19.5.06
Sic transit gloria mundi
Artur Pizarro iniciou ontem uma peregrinação notável por Debussy e Ravel, a integral em duas semanas no Teatro S. Luiz, o público foi escasso mas estava altamente concentrado.
Enquanto Pizarro esgota salas por toda a Europa, em Lisboa a sala do S. Luiz estava a um quarto. Incrível mas é verdade.
As razões para esta situação são:
1. Habitual ignorância das "elites" culturais portuguesas sobretudo em cultura musical.
2. Deficiente, diria mesmo péssima, formação musical nas escolas.
3. Predominância do canto lírico, e sobretudo do modelo italiano, nas preferências endémicas das supostas "elites".
4. O facto de haver ainda "melómanos" que consideram Debussy e Ravel compositores demasiado modernos, em alguns casos mesmo "contemporâneos", como tal difíceis...
5. Haver tourada no Campo Pequeno.
6. Haver concerto com uma jovem pianista na Gulbenkian.
7. A imprensa ter deixado de privilegiar a música nas suas páginas. Ao contrário de todos os grandes jornais de países civilizados não existe crítica regular, diária mesmo, não existe formação do público através da escrita inteligente sobre música.
Apesar de existirem críticos sérios e conhecedores os editores dos jornais não têm a menor sensibilidade para as questões da música, não dão espaço a algo que desconhecem profundamente, não têm formação para tal, são basicamente ignorantes e como os leitores não têm exigências neste campo não há problema nenhum. Vivemos com menos formação musical na imprensa do que nos anos vinte quando Vianna da Motta escrevia no Diário de Notícias. Entretanto em concertos de Debussy e Ravel não se encontram os chamados membros das "elites culturais", do "meio literário", da política ou da finança, jornalistas pouco aparecem e até os músicos têm raríssimas aparições na audiência. É claro que se tratasse de uma récita de ópera bufa lá estava uma certa minoria oriunda destes grupos, exactamente como no tempo em que Vianna da Motta condenava a ópera como um dos piores males que assolavam a cultura musical em Portugal.
Mercê de uma cultura musical fraquíssima no país as escolas não têm formação musical. Ao longo dos ciclos iniciais não há professores (existem apenas no 5º e 6º anos) e os pais não têm uma cultura de exigência porque não sentem falta do que não conhecem. Quem decide e faz os programas não tem a menor noção de que existe sequer a música. Assim temos o privilégio de ter um pianista de nível internacional, e não de nível local, num estado de cristalização e excelência das suas capacidades, capaz de uma técnica tremenda e de uma maturidade artística superior, sendo capaz de abordar em seis dias a integral Debussy, Ravel com imaginação, cor e subtileza dignas dos maiores mestres e a sala está às moscas.
Entretanto na Dinamarca e em Londres as salas esgotam. Pérolas a porcos?...
Isto está mau...
Enquanto Pizarro esgota salas por toda a Europa, em Lisboa a sala do S. Luiz estava a um quarto. Incrível mas é verdade.
As razões para esta situação são:
1. Habitual ignorância das "elites" culturais portuguesas sobretudo em cultura musical.
2. Deficiente, diria mesmo péssima, formação musical nas escolas.
3. Predominância do canto lírico, e sobretudo do modelo italiano, nas preferências endémicas das supostas "elites".
4. O facto de haver ainda "melómanos" que consideram Debussy e Ravel compositores demasiado modernos, em alguns casos mesmo "contemporâneos", como tal difíceis...
5. Haver tourada no Campo Pequeno.
6. Haver concerto com uma jovem pianista na Gulbenkian.
7. A imprensa ter deixado de privilegiar a música nas suas páginas. Ao contrário de todos os grandes jornais de países civilizados não existe crítica regular, diária mesmo, não existe formação do público através da escrita inteligente sobre música.
Apesar de existirem críticos sérios e conhecedores os editores dos jornais não têm a menor sensibilidade para as questões da música, não dão espaço a algo que desconhecem profundamente, não têm formação para tal, são basicamente ignorantes e como os leitores não têm exigências neste campo não há problema nenhum. Vivemos com menos formação musical na imprensa do que nos anos vinte quando Vianna da Motta escrevia no Diário de Notícias. Entretanto em concertos de Debussy e Ravel não se encontram os chamados membros das "elites culturais", do "meio literário", da política ou da finança, jornalistas pouco aparecem e até os músicos têm raríssimas aparições na audiência. É claro que se tratasse de uma récita de ópera bufa lá estava uma certa minoria oriunda destes grupos, exactamente como no tempo em que Vianna da Motta condenava a ópera como um dos piores males que assolavam a cultura musical em Portugal.
Mercê de uma cultura musical fraquíssima no país as escolas não têm formação musical. Ao longo dos ciclos iniciais não há professores (existem apenas no 5º e 6º anos) e os pais não têm uma cultura de exigência porque não sentem falta do que não conhecem. Quem decide e faz os programas não tem a menor noção de que existe sequer a música. Assim temos o privilégio de ter um pianista de nível internacional, e não de nível local, num estado de cristalização e excelência das suas capacidades, capaz de uma técnica tremenda e de uma maturidade artística superior, sendo capaz de abordar em seis dias a integral Debussy, Ravel com imaginação, cor e subtileza dignas dos maiores mestres e a sala está às moscas.
Entretanto na Dinamarca e em Londres as salas esgotam. Pérolas a porcos?...
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