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25.11.06

Críticas atrasadas II - Dutoit em baixo de forma, Pletnev magistral. 

6 de Novembro de 2006, 21:00, Grande Auditório da Gulbenkian
PHILHARMONIA ORCHESTRA - Bom +
CHARLES DUTOIT (maestro) - Medíocre
MIKHAIL PLETNEV (piano) - Fora da escala

Jean Sibelius: Finlândia, op.26.
Edvard Grieg: Concerto para Piano em Lá menor, op.16.
Piotr Ilitch Tchaikovsky: Sinfonia Nº 5, em Mi menor, op.64.

Uma boa orquestra, metais perfeitos, trompas mágicas, violoncelos impressionantes de beleza sonora e pathos, madeiras boas no conjunto e brilhantes de valores individuais a solo. Primeiros violinos demasiado desfasados para uma formação desta qualidade, mas mostrando grande nível em algumas passagens rápidas na sinfonia de Tchaikovsky.
Um poema sinfónico de Sibelius mal preparado género meia bola e força, Charles Dutoit limitou-se a exibir uma espécie de coreografia desinteressante em cima do pódium, uma géstica encenada ao espelho, mas muito pouco eficaz.
A sinfonia de Tchaikovsky foi tocada pela orquestra apesar de Dutoit, sem um fio condutor e sem uma filosofia interpretativa concreta que não fosse a mera leitura da partitura e um certo esmero com o som. Dutoit pareceu-nos em muito baixa forma, tanto dando entradas atrasado como se esquecendo de as ir dando nos momentos mais cruciais, parece que faltou trabalho de ensaio e que a orquestra tocou como sabe e tem tocado uma sinfonia de repertório. Infelizmente o que eu julgo ser falta de ensaio no local trouxe inúmeros problemas de desequilíbrio sonoro entre as diversas secções com o predomínio excessivo dos metais que, apesar de soarem de forma excessiva, mantiveram sempre uma belíssima sonoridade.
O Concertino demasiado esforçado mas pouco consistente, pareceu-me quase sempre adiantado, o que é um erro grave, estar a par da partitura não significa ter de entrar sempre adiantado, mesmo que imperceptivelmente.
Pletnev foi o contrário de Dutoit, concentradíssimo, meditado, intelectual, interiorizando totalmente a obra de Grieg. Maravilhou-nos com o domínio absoluto da música, com a capacidade de digitar com perfeição e uma clareza ímpar os mais ínfimo detalhes sem fazer esquecer uma tremenda arquitectura de conjunto. Refinadíssimo no toque, usando de forma muito criteriosa o pedal, capaz de uma clareza de articulação fruto não só da técnica mas também do pensamento que enfatiza o que deve enfatizar com uma contenção de uma grande elegância. Pletnev a partir do piano dirigiu mais do que Dutoit, indicando tempos, mostrando como se enunciam as frases, maravilhando-nos com o seu lirismo no andamento lento, dialogando com os instrumentos da orquestra, deu-nos um raro momento que elevou este concerto acima do patamar comum de uma mera aparição de uma "Grande Orquestra Mundial".

Infelizmente não lobrigámos neste concerto um crítico da imprensa semanal que tem por (mau) hábito escutar conversas privadas que não lhe dizem respeito para as colocar, fora de contexto, no seu jornal. Nem só do Baremboim dactilógrafo (em particular e exclusivamente no concerto de Schönberg) vive o universo pianístico ou musical. Evidentemente que Pletnev não carece de críticas na imprensa portuguesa mas fazer uma crítica a Baremboim e esquecer o mestre russo é imperdoável, bola preta...

Ao contrário de outros, que deixaram de ser bons pianistas para enveredarem por carreiras apenas razoáveis de maestros, Pletnev prova que, por força da sua tremenda capacidade e inteligência, consegue ser um maesto de nível elevado sem deixar de ser um pianista de uma categoria superlativa.

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