<$BlogRSDUrl$>

1.4.06

Concerto na Gulbenkian 

O concerto de ontem na Gulbenkian, onde pude escutar o concerto de Bruch para violino e orquestra (não escutei a primeira obra por ter chegado atrasado), a sinfonia italiana de Mendelsohn, e o duplo de Brahms para violino, violoncelo e orquestra, contámos com a orquestra Gulbenkian e

Gustavo Dudamel (maestro)
Pinchas Zukerman (violino)
Amanda Forsyth (violoncelo)

Um concerto com lados positivos e negativos:
Em Bruch, Zukerman mostrou uma facilidade técnica extraordinária, uma sonoridade espessa e transbordante, uma energia e um sentimento poderosos. A orquestra esteve coesa, as cordas apresentaram-se muito densas e com uma belíssima sonoridade. Pode-se dizer que houve poesia, sobretudo no segundo andamento, e energia no último.
No caso da sinfonia italiana de Mendelssohn a coisa já não foi tão clara. Por um lado o maestro comunicou entusiamo e energia, por outro lado tratou a obra de forma superficial, o segundo andamento de uma beleza etérea foi monótono e deu-nos uma sensação delicodoce que não deveria estar presente no Mendelssohn como é visto hoje.
Por outro lado o Scherzo foi uma seca, tudo menos um scherzo (significa jogo, brincadeira), tocado de forma lentíssima, apagada, sem brilho, desiludiu. O maestro deve ter tentado criar uma antítese do scherzo com o terrível andamento final, o presto, dificílimo para as madeiras, terrível para flautas e clarinetes, acabou por ter uma leitura fogosa, brilhante mesmo, e aqui Dudamel redimiu-se. Creio que o jovem maestro tem técnica, vigor e energia, sabe-a transmitir, mas por outro lado falta-lhe alguma maturidade. Mesmo no presto notou-se alguma superficialidade. Devo dizer que não gostei também de alguns sforzandi algo excessivos (sobretudo no primeiro andamento da sinfonia italiana).
E a peça de resistência apresentava-se com o duplo de Brahms para violino, violoncelo e orquestra. Um concerto de peso em que a violoncelista se mostrou algo insegura no início, em que os tempos andaram algo desacertados e em que se notou uma visão demasiado agressiva da música de Brahms, quer por parte dos solistas quer por parte do maestro. O pormenor dos sforzandi que em Mendelssohn já tinham sido excessivos tornaram-se aqui quase grotescos. Não gostei em particular das articulações de Forsyth e muito menos do vibrato agressivo. Brahms é um compositor de luzes e sombras onde conta muito a subtileza e a contenção. Sem uma mão madura e forte que dirija este Brahms final, muito sombrio e denso, acabamos por ter uma caricatura. De certa forma foi isso que aconteceu, por muitos bravos que se gritassem no final aos solistas saí da Gulbenkian desconsolado.

P.S. Um extra de Kodály não acrescentou grande coisa para lá da técnica perfeita dos dois solistas.


Arquivos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?