6.12.05
Yo-Yo Bom
Yo-Yo Ma regressou à Gulbenkian a 30 de Novembro para três suites para violoncelo sem baixo contínuo de J.S. Bach.
Escolheu as suites 3, 5 e 6. As duas últimas são no meu entender as mais complexas suites que Bach escreveu para este instrumento, quer pelo difícil equilíbrio entre a forma e conteúdo, quer pela dificuldade técnica pura. Nas danças lentas, Alemande e Sarabande, o ritmo e a pulsação não devem ser esquecidos em detrimento de uma leitura espiritualizada que despreza a barra do compasso. Nos andamentos rápidos, como as Courantes, prefiro uma cadência muito certa, viva e sem empastelamentos que permita "dançar" na obra.
Curiosamente Yo-Yo Ma optou por ler os andamentos lentos de forma muito interiorizada procurando uma transcendência para lá da forma, o que dificultou uma percepção exacta da obra tal como concebida. Ao escrever como escreveu, Bach, homem do início do século XVIII, integrou o conteúdo numa forma muito precisa. Existe uma profunda ligação entre o que quer dizer e como quer dizer. Esquecer o tempo, arrastar numa lentidão exasperante, mesmo que a sonoridade do seu intrumento seja excelente, notas finais e esquecer a pulsação do ritmo de dança subjacente leva a um empobrecimento da obra, por muitas visões transcendentes que se procurem. Resultou uma leitura condicionada por este facto nas suites 3 e 5. Entretanto as courantes destas mesmas suites foram demasiado complexas e empasteladas, Yo-Yo Ma não foi imperturbável num ritmo inflexível e o rubato introduzido dificultou, de novo, a economia da obra.
Nas suites 3 e 5 Ma foi magnífico em termos técnicos, o seu vibrato muito contido e a propósito, enriqueceu com uma subtil ornamentação a textura musical.
Todos os prelúdios, com construções muito mais livres, foram tocados com grande convicção e pathos (barroco); foi um prazer escutá-los.
Os andamentos absolutamente formais como as Gigas finais (muito brilhantes), as Bourrées e as Gavottes, foram tocadas com verdadeiro estilo e de maneira magnífica.
Na suite nº6, escrita para um instrumento a cinco cordas, que se torna dificílima num instrumento moderno, verificou-se um sindroma que se repetiu nos concertos de sexta e de sábado (orquestra Gulbenkian e Kissin), alguns erros de afinação e harmónicos a saltar inopinadamente do instrumento poderiam ter maculado a interpretação, mas Ma catalizou os erros e transformou-os numa humanização da obra, acabou a tocar arrebatadamente, a própria courante desta suite resultou nuito mais convincente do que as anteriores e a sarabande foi belíssima na sua concepção algo esquecida da forma mas arrebatada no conteúdo.
Interessante a forma como interagiu com o público sempre comunicatico.
O público em massa encheu o grande auditório e tossiu impiedosamente, desdobrou papelinhos de rebuçados, ocupou indevidamente lugares que não lhes pertenciam recusando-se a sair quando os legítimos detentores dos bilhetes surgiram, e fizeram tocar telemóveis, bips e relógios. Uma vergonha de público que não merecia os extras, se bem me recordo um desses extras foi uma obra incluída no Silk Road Project e outro foi uma melodia tradicional chinesa.
Um palavra para a infeliz tradução de Silk para Ceda, um erro de palmatória que não se admite numa casa onde os textos deveriam ser revistos com atenção antes de dados à estampa.
Escolheu as suites 3, 5 e 6. As duas últimas são no meu entender as mais complexas suites que Bach escreveu para este instrumento, quer pelo difícil equilíbrio entre a forma e conteúdo, quer pela dificuldade técnica pura. Nas danças lentas, Alemande e Sarabande, o ritmo e a pulsação não devem ser esquecidos em detrimento de uma leitura espiritualizada que despreza a barra do compasso. Nos andamentos rápidos, como as Courantes, prefiro uma cadência muito certa, viva e sem empastelamentos que permita "dançar" na obra.
Curiosamente Yo-Yo Ma optou por ler os andamentos lentos de forma muito interiorizada procurando uma transcendência para lá da forma, o que dificultou uma percepção exacta da obra tal como concebida. Ao escrever como escreveu, Bach, homem do início do século XVIII, integrou o conteúdo numa forma muito precisa. Existe uma profunda ligação entre o que quer dizer e como quer dizer. Esquecer o tempo, arrastar numa lentidão exasperante, mesmo que a sonoridade do seu intrumento seja excelente, notas finais e esquecer a pulsação do ritmo de dança subjacente leva a um empobrecimento da obra, por muitas visões transcendentes que se procurem. Resultou uma leitura condicionada por este facto nas suites 3 e 5. Entretanto as courantes destas mesmas suites foram demasiado complexas e empasteladas, Yo-Yo Ma não foi imperturbável num ritmo inflexível e o rubato introduzido dificultou, de novo, a economia da obra.
Nas suites 3 e 5 Ma foi magnífico em termos técnicos, o seu vibrato muito contido e a propósito, enriqueceu com uma subtil ornamentação a textura musical.
Todos os prelúdios, com construções muito mais livres, foram tocados com grande convicção e pathos (barroco); foi um prazer escutá-los.
Os andamentos absolutamente formais como as Gigas finais (muito brilhantes), as Bourrées e as Gavottes, foram tocadas com verdadeiro estilo e de maneira magnífica.
Na suite nº6, escrita para um instrumento a cinco cordas, que se torna dificílima num instrumento moderno, verificou-se um sindroma que se repetiu nos concertos de sexta e de sábado (orquestra Gulbenkian e Kissin), alguns erros de afinação e harmónicos a saltar inopinadamente do instrumento poderiam ter maculado a interpretação, mas Ma catalizou os erros e transformou-os numa humanização da obra, acabou a tocar arrebatadamente, a própria courante desta suite resultou nuito mais convincente do que as anteriores e a sarabande foi belíssima na sua concepção algo esquecida da forma mas arrebatada no conteúdo.
Interessante a forma como interagiu com o público sempre comunicatico.
O público em massa encheu o grande auditório e tossiu impiedosamente, desdobrou papelinhos de rebuçados, ocupou indevidamente lugares que não lhes pertenciam recusando-se a sair quando os legítimos detentores dos bilhetes surgiram, e fizeram tocar telemóveis, bips e relógios. Uma vergonha de público que não merecia os extras, se bem me recordo um desses extras foi uma obra incluída no Silk Road Project e outro foi uma melodia tradicional chinesa.
Um palavra para a infeliz tradução de Silk para Ceda, um erro de palmatória que não se admite numa casa onde os textos deveriam ser revistos com atenção antes de dados à estampa.
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