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17.12.05

Kissin 

Crítica brevíssima ao recital de Kissin na Gulbenkian.

Assisti ao recital de Kissin, devo dizer que foi um Kissin debitador de notas na primeira parte, com Beethoven perfeito, exacto. Um touché impressinante e uma clareza magistais sem uma única falha, as duas mãos perfeitas e um pedal também perfeito. Irritou-me a segurança sobre humana de Kissin que me impediu de perceber a concepção das obras. Erro meu que admito sem problemas. Deixei-me irritar e perdi todo o sentido crítico ao observar o boneco inperturbável de Kissin a subir e descer a sua cabeleira sobre o piano. Devia ter fechado os olhos!

Na segunda parte tudo foi diferente, quatro scherzos de Chopin tocados por ordem cronológica mas em decrescendo de génio os dois primeiros são espantosos e os meus preferidos de longe de toda a obra de Chopin, os dois últimos são mais elaborados mas recorrem a tiques irritantes que são clichés em Chopin, são peças mais de artífice do que de artista: o acorde violento com a escalinha a seguir... Kissin tocou ao ataque, de forma poderosa e máscula, sem arrebiques e tiques nevrótivos. Um erro quase catastrófico no enunciar do tema do segundo scherzo arrebatou Kissin que ficou literalmente em estado de fúria romântica (pelo menos assim pareceu) e o acordou da letargia correcta, vertiginosa e debitadora de notas; Chopin assim dá gosto ouvir e outro ligeiro erro (três no total do concerto, dois nos scherzos e um nos extras), humanizaram radicalmente o recital. Kissin acabou em estado de arrebatamento e de esgotamento sem jogar à defesa e fez um recital que não foi limpo mas foi muito bom.
Recordo os extras: um estudo de um compositor russo de que não me recordo o nome, um estudo de Chopin e a célebre polaca que todos tocam mal e que Kissin tocou demasiadamente bem, mesmo com a nota esmagada no meio.


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