7.2.06
Ciclo "Grandes Asneira em Notas de Programa"
O Ciclo das Grandes Orquestras Mundiais prossegue com o Ciclo das Grandes Asneiras em Programas da Gulbenkian! Ficámos a saber pelo texto apresentado no programa que Dvorak apenas escreveu um concerto para piano passo a citar "escrito onze anos após o Concerto para Violoncelo, em Lá menor, op.53". Isto por solicitação do pianista "Karel Slavkovskych". Neste caso a asneira salta aos olhos, se repararmos nos números de opus, 33 para o piano e 58 para o violoncelo, Dvorak compôs um concerto para violoncelo muito tempo antes, não o concerto em lá menor, mas uma obra que não orquestrou na totalidade depois de ter sofrido um desgosto amoroso por parte da proto destinatária do concerto, este detalhe raramente é mencionado e não tem grande importância para o caso. O que se passa é que o concerto para violoncelo em lá menor foi escrito em 1894-5 e o concerto para piano em sol menor foi escrito em 1876. Como diria o Guterres: "é fazer a conta", e nada tem a ver com onze anos. Ao contrário do que se afirma o concerto de piano nasceu antes do concerto para violoncelo.
Além disso o comentário da "acumulação de efeitos sonoros, muitas vezes enfáticos, não mascara a ausência de surpresas de uma partitura muito convencional" é altamente contraditório com o resto em que se afirma basicamente que o concerto é tudo menos convencional! De facto o concerto de Dvorak para piano e orquestra é uma obra estranha, pouco habitual, uma espécie de sinfonia pianística sem dar muito espaço para exibições para o pianista, sendo altamente complexo em termos técnicos. É precisamente por isso mesmo que não caiu no gosto fácil e convencional de uma burguesia ignorante que ainda hoje vai a salas de concertos e, pelos vistos, escreve as notas de programa.
Faltou ainda a informação preciosa que o concerto foi reeditado por Andras Schiff a partir do fac simile do original autógrafo de Dvorak, uma vez que a edição corrente e usual de Kurz é uma adocicação de gosto fácil e que, finalmente, o concerto está a ser devolvido à sua dimensão original pelo trabalho de Schiff. Aliás uma edição já tocada em Portugal por Filipe Pinto Ribeiro, em 2004, com a Orquestra Nacional do Porto quando o concerto, segundo se julga, foi estreado em Portugal!
Devo dizer que numa primeira audição não gostei do concerto de Dvorak, por razões totalmente diversas das apontadas nas notas de programa, penso que é uma obra difícil e que merecerá uma análise profunda, apesar de uma interpretação que me pareceu irrepreensível de Schiff e da Orquestra de Câmara da Europa (43 músicos) na Gulbenkian, segunda feira, o piano soava mal, e creio que existiu algum desequilíbrio sonoro entre orquestra e piano e uma repetição de ideias temáticas e de soluções harmónicas sobretudo no primeiro andamento, demasiadamente longo. Não faço a menor ideia se estes defeitos são da partitura ou da interpretação ou mesmo se são defeitos. Neste caso não posso fazer uma crítica informada porque não conheço a obra, são apenas impressões de audição que transcrevo aqui, vou escutar a versão de Richter e Kleiber para mergulhar melhor na obra que, apesar da sua estranheza, parece fascinante. Talvez ainda se entranhe...
A discografia é pequena, existe uma gravação histórica com Carlos Kleiber e Sviatoslav Richter (EMI recordings of the century) e uma edição comparada com Ivan Moravec ao piano (versão Kurz) e Radoslav Kvapil (versão original), sempre com a Philharmonia Orchestra numa gravação de 1983. Existe um disco da Naxos com Jeno Jando no piano e Antoni Wit na direcção com a Orquestra Sinfónica de Rádio da Polónia, não sei se haverá mais gravações, provavelmente haverá mas poucas se devem comparar à de Richter e Kleiber que considerava muito este concerto. Segundo o próprio Andras Schiff existe também uma gravação antiga dele próprio mas parece que deseja gravar de novo o concerto com a Orquestra de Câmara da Europa.
O Concerto teve uma sinfonia nº 5 de Schubert a abrir, tocada com simplicidade e linearidade, com belas sonoridades na orquestra e uma 2ª de Beethoven. Esta sinfonia foi tocada de forma irrepreensível, com uma direcção muito viva e apaixonada de Shiff, mais atento aos aspectos poéticos do que propriamente às entradas e à técnica. Articulações perfeitas, sem legato excessivo para uma interpretação de Beethoven. Sonoridade de alto nível, cordas soberbas, sopros não tão perfeitos e trompas muito fanhosas a esborrachar entradas e a dar notas trocadas. Haverá sempre um par de trompas para estragar a perfeição? Uma orquestra com fortes muito belos, com peso e sonoridade mas sempre com elegância e pianos muito aveludados e poéticos.
P.S. Ao pesquisar na Amazon encontrei mais uma gravação com Justus Frantz, Bernstein e a New York Philharmonic.
P.S. 2: Reparei entretanto que a informação relativa ao aspecto mais ou menos convencional e o "enfático", "acumulação de efeitos sonoros" e a "qualidade dos temas desigual" e blá blá blá são cópia literal de um livrinho franciú. A palavra enfático é paradgmática neste contexto tradutivo à la lettre do texto francês..., uma tradução quase literal do Guia da Fayard da Música Sinfónica, sem menção da fonte. Um deslize do autor que nos tem brindado com notas de programa muito razoáveis nos últimos tempos. Neste caso são fraquitas.
