![](http://bibliosom2.no.sapo.pt/moi.jpg)
9.12.05
O benefício dos erros da trompa
Na passada sexta feira pude escutar um concerto por Eiji Oue, maestro japonês, e por Christian Tetzlaff em violino.
Sexta, 2 Dez 2005, 19:00 - Grande Auditório
Wolfgang Amadeus Mozart, Abertura da ópera Le nozze di Figaro.
Johannes Brahms, Concerto para Violino, em Ré Maior, op.77.
Dimitri Chostakovitch, Sinfonia Nº 5, em Ré menor, op.47.
O concerto iniciou-se por uma deliciosa abertura de Mozart que Oue dirigiu de forma divertida e histriónica, e sempre sem partitura, felizmente o excesso de géstica não se traduziu em menor resposta por parte da orquestra, a orquestea Gulbenkian esteve coesa e ligeira, com acentuação viva e propulsiva e sonoridade bonita. Mozart não será o forte da orquestra mas mesmo assim foi bom de escutar.
Seguiu-se um magnífico concerto de Brahms para violino e orquestra por um jovem alemão, Tetzlaff, substituto de Zimmermann, que surpreendeu por uma qualidade sonora e artística notáveis. A sua presença em palco, a sua força e domínio do instrumento, sempre sonoro e vibrante, a sua capacidade técnica, sempre algo rude mas muito sólida, o seu vibrato expressivo, denso e consistente sem ser intrusivo ou irritante, a sua construção das frases e a sua segurança na técnica e nos tempos dominaram um concerto complexo, melancólico e viril. Tetzlaff foi brilhante na atmosfera deste concerto que é uma das traves mestras do repertório. A orquestra esteve incisiva, consistente, com uma sonoridade muito bela nas cordas, e sabe-se como Brahms pode ser complexo em termos de produção sonora. Apenas os sopros erraram dramaticamente na entrada do segundo andamento com um estertor horrível na nota de entrada, que deveria ser sublime na sua calma melancólica e que saiu totalmente ao lado, infelizmente não me apercebi do instrumento que deu a nota errada mas naquele preciso momento foi uma catástrofe que poderia ter arruinado todo o andamento. Entretanto entradas esborrachadas nas trompas no primeiro andamento e erros graves do primeiro trompa no segundo andamento e no terceiro iam tentando destruir o trabalho magnífico de toda a orquestra.
Na sinfonia de Chostakovitch, uma obra notável de per se, a orquestra e maestro entraram em total sintonia num dos momentos mais elevados a que pudemos escutar na Fundação desde sempre, nunca tinha escutado esta orquestra a este nível, simplesmente brilhante. Quase todos os naipes perfeitos, incisivos, coesos. Tempestividade das entradas, solos perfeitos. O fraseado escolhido por Oue de uma musicalidade arrepiante, o carácter sombrio dos andamentos lentos fortemente contrastado pelo tom sarcástico dos andamentos rápidos, a força e fúria do último andamento, sempre sem exageros sonoros e em grande equilíbrio fizeram da escuta desta sinfonia um momento mágico. Oue domina Chostakovich de forma notável, conhece os seus tempos, os seus humores, as suas dúvidas e incertezas. As reflexões do mestre russo, as autocríticas, os problemas psicológicos, o sofrimento e a angústia, a fúria, o cepticismo. Tudo isso transmitido pela batuta segura e pela memória notável de Oue que não olhou para uma partitura durante todo o concerto. Magnífico.
Uma palavra para o primeiro trompa. Apenas o tal trompa (pouco) mágico tentou destoar quando desmanchou uma passagem muito bela (e aguda) num solo com a flauta e continuou com notas erradas, esborrachadas e entradas fora de tempo, diga-se que tocou com bumper ao lado. Felizmente existe sempre um trompa num mau dia para nos lembrar os limites humanos. Mas é exasperante nunca se saber se naquele solo mais difícil com notas mais agudas o tal trompa não vai arruinar mais uma passagem decisiva, e assim é! Quase sempre que existe um momento mais delicado lá está o trompa a dar cabo de tudo com a sua presença arrogante e angustiante para nós. A segurança já não está no facto de se saber se o trompa vai tocar bem numa passagem complexa ou numa entrada delicada, a segurança está no facto de se saber que em geral corre mal. Se olhar para este blogue e procurar concertos na Gulbenkian é rara crítica em que a trompa não é mencionada pelas piores razões. Quando por acaso corre bem é a sensação, a alegria, cada vez mais rara diga-se de passagem. Urge fazer algo com respeito ao tal trompa...
Se esquecermos o tal trompa tivemos concerto para 18 valores de nota técnica e 19 de nota artística.
É um pouco ridículo dizer como lema do concerto: "Classicismo, romantismo e contemporaneidade." Porque será que uma sinfonia escrita em 1937, e com linguagem claramente tonal, é catalogada na "contemporaneidade"?
Sexta, 2 Dez 2005, 19:00 - Grande Auditório
Wolfgang Amadeus Mozart, Abertura da ópera Le nozze di Figaro.
Johannes Brahms, Concerto para Violino, em Ré Maior, op.77.
Dimitri Chostakovitch, Sinfonia Nº 5, em Ré menor, op.47.
O concerto iniciou-se por uma deliciosa abertura de Mozart que Oue dirigiu de forma divertida e histriónica, e sempre sem partitura, felizmente o excesso de géstica não se traduziu em menor resposta por parte da orquestra, a orquestea Gulbenkian esteve coesa e ligeira, com acentuação viva e propulsiva e sonoridade bonita. Mozart não será o forte da orquestra mas mesmo assim foi bom de escutar.
