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8.12.05

O que deve ser um blogue? 

Deverá um blogue ter orientações estratégicas? Uma linha editorial? Deve ser uma estrada para o sucesso? Posts curtos? Longos? Reflexões metafísicas ou banalidades curtas e engraçadas? Deve ser anónimo ou assinado?
A minha resposta é simples, conheço bem os blogues, acompanhei a sua fundação em massa em Portugal, fazendo pesquisas em 2003 sobre assuntos que se discutiam na imprensa dei com blogues que discutiam a guerra no Iraque, encontrei o blogue do Pacheco Pereira antes de ele assumir que o JPP era mesmo ele, esperei um pouco, hesitei, tinha dois programas de rádio e assistia a muitas dezenas de concertos por ano e recebia centenas de CDs. Na rádio Luna 106.2 fazia um pouco de crítica musical em que explicava minimamente as minhas convicções e explicitava as minhas análises. No entanto privilegiava os grandes acontecimentos, os bons concertos. E todo o lixo que me era dado presenciar? Lia críticas nos jornais de críticos consagrados que sistematicamente passavam esponjas por cima de actuações miseráveis e fraudulentas de artistas que se especializaram a enganar o público, músicos que não estudam, que não ensaiam e que chegam aos concertos e recebem cachets chorudos e vigarizam literalmente quem paga o bilhete e quem produz o concerto. Lia comentários fracos por papas da crítica sem formação musical, algumas vezes corajosos, muitas vezes maldosos, crítica sem objectividade mas com programa. Resolvi abrir um blogue, contar as minhas experiências, dar a minha sincera opinião, guiada sempre pelo princípio máximo da honestidade. Atendendo a que na Rádio Luna a minha voz no momento de abertura do blog era quase única, não quis estar a conotar a imagem da rádio com as minhas opiniões pessoais e não publiquei o meu nome no blogue. No entanto organizei um encontro informal de blogues na Sociedade de Geografia onde apareci com a minha cara e o meu nome, qualquer curioso poderia ter somado dois mais dois uma vez que anunciei neste blogue que o autor era um dos organizadores! Anunciei que o meu nome seria publicado aqui no dia em que a minha colaboração com a Rádio Luna terminasse. Aconteceu quando a Media Capital tomou posse da frequência. Não cultivei o anonimato enquanto tal, em todos os encontros de blogueiros declinei o meu nome e o meu blogue. Entretanto tive aqui amigos a escrever, convidados, alguns anónimos que entretanto foram convidados a deixar de escrever devido à violência verbal de alguns textos. Notório foi o célebre caso do cognome "hipopótamo" aplicado a um clarinetista português, texto que chegou a ser estudado em escolas superiores de música. Por muito divertido que fosse o texto, por muito verdadeiro que fosse, e existem vacas sagradas que nunca foram expostas, o facto de ser anónimo e muito agressivo levou-me a tomar a opção de acabar com textos anónimos aqui de vez. Se algum amigo quiser escrever aqui terá sempre de utilizar o seu verdadeiro nome.
A Clara Cabral saída do blogue "Desejo Casar" continuou a escrever aqui durante alguns meses após o final do seu blog original. Entretanto casou com um nobre alemão que vive em Londres e está feliz, continua os seus estudos em literatura comparada (doutoramento) e não tem tempo para escrever, é uma pena porque a sua escrita era das melhores que passaram pelo Desejo Casar, muito superior a alguns dos seus membros que se notabilizaram e nunca uma revista ou um jornal lhe pegou na escrita e lhe deu uma crónica semanal que tanto merecia ao passo que outros e outras singraram por esse caminho. Continua na coluna da direita.
Um grande amigo meu Marcos Teotónio Pereira, disse sempre que gostava de escrever neste blogue, até para expor as suas ideias políticas muito pessoais que não se enquadram totalmente nas opções políticas do seu partido de sempre, o PP, no entanto creio que nunca escreveu um texto, que me lembre, mas continua na coluna da direita...
Tenho sido o principal animador deste blog que está a caminho das 200.000 visitas. Não é um número elevado para quem abriu portas há mais de dois anos, Nunca me preocupei com a natureza dos posts, nem com os números de visitantes, escrevi yrcypd grandes e pequenos. Critiquei críticos e deixei de o fazer, fiz crítica musical, social e política. Escrevi poesia e textos de viagens. Iniciei projectos que nunca acabei: negação de uma voz por parte em Bach, comparação crítica das várias interpretações das leçons de ténèbres de Charpentier e Couperin. Publiquei bocas. Escrevi textos enormes e textos curtíssimos. Houve alturas em que escrevi muitos posts, longos e curtos, e períodos em que escrevi pouquíssimo. Um dos meus lemas será "poca sed matura" que às vezes não tomo muito a sério quando acabo em longuíssimos e prolixíssimos testamentos. Utilizei liberalmente imagens, em tempos, e hoje ando com preguiça para as colocar. Escrevi como jornalista, fiz reportagem, coloquei entrevistas com o som online, escrevi textos pessoais, como este. O que é facto é que fiz sempre o que me apeteceu, já me apeteceu acabar com o blogue, deixando de escrever pura e simplesmente. O facto de ter uma coluna na FOCUS deu-me um espaço público, que deveria ser semanal mas nem sempre há espaço ou tempo para a escrever, e estive tentado a acabar com o blogue no momento em que comecei a escrever na revista. Mas há sempre algo a dizer mesmo depois de um período de acalmia. Depois da fúria inicial e depois da saturação posterior o blogue começou a ser natural, calmamente natural.
Não sei o que é um blogue, em suma, não sei qual é o formato, escrevo ao sabor do vento e nunca sei se um texto vai ser curto ou se arrasta, como este. Queria abordar a questão dos comentários aqui, mas já desisti, e vou acabar por escrever um novo post sobre o assunto. Apenas uma coisa, tendo 190.000 visitas neste espaço de tempo, e escrevendo pouco como escrevo, penso que terei uma taxa de leitura bem mais profunda do que os blogues que têm mais de um milhão de leitores, geralmente com mais de 5 colaboradores e com uma intensidade de escrita de 30 a 40 posts por dia. Raramente escrevo mais de quatro ou cinco posts por semana... Ao contrário do que esperava este blogue pegou e tornou-se lido, o que era para ser apenas um diário das minhas reflexões sobre poesia, concertos e sobre o mundo em geral, lido por meia dúzia de amigos, acabou por me ultrapassar, o que aliás me irrita um pouco. Ser questionado por aquilo que escrevo nos locais públicos surpreende-me, eu que aqui estou em pijama, à Cesariny (!), barba por fazer e banho por tomar (sempre à Cesariny), no escritório de minha casa, enquanto todos ainda dormem a escrever este texto não penso no alcance público do que escrevo, mas ele existe e isso tem alterado de certa forma o que vou dizendo, uma interacção impossível de evitar...

Conclusão: não sei o que deve ser um blogue mas sei que me recompensa dizer o que se pensa.


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