P.S. 3: Estou agora a escutar o concerto de Dvorak na versão de Sviatoslav Richter com Vaclav Smetacek na direcção e a Orquestra Sinfónica da Rádio de Praga. Uma gravação ao vivo das Produções Praga - 1966, uma distribuição Harmonia Mundi - Alemanha - 1993. O piano escuta-se muito melhor do que na Fundação Gulbenkian, a captação das cordas é fraca, Richter é mais cartesiano e directo do que Schiff, sendo mais enérgico tem menos finesse, é mais simples sem ser simplório...
Além disso o comentário da "acumulação de efeitos sonoros, muitas vezes enfáticos, não mascara a ausência de surpresas de uma partitura muito convencional" é altamente contraditório com o resto em que se afirma basicamente que o concerto é tudo menos convencional! De facto o concerto de Dvorak para piano e orquestra é uma obra estranha, pouco habitual, uma espécie de sinfonia pianística sem dar muito espaço para exibições para o pianista, sendo altamente complexo em termos técnicos. É precisamente por isso mesmo que não caiu no gosto fácil e convencional de uma burguesia ignorante que ainda hoje vai a salas de concertos e, pelos vistos, escreve as notas de programa.
Faltou ainda a informação preciosa que o concerto foi reeditado por Andras Schiff a partir do fac simile do original autógrafo de Dvorak, uma vez que a edição corrente e usual de Kurz é uma adocicação de gosto fácil e que, finalmente, o concerto está a ser devolvido à sua dimensão original pelo trabalho de Schiff. Aliás uma edição já tocada em Portugal por Filipe Pinto Ribeiro, em 2004, com a Orquestra Nacional do Porto quando o concerto, segundo se julga, foi estreado em Portugal!
Devo dizer que numa primeira audição não gostei do concerto de Dvorak, por razões totalmente diversas das apontadas nas notas de programa, penso que é uma obra difícil e que merecerá uma análise profunda, apesar de uma interpretação que me pareceu irrepreensível de Schiff e da Orquestra de Câmara da Europa (43 músicos) na Gulbenkian, segunda feira, o piano soava mal, e creio que existiu algum desequilíbrio sonoro entre orquestra e piano e uma repetição de ideias temáticas e de soluções harmónicas sobretudo no primeiro andamento, demasiadamente longo. Não faço a menor ideia se estes defeitos são da partitura ou da interpretação ou mesmo se são defeitos. Neste caso não posso fazer uma crítica informada porque não conheço a obra, são apenas impressões de audição que transcrevo aqui, vou escutar a versão de Richter e Kleiber para mergulhar melhor na obra que, apesar da sua estranheza, parece fascinante. Talvez ainda se entranhe...
A discografia é pequena, existe uma gravação histórica com Carlos Kleiber e Sviatoslav Richter (EMI recordings of the century) e uma edição comparada com Ivan Moravec ao piano (versão Kurz) e Radoslav Kvapil (versão original), sempre com a Philharmonia Orchestra numa gravação de 1983. Existe um disco da Naxos com Jeno Jando no piano e Antoni Wit na direcção com a Orquestra Sinfónica de Rádio da Polónia, não sei se haverá mais gravações, provavelmente haverá mas poucas se devem comparar à de Richter e Kleiber que considerava muito este concerto. Segundo o próprio Andras Schiff existe também uma gravação antiga dele próprio mas parece que deseja gravar de novo o concerto com a Orquestra de Câmara da Europa.
O Concerto teve uma sinfonia nº 5 de Schubert a abrir, tocada com simplicidade e linearidade, com belas sonoridades na orquestra e uma 2ª de Beethoven. Esta sinfonia foi tocada de forma irrepreensível, com uma direcção muito viva e apaixonada de Shiff, mais atento aos aspectos poéticos do que propriamente às entradas e à técnica. Articulações perfeitas, sem legato excessivo para uma interpretação de Beethoven. Sonoridade de alto nível, cordas soberbas, sopros não tão perfeitos e trompas muito fanhosas a esborrachar entradas e a dar notas trocadas. Haverá sempre um par de trompas para estragar a perfeição? Uma orquestra com fortes muito belos, com peso e sonoridade mas sempre com elegância e pianos muito aveludados e poéticos.
P.S. Ao pesquisar na Amazon encontrei mais uma gravação com Justus Frantz, Bernstein e a New York Philharmonic.
P.S. 2: Reparei entretanto que a informação relativa ao aspecto mais ou menos convencional e o "enfático", "acumulação de efeitos sonoros" e a "qualidade dos temas desigual" e blá blá blá são cópia literal de um livrinho franciú. A palavra enfático é paradgmática neste contexto tradutivo à la lettre do texto francês..., uma tradução quase literal do Guia da Fayard da Música Sinfónica, sem menção da fonte. Um deslize do autor que nos tem brindado com notas de programa muito razoáveis nos últimos tempos. Neste caso são fraquitas.
P.S. 3: Estou agora a escutar o concerto de Dvorak na versão de Sviatoslav Richter com Vaclav Smetacek na direcção e a Orquestra Sinfónica da Rádio de Praga. Uma gravação ao vivo das Produções Praga - 1966, uma distribuição Harmonia Mundi - Alemanha - 1993. O piano escuta-se muito melhor do que na Fundação Gulbenkian, a captação das cordas é fraca, Richter é mais cartesiano e directo do que Schiff, sendo mais enérgico tem menos finesse, é mais simples sem ser simplório...
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