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5.4.06

Concerto no CCB 

Centro Cultural de Belém no Grande Auditório, 5. Abril 2006 pelas 21:00h. Obras de Igor Stravinski:
Feu d'artifice, op. 4 e Le Sacre du Printemps
E de Piotr Ilitch Tchaikovski:
Sinfonia n.º 5 em Mi Menor, op. 64

Maestro Manfred Honeck

Sem fazer crítica exaustiva dou a minha opinião pessoal:

Gostei muito: A orquestra atingiu o máximo apuro técnico possível com esta formação e estes instrumentistas. Belíssimas madeiras, clarinete com grande poesia em Tchaikovsky, bela requinta e clarinetes baixos, fagote sem medo mostrou denodo na entrada da Sagração, restante naipe muito denso a criar texturas muito ricas e belas, flautas, oboés e corne inglês em muito bom plano. Cordas muito esforçadas, primeiros violinos muitíssimo bem afinados e mostrar coesão, belo trabalho dos concertinos actuais. Concertino concentrado e enérgico, chegando ao ponto de conseguir corrigir o seu naipe em erros graves (de tempo, na Sagração). Metais muito bem tecnicamente, alguns ligeiros problemas no solo de trompa no segundo andamento de Tchaikovsky não retiram muito brilho ao primeiro trompa que acabou em beleza. Ouvir o naipe das trompas da OSP é actualmente um prazer, talvez o melhor naipe em Portugal, coesas, equilibradas e nunca em excessos sonoros em que outros incorreram. Trombones e tuba exemplares nas entradas e nos aspectos puramente técnicos. Naipe de contrabaixos muitíssimo bom, belo final do primeiro andamento da quinta de Tchaikovsky. Excelente o entusiasmo global na Sagração. Excelente trabalho na percussão na primeira parte. Os tímpanos estiveram excelentes em todas as obras envolvidas.

Achei razoável: segundos violinos algo inseguros, pizzicatos difusos, sonoridade menos rutilante na Sagração por parte dos trompetes. Cordas em geral coesas mas sem grande energia e com sonoridade relativamente indiferente. Pouca energia nos tutti em toda a secção de cordas em que faltou brilho, a correcção foi aqui a palavra chave. Na Sagração os momentos mais complexos do ponto de vista rítmico foram fracos, pode-se dizer que houve mesmo desacertos graves e tempos completamente à deriva entre as diferentes secções.

Detestei: Excesso sonoro, ruído mesmo, dos trombones em Tchaikovsky. O erro deverá ser do maestro que não teve a percepção do que se ouvia na sala, mas ver as cordas e madeiras com música de grande importância a serem tapadas por notas de acompanhamento nos trombones durante toda a quinta de Tchaikovsky foi altamente desagradável. Quase que dei graças aos céus por o compositor ter deixado o naipe de fora durante grande parte do segundo andamento. Um pizzicato no segundo andamento de Tchaikovsky foi um desastre. Em geral o excesso de sonoridade dos metais (excluindo em geral as trompas) em todo o concerto foi para mim o pior. A bola preta neste aspecto vai para os trombones. Arrogantes e confiantes na sua técnica (o que é bom) e no excesso de dinâmica (o que é péssimo). Na minha opinião arruinaram grande parte das suas intervenções por exagero de zelo sonoro.

Concepção do maestro: tecnicamente muito empenhada, capaz de gerar entusiasmos, motriz e energética mas algo brutal. Pedir-se-ia mais contenção. Não apreciei por aí além a concepção algo agressiva de Tchaikovsky, já em Stravinsky a sua ideia foi mais arrojada e a obra presta-se mais a uma atitude selvagem, é a essência última da obra, de facto. O facto de não ter apurado mais os equilíbrios, as filigranas, os padrões, não lhe tira o mérito de ter extraído grande energia da orquestra no seu todo. O excesso de barulho nos metais retirou encanto ao trabalho de conjunto e é sua falta integral. Entretanto pareceu-me algo complexo nas indicações aos músicos e, talvez por isso, se tenham passado algumas coisas ao lado.

Organização: bola preta para a Frente de Casa que deixou entrar público atrasado durante toda a primeira parte. Os arrumadores chegaram ao extremo de conduzir pessoas aos lugares bem na frente da plateia já durante a cena do sacrifício da Sagração, 40 minutos bem entrados no concerto! Falta de conhecimentos e da cultura de um concerto sinfónico. Simplesmente a lamentar.

Concerto para 13 valores na segunda parte, se esquecermos os desacertos rítmicos na Sagração podemos dizer que um 14 será a nota da primeira parte.
Um concerto apesar de tudo agradável e francamente positivo, muito melhor do que o Futebol...


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