Seguiu-se um magnífico concerto de Brahms para violino e orquestra por um jovem alemão, Tetzlaff, substituto de Zimmermann, que surpreendeu por uma qualidade sonora e artística notáveis. A sua presença em palco, a sua força e domínio do instrumento, sempre sonoro e vibrante, a sua capacidade técnica, sempre algo rude mas muito sólida, o seu vibrato expressivo, denso e consistente sem ser intrusivo ou irritante, a sua construção das frases e a sua segurança na técnica e nos tempos dominaram um concerto complexo, melancólico e viril. Tetzlaff foi brilhante na atmosfera deste concerto que é uma das traves mestras do repertório. A orquestra esteve incisiva, consistente, com uma sonoridade muito bela nas cordas, e sabe-se como Brahms pode ser complexo em termos de produção sonora. Apenas os sopros erraram dramaticamente na entrada do segundo andamento com um estertor horrível na nota de entrada, que deveria ser sublime na sua calma melancólica e que saiu totalmente ao lado, infelizmente não me apercebi do instrumento que deu a nota errada mas naquele preciso momento foi uma catástrofe que poderia ter arruinado todo o andamento. Entretanto entradas esborrachadas nas trompas no primeiro andamento e erros graves do primeiro trompa no segundo andamento e no terceiro iam tentando destruir o trabalho magnífico de toda a orquestra.
Na sinfonia de Chostakovitch, uma obra notável de per se, a orquestra e maestro entraram em total sintonia num dos momentos mais elevados a que pudemos escutar na Fundação desde sempre, nunca tinha escutado esta orquestra a este nível, simplesmente brilhante. Quase todos os naipes perfeitos, incisivos, coesos. Tempestividade das entradas, solos perfeitos. O fraseado escolhido por Oue de uma musicalidade arrepiante, o carácter sombrio dos andamentos lentos fortemente contrastado pelo tom sarcástico dos andamentos rápidos, a força e fúria do último andamento, sempre sem exageros sonoros e em grande equilíbrio fizeram da escuta desta sinfonia um momento mágico. Oue domina Chostakovich de forma notável, conhece os seus tempos, os seus humores, as suas dúvidas e incertezas. As reflexões do mestre russo, as autocríticas, os problemas psicológicos, o sofrimento e a angústia, a fúria, o cepticismo. Tudo isso transmitido pela batuta segura e pela memória notável de Oue que não olhou para uma partitura durante todo o concerto. Magnífico.
Uma palavra para o primeiro trompa. Apenas o tal trompa (pouco) mágico tentou destoar quando desmanchou uma passagem muito bela (e aguda) num solo com a flauta e continuou com notas erradas, esborrachadas e entradas fora de tempo, diga-se que tocou com bumper ao lado. Felizmente existe sempre um trompa num mau dia para nos lembrar os limites humanos. Mas é exasperante nunca se saber se naquele solo mais difícil com notas mais agudas o tal trompa não vai arruinar mais uma passagem decisiva, e assim é! Quase sempre que existe um momento mais delicado lá está o trompa a dar cabo de tudo com a sua presença arrogante e angustiante para nós. A segurança já não está no facto de se saber se o trompa vai tocar bem numa passagem complexa ou numa entrada delicada, a segurança está no facto de se saber que em geral corre mal. Se olhar para este blogue e procurar concertos na Gulbenkian é rara crítica em que a trompa não é mencionada pelas piores razões. Quando por acaso corre bem é a sensação, a alegria, cada vez mais rara diga-se de passagem. Urge fazer algo com respeito ao tal trompa...
Se esquecermos o tal trompa tivemos concerto para 18 valores de nota técnica e 19 de nota artística.
É um pouco ridículo dizer como lema do concerto: "Classicismo, romantismo e contemporaneidade." Porque será que uma sinfonia escrita em 1937, e com linguagem claramente tonal, é catalogada na "contemporaneidade"?
Arquivos
- 11/03
- 03/04
- 04/04
- 05/04
- 06/04
- 07/04
- 08/04
- 09/04
- 10/04
- 11/04
- 12/04
- 01/05
- 02/05
- 03/05
- 04/05
- 05/05
- 06/05
- 07/05
- 08/05
- 09/05
- 10/05
- 11/05
- 12/05
- 01/06
- 02/06
- 03/06
- 04/06
- 05/06
- 06/06
- 07/06
- 08/06
- 09/06
- 10/06
- 11/06
- 12/06
- 01/07
- 02/07
- 03/07
- 04/07
- 05/07
- 06/07
- 07/07
- 09/07
- 10/07
- 11/07
- 12/07
- 01/08
- 02/08
- 03/08
- 04/08
- 05/08
- 06/08
- 07/08
- 09/08
- 10/08
- 12/08
- 01/09
- 02/09
- 03/09
- 04/09
- 07/09
- 11/09
- 02/10
- 03/10
- 03/11
- 04/11
- 05/11
- 06/11
- 09/12
- 05/13
- 06/13
- 07/13
- 08/13
- 09/13
- 10/13
- 11/13
- 12/13
- 01/14
- 02/14
- 03/14
- 04/14
- 05/14
- 06/14
- 07/14
- 09/14
- 01/15
- 05/15
- 09/15
- 10/15
- 03/16