários e ao mesmo tempo que agilidade e segurança nos agudos da ária de ira de Piccini.

Um extra de Rameau, Les Indes Galantes, corou de forma lindíssima um concerto inesquecível. A música antiga tem muitos cantores com estilo e promissores. Kenneth Weiss o autor da concepção do programa e emérito cravista e adjunto de longa data de Christie está de parabéns, infelizmente não esteve no cravo, mas o seu substituto no agrupamento, Benoît Hartoin, esteve brilhante nos solos que efectuou em Handel.

O conjunto era composto de
Laura Smith (Soprano)
Claire Meghnagi (Soprano) Muita musicalidade e equilíbrio vocal.
Francesca Bomcompagni (Soprano) Voz com pouco corpo para música menos antiga e um tímbre algo estridente.
Sonya Yoncheva (Soprano) Muito equilíbrio vocal.
Amaya Dominguez (Meio-Soprano) Belíssimo timbre e expressividade.
Mmichal Czerniawsky (Contratenor) Tem uma voz masculina e bonita, precisa de trabalhar mais as cenas de conjunto.
Juan Sancho (Tenor) Voz interessante, muito encorpada apesar de um físico esquelético, mas ainda muito verde.
Pascal Charboneau (Tenor) Voz bonita, mas a precisar de liamr algumas arestas em momentos mais delicados, sobretudo na ornamentação.
Nicholas Watts (Tenor) Tremeu no lamento de Orfeo, mas não caiu, uma voz com elementos baritonais que ao subir aos agudos mostrou alguma fragilidade, muita musicalidade.
Jonathan Sells (Baixo) Precisava de mais profundidade e potência no repertório mais recente, muito sólido na música mais antiga.

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