7.4.06
Michael
Michael, 89 anos, nasceu em 1921 em Frankfurt, um homem alto, de mais de um metro e noventa, seco, nodoso. Foi enviado para a frente russa de onde desertou por não conseguir enfrentar as atrocidades do exército alemão, um caso raro ou, segundo ele, nem por isso, passou por terríveis provações até chegar à Prússia Oriental onde se misturou com as vagas de refugiados que fugiam ao exército russo, acabou por fugir num barco para a zona ocidental da Alemanha.
Tinha estudado direito, dominava línguas, tornou-se intérprete junto do exército americano. A sua paixão por música levou-o a trabalhar para diversas salas de concertos para poder ouvir Beethoven, Mozart, Wagner.
Continuou a estudar direito que acabou, tinha estudado piano ainda em casa de seu pai, abastado advogado, a mãe que cantava no coro da Igreja luterana tinha-lhe ensinado os rudimentos musicais, mortos os pais e destruída a casa num bombardeamento, a música era a única recordação da mãe que perdera.
O seu percurso extraordinário levou-o a ser amigo do chefe do naipe de percussão de uma orquestra, Peter, nascido em Breslau cidade alemã que ficara para a Polónia, e que tinha perdido tudo na guerra, incluindo a mulher e os filhos.
Para fazer um concerto em Munique, em 1950, Peter estava preocupado, precisava de um percussionista para tocar apenas algumas notas numa estreia de uma obra de um compositor contemporâneo e não tinha músicos disponíveis. Michael disse que podia tentar, afinal sabia de música e tocar piano, tendo sido um aluno brilhante, infelizmente há mais de dez anos que não via um teclado. Peter contratou Michael para o concerto, o secretário da orquestra concordou, não havia mais ninguém.
A coisa correu bem, Michael no local certo lá deu as pancadinhas no triângulo, que era o único ponto em que eram necessários sete percussionistas em toda a obra.
Mas tomou-lhe o gosto, o maestro era Eugen Jochum, e Michael encantou-se, o maestro gostou e deu os parabéns ao jovem advogado pela calma no momento do ataque! Trabalhava agora como estagiário num advogado de Muniche e nesses anos duros todo o dinheiro extra era bem vindo. Começou a ser contratado mais vezes, passou a tocar celesta (entretanto voltara a tocar piano) e acabou por ser admitido na orquestra como percussionista, um caso único. Soube da gravação de Solti para a Decca da Walküre de Wagner, e acabou em Viena a tocar bigorna por 30 segundos!
Conheci-o numa das minhas viagens, ele já estava reformado, em Bayreuth, a assistir ao festival, sem bilhete ia para a bilheteira às seis da manhã, vestido de cerimónia e obtinha sempre entrada à custa das desistências de última hora. Às quatro da tarde era a récita, era preciso força! Um jovem filósofo alemão que publicou: Musik in der Deutsche Philosophie, e também habitual das bilheteiras de última hora em Bayreuth enviou-me um email, que vi hoje.
Michael morreu, paz à sua alma.
Tinha estudado direito, dominava línguas, tornou-se intérprete junto do exército americano. A sua paixão por música levou-o a trabalhar para diversas salas de concertos para poder ouvir Beethoven, Mozart, Wagner.
Continuou a estudar direito que acabou, tinha estudado piano ainda em casa de seu pai, abastado advogado, a mãe que cantava no coro da Igreja luterana tinha-lhe ensinado os rudimentos musicais, mortos os pais e destruída a casa num bombardeamento, a música era a única recordação da mãe que perdera.
O seu percurso extraordinário levou-o a ser amigo do chefe do naipe de percussão de uma orquestra, Peter, nascido em Breslau cidade alemã que ficara para a Polónia, e que tinha perdido tudo na guerra, incluindo a mulher e os filhos.
Para fazer um concerto em Munique, em 1950, Peter estava preocupado, precisava de um percussionista para tocar apenas algumas notas numa estreia de uma obra de um compositor contemporâneo e não tinha músicos disponíveis. Michael disse que podia tentar, afinal sabia de música e tocar piano, tendo sido um aluno brilhante, infelizmente há mais de dez anos que não via um teclado. Peter contratou Michael para o concerto, o secretário da orquestra concordou, não havia mais ninguém.
A coisa correu bem, Michael no local certo lá deu as pancadinhas no triângulo, que era o único ponto em que eram necessários sete percussionistas em toda a obra.
Mas tomou-lhe o gosto, o maestro era Eugen Jochum, e Michael encantou-se, o maestro gostou e deu os parabéns ao jovem advogado pela calma no momento do ataque! Trabalhava agora como estagiário num advogado de Muniche e nesses anos duros todo o dinheiro extra era bem vindo. Começou a ser contratado mais vezes, passou a tocar celesta (entretanto voltara a tocar piano) e acabou por ser admitido na orquestra como percussionista, um caso único. Soube da gravação de Solti para a Decca da Walküre de Wagner, e acabou em Viena a tocar bigorna por 30 segundos!
Conheci-o numa das minhas viagens, ele já estava reformado, em Bayreuth, a assistir ao festival, sem bilhete ia para a bilheteira às seis da manhã, vestido de cerimónia e obtinha sempre entrada à custa das desistências de última hora. Às quatro da tarde era a récita, era preciso força! Um jovem filósofo alemão que publicou: Musik in der Deutsche Philosophie, e também habitual das bilheteiras de última hora em Bayreuth enviou-me um email, que vi hoje.
Michael morreu, paz à sua alma.
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