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22.11.05

O cadáver adiado 

Um cadáver adiado que procria, assim falou Fernando Pessoa (ver poema no final do post). No caso do Blog-de-esquerda pode-se dizer que foi passando de cadáver adiado que procria, que o foi desde há alguns tempos, a cadáver adiado acabando agora por ser apenas cadáver com certidão de óbito adiada. Espero apenas que não fique putrefacto antes de ser declarado oficialmente morto, o que me parece ser um risco claro, mas pouco grave, em face do estado final a que chegou.
Custam-me as longas separações, as agonias lentas, nada melhor do que uma morte rápida sem lamechices. E como aquilo já está mesmo morto todas as lamentações sabem a lamento de carpideira falsa. Morte anunciada só a do Garcia Marques que por ser um génio a transformou em vida.
Gostava que esta morte anunciada se transformasse de novo em vida. É pena que a qualidade de José Mário Silva, meu antigo vizinho do andar de cima, e de seu irmão, se tenha misturado com qualidade avulsa, esparsa ou mesmo nula de muitos dos seus colaboradores de blogue. Olhar para aquilo hoje mete um pouco de dó, quando se compara com os tempos áureos do Blog de Esquerda, percursor e inspiração para os blogueiros dos primeiros tempos aos quais me orgulho, também, de pertencer.

Infelizmente os melhores blogues vão acabando por uma razão ou outra, alguns por insurgências internas, outros por perda do domínio da criatura, outras por desalento e apatia. O Blog de Esquerda foi um dos melhores blogues portugueses, era consistente e nunca pretendeu assumir-se como uma espécie de líder cor de rosa da blogosfera lusa, nunca foi uma fraude, isso era interessante. Mesmo na sua propositura alinhada e maniqueísta (alheia a José Mário Silva) final, sempre foi honesto. É pena este final.

D. SEBASTIÃO
Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?



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