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23.1.06

Continua o défice ou a eleição presidencial 

A abstenção nestas eleições atingiu 3 milhões e trezentos mil eleitores, Cavaco teve muito menos votos do que isso. O PS já governa com pouco mais de 20% de votos entre os eleitores possíveis. A maioria presidencial, extinta no momento da eleição é certo, corresponde à vontade expressa de apenas 31% dos eleitores possíveis. Existe um gravíssimo défice democrático que no meu entender é mesmo mais grave do que isso, é um défice de regime. Grande parte da população portuguesa vive para além das eleições e do fenómeno político, já não se interessa. Um desencanto perigoso.

Francisco Louçã: num terrível acto falhado, que Freud explicou tão bem, começou a sua declaração dizendo que "contribuiu para a divisão da esquerda..." que declaração fantástica, que gaffe oportuna. Teve menos votos do que o Bloco de Esquerda nas últimas legislativas, para um padre moralista de esquerda foi bom perceber que vale menos do que o seu partido. Teve o que merecia.

Jerónimo de Sousa apontou com razão a vitória de Cavaco: desinteresse do PS, irresponsabilidade de Sócrates. Lutou, valeu mais do que o seu partido nas últimas eleições. Faz falta ao país um homem honesto e que defende os trabalhadores e os desfavorecidos com unhas e dentes. Não cumprimentou Cavaco por ter ganho, chamou-lhe hipócrita. Cumprimento-o por isso, soaria mal ter Jerónimo a saudar Cavaco como Louçã fez. Jerónimo é um homem para quem um político não deve ser hipócrita, talvez por isso não consiga passar dos 9%, ser verdadeiro não rende muito em política para além da luta que trava e da sua consciência. Não acredito que tenha preparação para ser presidente da república mas talvez merecesse mais votos e vai ter mais no futuro.

Soares, um pobre idoso, um homem que não merecia isto, cometeu o erro crasso, nas suas palavras, de se candidatar enganado por Sócrates. Também incapaz de uma palavra para Alegre, muito melhor colocado para derrotar Cavaco do que ele próprio, demonstrou a sua actual falta de condições para ser, de novo, o presidente. Sobretudo um presidente complacente e dependente de quem o escolheu como candidato.
Soares foi desde o início um derrotado pela falta de entusiasmo e participação do PS e da população, acabando nas eleições humilhantemente derrotado depois de afirmações autistas de vitória apenas dois dias antes. Mas Soares, idoso e crédulo, não é o responsável pela sua derrota humilhante, os responsáveis são Sócrates e os homens do aparelho do PS. A verdadeira coragem de Soares deveria ter sido uma desistência a favor de Alegre mas como todos os velhos habituados ao poder e a mandar, desde o tempo do bispo de Gil Blas, não soube reconhecer o momento de se retirar com dignidade e sujeitou-se ao jogo de outros. Teve o que merecia.

Uma palavra para Joana Amaral Dias que foi talvez a pessoa mais empenhada e, talvez, mais enganada, e muito por ela própria. No meio disto tudo, que lição tirará?... Persistirá na asneira de se aliar à decadência do sistema, enganada pelo maquiavelismo socrático? Os próximos tempos dirão se veremos a Joana Dias a receber uma "justa" recompensa do aparelho socialista ou a regressar aos ideais próprios da sua juvenil idade.

Sócrates, deselegante, revanchista, de mau perder, o principal derrotado da noite, mostrou do que é capaz o seu feitio odiento, a sua declaração repugnante não mencionou Alegre, e foi feita apenas para tapar o que o segundo mais votado dizia quando enunciava a sua declaração. Evidentemente o povo não é estúpido, os resultados eleitorais provam a sua impopularidade e a sua forma mentirosa de fazer política, apesar das sondagens imbecis do Expresso feitas por uma empresa pouco credível, como se provou hoje. Sócrates alia a arrogância e deselegância demonstrada com, e sobretudo, impreparação, falta de fair play e incapacidade de engolir uma derrota. Felizmente encontrou pela frente um Manuel Alegre que lhe deu uma lição enorme de cidadania e de tenacidade. A cegueira de Sócrates tirou uma possível vitória à esquerda. Mas difícil de prever por gente tão enquistada nos vícios e tão embrenhada nos aparelhos partidários e em manobras mesquinahs de baixa política. Talvez tenha ganho o candidato melhor para Sócrates, talvez não, esperemos que não...

Alegre não seria um bom presidente, esteve a uma unha negra de derrotar Cavaco, o que aconteceria se passasse à segunda volta, estou quase certo disso. Boa voz e poesia, impreparação, diletantismo, preguiça, vaidade e presunção. Não seria um bom presidente, cheio de verdades absolutas sobre o sistema, incapaz da dúvida política sobre a suas próprias bases, capaz das tiradas mais sonantes mas ao mesmo tempo mais acéfalas que o espírito humano foi capaz de engendrar, recordo a comparação entre o messianismo de Sebastião e o de Sidónio Pais... Não daria um bom presidente, mas foi óptimo para derrotar Sócrates e Soares. Teve o que merecia.

Uma palavra para Cavaco. Parece-me um homem do regime e não espero dele grande coisa.
Será capaz de encarnar uma força transgressora neste regime corrupto e podre? Será capaz de responder aos anseios de vida melhor por parte de quem o elegeu?
Cavaco eleito por sufrágio universal e directo com um programa difícil de cumprir no actual quadro constitucional, como fará para impor as ideias sufragadas agora? Para já: parabéns ao novo presidente.
Todavia creio que é mais um presidente impreparado intelectualmente, inculto, pouco sofisticado, rústico, pouco flexível para lá das boas intenções, teimoso nas suas ideias economicistas, obstinado e obcecado pela estabilidade. O futuro dirá se é apenas mais um para somar à lista das 16 excelssas nulidades que ocuparam a cadeira presidencial até hoje...

Finalmente uma nota para as sondagens que davam colagem (ou vantagem) de Soares sobre Alegre, com resultados finais claramente fora da margem de erro associada ao número de elementos da amostra.
Será que desta vez o Expresso vai rescindir com a empresa que realizou a sondagem?

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