<$BlogRSDUrl$>

23.4.06

Desilusões e confirmações 

As duas desilusões até este momento, em concertos escutados por mim, nesta Festa da Música no CCB:

Christophe Coin com solistas do ensemble barroco de Limoges e um oboé péssimo.
Parecia que nem ensaiaram. Uma criança desatou a chorar, é compreensível, ser exposta a tal tormento, talvez o único na sala com sentido crítico! Dupla bola preta... 5 valores em 20...
Tallis Scholars em repertório alemão: Linha vocal agressiva, total ausência de retórica e de ligação entre texto e música, algo essencial na música de Schütz, Praetorius e Bach. Sopranos penetrantes como apitos, vozes masculinas desafinadas, linha uniforme sem surpresa nem engenho, os piores vícios da escola inglesa sem a virtude da pureza do som e da linha, um grupo que aparece francamente envelhecido na sua constituição e na sua visão da música antiga. Muito má dicção, ausência de sibilantes no latim e no alemão. Pronúncia alemã inconcebível, de gargalhada, só num filme do Peter Sellers se encontra uma caricatura assim. Leben pronunciado como Liben, etc, etc, etc... Alegria e tragédia: a mesma entoação a mesma uniformidade interpretativa. Uma seca das antigas. Bola preta. 7 valores...
Tripla bola preta para o público inculto que aplaude tudo o que lhe põem à frente. Péssimo para a qualidade musical e para os próprios músicos. Os bravos histéricos e as palmas de pé para toda a porcaria que se apresenta exactamente da mesma forma para o concerto superlativo ou para o médio. As criancinhas de colo às 23h também se lamentam, a essa hora devem estar na caminha e não a sofrerem num concerto junto com os pais e a fazerem sofrer quem quer escutar música sem berraria. O pior da Festa da Música é a mentalidade de supermercado que se gera. O melhor é mesmo a Música e a Festa em redor da mesma.

As grandes confirmações são (para ser altamente rápido vou dar notas artísticas e técnicas para se entender a minha opinião sem rebuços, depois escreverei um pouco mais sobre cada concerto):
Ensemble Pierre Robert, com Desenclos na direcção. Lições das Trevas de Couperin superlativas. Nota artística 19, nota técnica 18.
Skip Sempé, Julien Martin no flauta de bisel, Josh Cheatham na viola da Gamba.
Nota técnica 18, nota artística 18. Sempé ao nivel 19 no cravo solo em Couperin.
La fenice, na 18, nt 18, no concerto com música inglesa popular e de corte. No concerto com música de Purcell (mais o ensemble vocal de Namur) o grupo atinge o 20 na nota artística e 18 na técnica (e por causa da parte vocal que a parte instrumental esteve ao nível 20). Simplesmente esmagador no conceito e na verdade artística da interpretação da música e na criação do evento do concerto, em tudo o que tem de hipnotismo e magia, misturado com sensibilidade, respeito pelo público, empatia e encenação. Simplesmente mágico. Ninguém deveria perder este ensemble notável.
Rias Kammerchor, Akademie für Alte Music Berlin, Daniel Reuss, Solomon de Handel. nt 17 (solistas irregulares), na 18.
Phillipe Jaroussky, contratenor. Irregular, parece que começou agora a estudar Handel e nota-se falta de maturidade. Timbre feio nas árias de bravura, mostra ainda falta de domínio da técnica nas passagens mais complexas. Nas árias lentas mostra grande sensibilidade e musicalidade, maior domínio e um largo futuro à frente se doseado com cultura. Em Vivaldi, uma ária de lamento, extra programa, foi excelente. Nas árias de bravura é irritante. Resumo: Handel bravura, na 12, nt 13. Handel, árias lentas, na 16, nt 17. Vivaldi na 17, nt 18. Flauta Jean Marc Goujon, um músico de grande carisma, fantástico na técnica, hipnótico na arte. Tocou o Concerto La Notte em pianíssimo do princípio ao fim, mas em infinitos cambiantes, um domínio inconcebível do instrumento e da arte de Vivaldi. Simplesmente inacreditável, o melhor foram as incríveis pausas! na 20, nt 20. Ensemble Matheus muito bom tecnicamente, notáveis os cambiantes do início da abertura de "La Fida Ninfa" nt 19. Jean-Christophe Spinosi, uma espécie de palhaço de batuta na mão, direcção visualmente apalermada e apatetada. Se não existissem ensaios aquilo deveria ser um desastre uma vez que a sua técnica de direcção não é clara nem codificada, é uma improvisação de momices. No entanto toca bem violino (quando larga a batuta) e tem ideias originais: umas vezes saem pérolas, outras desastres. Em La notte foi notável, na abertura de Vivaldi começou perfeito e acabou a tocar de forma imbecil com uns crescendos que não lembram ao diabo, consequência na=14 (anda entre 8 e 19).
Escutei o final do terceiro acto de Saul de Handel, pareceu-me menos equilibrado entre coro e orquestra (neste caso o Collegium Cartusianum é pequeno e o coro grande) do que no concerto do Solomon. Mas escutei apenas 35 minutos o que é insuficiente para uma apreciação mais profunda.
Amanhã há mais.



Arquivos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?