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26.5.06

Priceless! 


Ontem em casa de amigos, todos eles estrangeiros com filhos em escolas inglesas, discutia-se o que caberia no conceito de Britishness, segundo eles instilado nas escolas desde a mais tenra idade, independentemente de as mesmas serem privadas, públicas, frequentadas por uma middle ou upper class.


Britishness conteria patriotismo, uma tolerância em relação à diferença do outro que terá começado com a Magna Carta e ter-se-á desenvolvido com o Império e um certo número de regras de comportamento público, social ou profissional que se respeitam sem questionar, núcleo duro que qualquer estrangeiro sem se dar conta absorve e que cimentam civismo, eficiência laboral e estabilidade no trato público. Para não falar de um fundamental understatement, isto é, dizer sempre tão pouco das dificuldades e problemas da vida que as mesmas se reduzem a um cisco no olho.


As regras de comportamento social obrigam ao uso frequente de palavras como sorry or excuse me sempre que se atropela alguém, cheers ou o mais formal thank you por exemplo, da parte das empregadas da British Library que carregam e depositam os livros no balcão para eu os recolher, que podem alternar com sorry for making you waiting.


Um outro exemplo de proper uso para sorry ou excuse me é dado pelo empregado do pub onde petiscamos kebabs que nos atendeu já duas ou três vezes, veste calças retalhadas e memorizou a nossa preferência: sorry for not having kebabs today!


Em matéria de saudações a Britishness requer que sejam abundantes, Hello there, how are you? de preferência informais e que se se estendam para além de duas frases, muitas vezes, num comentário acerca do tempo.
A saudação pode ser lançada mesmo à vizinha que vive na mesma rua e se vê pela primeira vez.


Ao mesmo tempo que reprime o natural egoísmo humano, a Britishness puxa o ser humano para um elevado grau de auto-controlo e de disciplina. Como o demonstrado por um solitariobritish de meia idade e a cair de bêbado que, numa mesa do nosso pub saturado de gente, mal se deu conta que estávamos de pé e de copo na mão, nos ofereceu a mesa, dizendo: I am just leaving.

Posso ainda acrescentar todas as cedências de lugar que se fazem nos autocarros a pessoas idosas, grávidas, mães com crianças ao colo, sem que estas tenham sequer que abrir a boca e a frequência com que o condutor do autocarro, alertado pelos outros passgeiros, abre a porta uma segunda vez para deixar sair uma pessoa que se atrasou.

Incluo o respeito demonstrado nas bichas- de supermercado, multibanco, autocarro- nas quais ninguém se lembra de suspirar ou, por outras tácticas, apressar quem está à frente mas, até se fôr preciso, se oferece uma ajuda para fazer erguer ou baixar do autocarro um carrinho de bébé. Bem como a regra de deixar sair em cada paragem metro quem está dentro da carruagem, antes de se começar a entrar.


E por fim, incluo nessa disciplina e auto-controle a proibição de fazer uma fuss (cena). Um adequado I don t know what to say! sanciona um comportamento que nos aborreceu ou lesou e se a outra parte entende a Britishness compreenderá de imediato o passo em falta e a urgência na reparação.

Priceless!

Clara


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