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24.9.05

Wotan ainda não morreu? O Crepúsculo continua... 

Depois do jovem Wagner ter sido morto pelo Wagner maduro, quer pelas desilusões quer pelo pessimismo de Schopenhauer encontrado algures num mundo como vontade de representação, morto Siegfried, o jovem Wagner, o revolucionário, Wagner fica só, no seu teatro, com o seu génio e a sua corte. Nietsche foi-se embora, também ele um Siegfried que se desilude e se transforma num Wotan crepuscular na sua insanidade terminal de dez anos, treponema pallidum, negação e confirmação dos mestres: Schopenhauer e Wagner. Licht Alberich, Alberich luz contra o Alberich das trevas, dois lados do mesmo Wagner, se pensarmos que Licht Alberich é Wotan, tal como se apelida o próprio a propósito de si mesmo, e que o Wagner maduro é o Wotan, W em lugar do O de Odin, que se retira voluntariamente para o seu crepúsculo eterno, então Alberich o Nibelungo será o quê?
Todos os heróis morrem para sobrar apenas Erda, Woglinde, Wellgunde e Flossihilde e umas Nornas desamparadas, também elas crepusculares. Quando Hagen grita Zurück von Ring, estranhas palavras para encerrar um ciclo, e se suicida, quem é que morre afinal? Quem se retira? Quem se reencontra? Quem se anuncia ao quinto, conclusivo, depurado e último, enunciar do tema da esperança ou redenção? Já escutado duas vezes, segundos antes e duas vezes enunciado na Walküre. Alberich o lado negro de Wotan está vivo? O seu filho Hagen morreu, o seu ódio extingue-se, também crepuscular, no retorno do ouro ao seu legítimo proprietário: O Reno. Reno que lava as margens... Wotan está vivo no tema da redenção, Wagner está vivo na sua música, e reina a esperança acima de todas as coisas. Fecha-se um ciclo mas estamos mais ricos, aprendemos numa viagem mágica pela nossa condição e por dentro de nós. Alberich o negro dissolveu-se no inominável, na vontade que é a razão da ética, deste Wotan resta uma redenção pela ausência, atingiu o Nirvana, atingiu o supremo bem ético, a redenção afinal da sua turbulenta existência...
Mas os sonhos de Siegfried não podem morrer, são o princípio lógico e raiz da caminhada para a ausência e da fusão com a vontade, não podemos ceder ao pessimismo total e niilista, o mundo é de Siegfried e Wotan está encerrado no seu destino, mas sobram os homens que ainda o contemplam e o exigem de volta a cada dia que passa. Aspirando ao mesmo Nirvana?
Que nos queria Wagner dizer com este tema?


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