<$BlogRSDUrl$>

26.11.06

Elogio Surreal 


Estou feliz: morreu a casca de um poeta. Os poetas não se amortalham em papeis velhos, mesmo que sejam às riscas, não são de meta. Não se amortalham em palavras de circunstância, remoendo epitáfios pífios, os esqueletos caminhantes de velhos poetas.
Iscas surealistas comendo na cama, onde faltam ao pijama. Sobram as listas de poemas e os relambórios de feitos abjectos locutados por senhores circunspectos, contados como façanhas, ilustres projectos.
O poeta velho jazia morto num ponto do caminho há uma eternidade, sem amor, sem maldade, embebido em vinho, perdido do tema, da vida sem destino de poeta sem tino. Morreram os sonhos sem feitio, surreais na ambição, tristes na comoção.
Um poeta velho e rabujento num pijama a cheirar a mijo já não é um poeta, é um escarro surrealista. Morreu a casca de um poeta. Não há funerais gratuitos de iscas moribundas junto de Pires de Grelos, cascas amargas revestidas de pijamas às riscas. O interior que morreu há séculos é hoje um ente vago que voga vazio no interior do vácuo, à luz da vela de um velório amargo, onde vai com selo o deus de Vasconcelos.


Arquivos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?