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3.5.06

Lesne Canta e Encanta 

Il Seminario Musicale
Gérard Lesne (contratenor)

Em torno da família Bach
Johann Michael Bach: Ach wie sehnlich wart’ich der Zeit
Johann Christoph Bach: Wie bist du denn, O Gott
Johann Sebastian Bach:
Sarabande, Bourrées I e II e Gigue da Suite para Violoncelo solo Nº. 3, BWV 1009
Cantata BWV 54 “Widerstehe doch der Sünde“
Johann Michael Bach:Auf laßt uns den Herren Loben
Johann Christoph Bach: Ach, dass ich Wassers gnug hätte
Johann Sebastian Bach: Sonata em Sol Maior, BWV 102
Johann Michael Bach: Es ist ein grosser Gewinn
Johann Sebastian Bach: Cantata BWV 53 “Schlage doch, gewünschte Stunde”

Quem foi ao concerto do primeiro de Maio na Fundação já sabia ao que ia, Lesne já não tem voz a voz que teve, e nunca teve uma grande voz. Por outro lado, os grandes músicos que têm acompanhado ao longo de anos o cantor (como Bruno Cocset e tantos outros) e director provavelmente não viriam a Lisboa, assim foi. Mas a escolha do programa com obras dos primos de Johann Sebastian, algumas notáveis como o lamento Ach, dass ich Wassers gnug hätte, prenunciava um concerto de grande beleza e sensibilidade.

Lesne canta com uma subtileza e uma capacidade de dizer o texto notáveis, domina com maestria o repertório alemão cantando com singular acerto vocal e elegância. Onde falta potência vocal sobra inteligência, refinamento e capacidade de transmitir o sentimento das obras.
O topo da interpretação de Lesne foi precisamente atingido no lamento de Johan Christoph, obra notável pela economia de recursos usados e pelo intenso dramatismo e pathos transmitido. Foi no extra, em que Lesne repetiu o lamento, que mais se sentiu a força da expressividade do cantor nesta música tão requintada e subtil do século XVII.
O agrupamento instrumental com duas violas da gamba, um violoncelo, cravo ou órgão e dois violinos cumpriu sem atingir um alto nível artístico, mas de forma muito profissional, o canto de Gérard Lesne. Dispensáveis as obras instrumentais por músicos que ainda não atingiram grande maturidade e com a 3ª Suite para violoncelo solo amputada, apesar de uma interpretação correcta de Jean-Christophe Marq, nada se acrescentou. O violinista Yannis Roger mostrou uma sonoridade demasiado escolar e imatura, desafinando também q.b., para fazer com grande préstimo a sonata BWV 1021 de Johann Sebastian. Era necessário ter algumas pausas para Lesne descansar e lá se tiveram de ouvir as obras instrumentais.
Um excelente concerto pela cultura e musicalidade de Lesne. Quem foi à Gulbenkian neste final de tarde voltou mais rico.

Nota positiva para o programa que, desta vez, tem informações úteis e não tem incorrecções (que eu tenha detectado).

Bola preta para o sistema de ar condicionado, e quem o regula, do Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. A sala estava gelada, muitas pessoas tiveram de vestir casacos e camisolas. Eu, que estava ligeiramente constipado e sem tosse, saí da sala muito pior e a tossir imenso. No intervalo brincava-se com o assunto mas o tom era de queixa geral. Este final de temporada promete! Creio que terei de levar um sobretudo e cachecol para os concertos de Maio e Junho!

Nota final: o facto de Lesne poder continuar a cantar desta forma tem a ver com a inteligência e a cultura do cantor. No exemplo dos Tallis Scholars na Festa da Música observámos um grupo envelhecido que não soube temperar o seu envelhecimento com esse refinamento da experiência feita e, sem a cultura do entendimento do texto e da música, acaba por ser penoso de escutar.

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