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9.12.05

Como é possível? 

É extraordinário como em duas semanas assisti pela mesma formação a um concerto magnífico de musicalidade e de força, de carisma e de segurança musical (com alguns defeitos é certo) e como ontem assisti à maior seca e à interpretação mais abominável de uma sinfonia a que assisti em muito tempo, além de um concerto para piano que só a muito custo passa de um aglomerado de notas, sem grande interesse musical. Refiro-me bem entendido à orquestra Gulbenkian e aos dois concertos habituais de quinta e sexta. Na semana passada com Eiji Oue, um japonês e grande maestro e ontem por:

Leonard Slatkin apresentado como maestro, mas deve ser mentira, parece que aprece nos proms, mas deve ser um sósia.
Michel Camilo, marterizador de pianos.
O programa consistia em:
Johannes Brahms, Abertura Académica, op.80.
Michel Camilo, Concerto para Piano e Orquestra.
Antonín Dvorák, Sinfonia Nº 6, em Ré Maior, op.60

Deixo o melhor para o fim, escreverei outro post sobre o assunto, de modo que abordo já o abominável concerto de ontem. Primeiro uma empastelada e monótona abertura académica de Brahms, entradas erradas esborrachadas, acentuações vagas, em vez das belas melodias bem enfatizadas de Brahms escutámos um nhâ nhâ nhâ inenarrável. Mal ensaiado, mal dirigido, insuportável.
Seguiu-se um pseudo concerto para piano e orquestra de Camilo, tendo como solista o próprio, himself. Uma banalidade total, linguagem ultrapassada, barulho infernal, tónica e dominante? Dominante e tónica? Uns acordes de sétima à la Jazz e muita barafunda de notas no piano com escalas e harpejos em todos os momentos possíveis e imagináveis. Tentei dormir no andamento intermédio, a única coisa útil que se poderia fazer, mas nem isso consegui, um toque de telemóvel que tocava insistentemente melhorou bastante a obra numa passagem mais delicodoce mas acordou-me. Que maçada. O público muito atento e sem muitas tosses e rebuçados adorou, vitoriou e obrigou o toureiro dominicano a mais uns passes de faena com umas habilidades ruidosas e barulhentas como extra. Deplorável, orquestra dentro da medida do concerto, vaga, imprecisa e fora da linguagem do mesmo. Camilo para esquecer, volta hoje à tarde à Fundação.
Veio a sinfonia de Dvorjak, a desgraça aumentou o que parecia impossível, som feio, pouco coeso e entradas incrivelmente desunidas, o final do primeiro andamento um descalabro total com os sopros nos três acordes suaves que precedem o final do andamento a entrarem em horrendas cascatas desfasadas. Diga-se que a interpretação do maestro foi totalmente desinspirada, desinteressante, banal e sem a menor musicalidade. A orquestra esteve francamente mal. Fiz algo que raramente faço, não aguentei a tortura e saí a meio do Dvorjak. Ficar naquela sala seria insuportável, uma espécie de sequestro musical. Uma espécie de leitura à primeira vista piorada por músicos e maestro nos ensaios. Uma sinfonia para encher o programa e para despachar? Um concerto muito mau, diria mesmo: um dos piores de todos os tempos a que assisti na Gulbenkian, muito abaixo dos piores momentos de Claudio Scimone...
Orquestra ainda por cima composta em termos de orgânico: 6 contrabaixos e 8 violoncelos, algo raro na Gulbenkian. A concertino o regressado Rowlands que manifestamente é mau para o lugar, outro concertino teria assumido o trabalho que o maestro foi incapaz de realizar, sonoridade dos violinos foi pouco coesa, desgrenhada, feia, pouca segurança e musicalidade geral fraca.

Concerto para 6 valores de nota técnica e 2 valores de nota artística.

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