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21.6.06

Bandeira 

Respeito a bandeira nacional. É o símbolo do meu país. No entanto sempre achei a bandeira portuguesa, e nunca confessei isto publicamente, como uma medida da nossa mediocridade actual. Em termos puramente estéticos penso que o verde e o chamado "vermelho rubro" não combinam, o amarelo central com o azul das quinas acrescentam um toque piroso que reflecte a ideia de querer meter tudo no mesmo saco. Representa o espírito tacanho, ignorante e primário dos republicanos de 1910 (e lá me chamarão monárquico apenas por achar que os republicanos de 1910 eram como eram), símbolos vagos sem sustentação prática. Grandes ideais que nunca poderiam funcionar, com serventuários como Afonso Costa, Magalhães Lima, incapazes como Manuel de Arriaga e outros do mesmo tipo. Entre ingénuos, incapazes, corruptos e bandidos escapavam muito poucos e os melhores eram mesmo os ingénuos como José Relvas. Estirpe semelhante à que funcionava em tempos monárquicos e que logo a seguir ao 1910 passou a republicana, a estirpe dos "adesivos", o mesmo género de gente que funcionou e serviu em ditadura, que passou a governar em democracia e continua a governar hoje.

A bandeira foi introduzida em Novembro de 1910. Vejamos o sentido da bandeira, sentido bem contraditório, espelho da confusão mental de quem a instituiu.

O verde republicano (séculos XIX e XX), simboliza o governo pela ciência, o positivismo. O povo atribui o verde à esperança, os mitos sebásticos (de um povo sempre à espera de alguém melhor que, ironicamente, era o pior) adulteram a ideia original dos senhores republicanos.

O vermelho, cor da revolução. Teria a ver com a igualdade, fraternidade e liberdade. De facto o povo atribui esta cor ao sangue derramado, por revolucionários e pelos desgraçados que têm morrido em nome da Pátria e por ideais, mais ou menos obscuros, ao longo dos tempos.

Esfera armilar: emblema monárquico (espante-se a incongruência) que vem dos tempos de D. Manuel I. Simboliza o Mundo e os descobrimentos. Símbolo expansionista e imperialista por excelência costumava ter uma coroa real em cima.

Escudo, símbolo monárquico que vem de Afonso Henriques. Representa a fundação de Portugal por uma monarquia de origem divina consagrada em batalha pela intervenção de Deus e pelas cinco chagas de Cristo. Monarquia e cristandade. Conquistas e vitórias, terras e povos, unidos pelo rei e pela vontade do Senhor dos Exércitos...

Recordo que as primeiras leis de Afonso Costa foram a renovação da expulsão da Ordem Jesuíta e as leis religiosas... A bandeira saiu poucas semanas depois do 5 de Outubro, tem menos de cem anos. Seria tempo de pensar numa bandeira mais de acordo com a nossa história.

Entretanto a bandeira nacional caiu na vulgaridade, serve para penteados, para anúncios comerciais, para utilizações em bikinis, saias e calções. A sua fealdade e a sua origem histórica não justificam o seu abastardamento, apesar de ser incongruente, de representar de certa forma a triste sina de um país que associa hoje as suas grandes realizações com um jogo bárbaro praticado por pessoas que nem sequer acabaram os estudos secundários. Ver personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa (liguei ontem a televisão e lá estava a comentar futebol) entregues ao futebol e ao futebolês é confrangedor; são a elites que caem numa entrega ao gosto fácil e popularucho. Um país sem elites e sem brio que se transformou numa espécie de delírio de veraneantes de segunda em praias de terceira, atrás da República Checa e da Eslovénia. Facto aliás bem natural para quem tem uma bandeira verde e rubra, monárquico – republicana. Cristã e mais do que ateia: anti-religiosa.
Mesmo assim gosto muito do meu país, que se há-de fazer? E acabo, depois de 40 anos, por não achar tão feia a bandeira como quando era miúdo.




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