10.11.06
Kissin - Um maravilhoso recital desastroso
Programa:
Segunda, 30 Outubro 2006, 19:00 - Grande Auditório da Fundação Gulbenkian
EVGENY KISSIN
Franz Schubert: Sonata Nº 9, em Mi bemol maior, D.568.
Ludwig van Beethoven: Variações sobre um tema original, WoO 80.
Johannes Brahms: Klavierstücke, op.118
Fryderyk Chopin: Andante spianato e Grande polonaise brillante
A minha primeira crítica é, obviamente, para o programa, Kissin viaja por obras menos conhecidas de Schubert (uma sonata pouco madura) e de Beethoven (uma obra técnica e de grande brilho mas sem grande profundidade intrínseca), atinge o clímax musical com Brahms e cai numa obra menor de Chopin para a palma fácil.
É precisamente nesta escolha que reside o lado desastroso e irónico deste recital, raramente vimos e ouvimos ao vivo ou em gravações públicas Kissin ser tão desastrado, errou diversas vezes em Beethoven e faz três erros crassos em Chopin daqueles de fazer saltar da cadeira um surdo insensível à música à altura do Empire State Building. É certo que acordes errados com todas as notas trocadas não fazem um recital, é certo que isso até é divertido num pianista como Kissin, é certo que esses erros têm estimulado o pianista a tocar melhor após o erro, mas também é certo que para o pianista russo e, sobretudo, a sua professora esses erros foram uma mancha negra e que Kissin não terá deixado de ir para o hotel chicotear-se até altas horas da noite... Para mim o lado divertido da questão é que Kissin fez asneiras em obras perfeitatamente dispensáveis e que serviam apenas para abrilhantar a coisa com os dotes do "menino prodígio" que agora já passa da casa dos trinta e que deveria libertar-se das saias envolventes da mãe e professora, persistindo sempre a dúvida se quem toca é a cabeça da professora pelas mãos do robot Kissin...
Voltando ao recital de segunda, é evidente que Kissin ainda não amadureceu o Schubert, no meu entender mal interpretado, de forma mole e sem subtileza. Tecnicamente perfeito, com um touché muito bem esculpido, aparentemente perfeito acabou por não dar vida a uma sonata algo menor na produção de Schubert e muito abaixo das suas últimas sonatas que Sokolov, por exemplo, elevou a um nível interpretativo sem igual.
O Beethoven de fácil efeito correu sob o signo da nota trocada na terceira variação, algo que estimulou o pianista e lhe deu outro fogo, o acorde errado na variação final não eliminou o brilho virtuosístico de Kissin, tivemos aqui os dois lados do recital numa antevisão da segunda parte.
O Brahms já demonstrou outras capacidades, Kissin foi profundo, maduro, para além da perfeição técnica: os pianíssimos, o equilíbrio entre mãos, o legato, tudo isso estava no lugar. Faltou apenos aquilo que a idade traz: um mergulhar profundo na obra mas mantendo a distância crítica. Brahms levava-se muito a sério mas também era irónico em relação a si mesmo, Kissin leva demasiado a sério o Brahms e acaba demasiado crispado na interpretação. De qualquer modo foi o melhor do recital.
O Chopin cheio de fogo e no risco, no limite, foi interessante como peça para a palma final, os erros catastróficos de Kissin foram o elemento que mais me maravilhou e que acentuaram a impressão de que nós também levamos demasiadamente a sério o Kissin.
Extras de Liszt, de um compositor que não identifiquei e de uma transcrição da Carmen. Enfim, obras curtas com uma interpretação da transcrição da Carmen cheia de vitalidade e musicalidade, maravilhoso por fim, o Kissin. E as palmas nunca se fizeram esperar.
Uma nota crítica muito severa: No início da segunda parte um zumbido horrível, fortíssimo, acima dos pianíssimos do piano ecoava na instalação sonora da sala. É tempo de a Gulbenkian ter mais cuidado com estes aspectos que já têm pertubado outros concertos e recitais a par da regulação do ar condicionado que também é sempre descontrolada e que deve ter provocado inúmeras crises de tosse ao longo dos anos além de ter dado pneumonias a alguns melómanos mais decrépitos. Quantos melómanos arcaicos não estariam ainda estre nós se não fosse este tremendo ar condicionado!?
