29.10.06
Pobre piano...
Junte-se um pianista dactilógrafo que já foi uma grande estrela do piano e agora é sobretudo maestro (tendo mais fama do que qualidade), pianista que não tem tocado muito em público ultimamente, com dois rapazes, um deles um jovem violinista ainda muito verde que tem a sorte de ser filho do pianista famoso e um violoncelista quiçá vaidoso em excesso, com uma sonoridade bonita e um tique na mão esquerda que se pode confundir com vibrato mas ainda pouca consistência musical e, talvez, com algum futuro, junte-se um maestro razoável vestido de parka preta, tipo empregado de armazém com guarda pó, e uma orquestra razoável mas que poderia ser muito melhor e, felizmente, ao seu melhor nível. Junte-se um público muito afável, entusiasta mas absolutamente inculto. Junte-se um triplo concerto de Beethoven tocado género meia bola e força e sem muita subtileza, acrescente-se, para demonstrar erudição, um concerto de Schönberg tocado à Alexis Weissenberg, sem a menor inflexão métrica ou dinâmica, a ler um papel em cima do piano e sem dominar, de facto, a obra e termine-se tudo com um exercício de circo do Liszt, escrito para o bravo final e com muito métier, mas sem grande substância, tocado, de novo, no género meia bola e força, e muito bater de pés à mistura, e temos um sucesso. Junte-se mais um Kissin a bater palmas de pé, encantado com a paródia, e a alegria está feita. A vida também é feita destas coisas e o espectáculo até nem foi mau de todo. Sai-se satisfeito e agradado.
Passado um bocado fica-se a pensar:
Mas, no meio disto tudo onde está a música?
Concerto de Daniel Baremboim, amigos e familiares, na Gulbenkian hoje. Escapou o solo de clarinete da solista da Gulbenkian, no segundo andamento do 1º concerto de Liszt, a ensinar ao pianista como enunciar um belíssimo tema, o que o pianista aproveitou para melhorar a sua dicção musical no enunciado feito logo a seguir. Escapou também o terceiro andamento do mesmo concerto de Liszt, que foi um prazer escutar pelo recorte de Baremboim, e que demonstrou, nesse preciso ponto, que pode ser ainda um grande pianista se esquecer o defeito de todo uma carreira: a falta de subtileza.
Passado um bocado fica-se a pensar:
Mas, no meio disto tudo onde está a música?
Concerto de Daniel Baremboim, amigos e familiares, na Gulbenkian hoje. Escapou o solo de clarinete da solista da Gulbenkian, no segundo andamento do 1º concerto de Liszt, a ensinar ao pianista como enunciar um belíssimo tema, o que o pianista aproveitou para melhorar a sua dicção musical no enunciado feito logo a seguir. Escapou também o terceiro andamento do mesmo concerto de Liszt, que foi um prazer escutar pelo recorte de Baremboim, e que demonstrou, nesse preciso ponto, que pode ser ainda um grande pianista se esquecer o defeito de todo uma carreira: a falta de subtileza.
Arquivos
- 11/03
- 03/04
- 04/04
- 05/04
- 06/04
- 07/04
- 08/04
- 09/04
- 10/04
- 11/04
- 12/04
- 01/05
- 02/05
- 03/05
- 04/05
- 05/05
- 06/05
- 07/05
- 08/05
- 09/05
- 10/05
- 11/05
- 12/05
- 01/06
- 02/06
- 03/06
- 04/06
- 05/06
- 06/06
- 07/06
- 08/06
- 09/06
- 10/06
- 11/06
- 12/06
- 01/07
- 02/07
- 03/07
- 04/07
- 05/07
- 06/07
- 07/07
- 09/07
- 10/07
- 11/07
- 12/07
- 01/08
- 02/08
- 03/08
- 04/08
- 05/08
- 06/08
- 07/08
- 09/08
- 10/08
- 12/08
- 01/09
- 02/09
- 03/09
- 04/09
- 07/09
- 11/09
- 02/10
- 03/10
- 03/11
- 04/11
- 05/11
- 06/11
- 09/12
- 05/13
- 06/13
- 07/13
- 08/13
- 09/13
- 10/13
- 11/13
- 12/13
- 01/14
- 02/14
- 03/14
- 04/14
- 05/14
- 06/14
- 07/14
- 09/14
- 01/15
- 05/15
- 09/15
- 10/15
- 03/16