Segunda, 30 Outubro 2006, 19:00 - Grande Auditório da Fundação Gulbenkian
EVGENY KISSIN
Franz Schubert: Sonata Nº 9, em Mi bemol maior, D.568.
Ludwig van Beethoven: Variações sobre um tema original, WoO 80.
Johannes Brahms: Klavierstücke, op.118
Fryderyk Chopin: Andante spianato e Grande polonaise brillante
A minha primeira crítica é, obviamente, para o programa, Kissin viaja por obras menos conhecidas de Schubert (uma sonata pouco madura) e de Beethoven (uma obra técnica e de grande brilho mas sem grande profundidade intrínseca), atinge o clímax musical com Brahms e cai numa obra menor de Chopin para a palma fácil.
É precisamente nesta escolha que reside o lado desastroso e irónico deste recital, raramente vimos e ouvimos ao vivo ou em gravações públicas Kissin ser tão desastrado, errou diversas vezes em Beethoven e faz três erros crassos em Chopin daqueles de fazer saltar da cadeira um surdo insensível à música à altura do Empire State Building. É certo que acordes errados com todas as notas trocadas não fazem um recital, é certo que isso até é divertido num pianista como Kissin, é certo que esses erros têm estimulado o pianista a tocar melhor após o erro, mas também é certo que para o pianista russo e, sobretudo, a sua professora esses erros foram uma mancha negra e que Kissin não terá deixado de ir para o hotel chicotear-se até altas horas da noite... Para mim o lado divertido da questão é que Kissin fez asneiras em obras perfeitatamente dispensáveis e que serviam apenas para abrilhantar a coisa com os dotes do "menino prodígio" que agora já passa da casa dos trinta e que deveria libertar-se das saias envolventes da mãe e professora, persistindo sempre a dúvida se quem toca é a cabeça da professora pelas mãos do robot Kissin...
Voltando ao recital de segunda, é evidente que Kissin ainda não amadureceu o Schubert, no meu entender mal interpretado, de forma mole e sem subtileza. Tecnicamente perfeito, com um touché muito bem esculpido, aparentemente perfeito acabou por não dar vida a uma sonata algo menor na produção de Schubert e muito abaixo das suas últimas sonatas que Sokolov, por exemplo, elevou a um nível interpretativo sem igual.
O Beethoven de fácil efeito correu sob o signo da nota trocada na terceira variação, algo que estimulou o pianista e lhe deu outro fogo, o acorde errado na variação final não eliminou o brilho virtuosístico de Kissin, tivemos aqui os dois lados do recital numa antevisão da segunda parte.
O Brahms já demonstrou outras capacidades, Kissin foi profundo, maduro, para além da perfeição técnica: os pianíssimos, o equilíbrio entre mãos, o legato, tudo isso estava no lugar. Faltou apenos aquilo que a idade traz: um mergulhar profundo na obra mas mantendo a distância crítica. Brahms levava-se muito a sério mas também era irónico em relação a si mesmo, Kissin leva demasiado a sério o Brahms e acaba demasiado crispado na interpretação. De qualquer modo foi o melhor do recital.
O Chopin cheio de fogo e no risco, no limite, foi interessante como peça para a palma final, os erros catastróficos de Kissin foram o elemento que mais me maravilhou e que acentuaram a impressão de que nós também levamos demasiadamente a sério o Kissin.
Extras de Liszt, de um compositor que não identifiquei e de uma transcrição da Carmen. Enfim, obras curtas com uma interpretação da transcrição da Carmen cheia de vitalidade e musicalidade, maravilhoso por fim, o Kissin. E as palmas nunca se fizeram esperar.
Uma nota crítica muito severa: No início da segunda parte um zumbido horrível, fortíssimo, acima dos pianíssimos do piano ecoava na instalação sonora da sala. É tempo de a Gulbenkian ter mais cuidado com estes aspectos que já têm pertubado outros concertos e recitais a par da regulação do ar condicionado que também é sempre descontrolada e que deve ter provocado inúmeras crises de tosse ao longo dos anos além de ter dado pneumonias a alguns melómanos mais decrépitos. Quantos melómanos arcaicos não estariam ainda estre nós se não fosse este tremendo ar condicionado!?
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