24.9.05
Início da temporada no S. Carlos
Iniciou-se o ciclo das nove sinfonias de Beethoven no S. Carlos. Cremos que é boa política, percorrer de forma sistemática o repertório e sedimentar formas e estilos. A OSP precisa de corpo e alma.
O concerto de ontem com Donato Renzeti foi razoável, dentro do médio, ou seja ao melhor possível dentro da actual situação da OSP. Sem sala de ensaio, usa o Salão Nobre do Teatro Nacional de Ópera, os músicos não têm condições de trabalho, não há salas de trabalho ou gabinetes de estudo, os ordenados são baixos e os músicos não são propriamente os melhores do mundo, nem isso seria possível. Os instrumentos têm qualidade mediana e, sobretudo nas cordas, isso sente-se na audição das obras...
Umas breves palavras sobre o concerto: a interpretação da 1ª sinfonia, em dó maior, de Beethoven, op. 21, foi muito mastigada e pouco ágil. Parecia que os músicos estavam presos, sobretudo nas cordas, inadmissível o número de notas trocadas nos violinos e o medo com que se abordavam as passagens mais difíceis (que não são complicadas), o que se traduzia por uma invariável redução sonora, quase como que um buraco que se abria, por outro lado as terminações das frases acabaram muitas vezes em perda. Os tímpanos estavam a um nível sonoro demasiado elevado em algumas passagens, provavelmente pela pouca habituação à nova concha acústica, concha que resulta muito agradável e melhora consideravelmente a acústica para concerto.
Digamos que estivemos ao nível 11 nesta sinfonia de Beethoven, Renzeti não pareceu empolgar muito os músicos e o novo concertino, parece que foi convidado para este ciclo, não impressionou vivamente. O primeiro andamento, Adagio Molto, Allegro com brio, foi demasiado adagio e com pouco brio, o Andante Cantabile com moto, foi mais andante do que com moto e foi poco cantabile e muito arrastabile, o menuetto, allegro molto e vivace, foi agradável mas poderia ser mais vivace e o final Adagio - Allegro molto e vivace, foi muito inseguro e diria mesmo triste em vez de allegro. Notou-se cuidado na afinação mas também muito medo e pouco entusiasmo.
Estávamos deste modo com muito poco moto para a segunda parte, com a Eroica, o nosso heroísmo para suportar o concerto não era muito e no intervalo deambulámos algo deprimidos e maledicentes, defeito bem nosso e que temos de corrigir. No entanto a coisa foi melhorando. Provavelmente mais habituados à linguagem mais elaborada de Beethoven, e com mais prática e ouvido nesta obra, a sinfonia op. 55, em mi bemol maior, a terceira do mestre de Bona, foi mais precisa, mais briosa no seu allegro con brio inicial. O seja houve mesmo sinal mais, ou não teria usado a palavra tantas vezes! A marcha fúnebre foi demasiado arrastada por Renzeti, se a orquestra tivesse outra untuosidade nas cordas ou outro pathos na interpretação, o tempo estaria bem, mas assim tornou-se arrastado e inconclusivo, um adagio demasiado assai para o nosso gosto. O scherzo, com algumas falhas ligeiras, foi um momento de alegria com um delicioso trio em que as trompas nos divertiram com passagens de cor e brilho campestre tudo rematado com um Finale, allegro molto, poco andante e presto, vivo e com heroísmo q.b. em que até o andante foi rico e inspirado, com um presto culminante que empolgou a meia casa que compareceu à chamada neste início de época.
Na segunda parte as sonoridades saiam mais equilibradas, as cordas agudas menos tensas e com menos erros, mas mantendo alguns buracos sonoros no final das passagens, gostámos em particular do naipe de violoncelos e dos contrabaixos, as próprias violas estiveram bem. A 1ª flauta que nos havia decepcionado na primeira parte esteve bem melhor na segunda, bem como o 1º oboé, o clarinete esteve sempre bem na articulação e na técnica mas já o ouvimos com uma sonoridade mais cheia e aveludada, talvez tenha tentado ir ao encontro do instrumento alemão do tempo de Beethoven. O fagote foi muito expressivo e incisivo, com denodo atacou com sonoridade cheia as passagens em que contracena com as cordas enriquecendo com o seu timbre a textura orquestral. Metais bem e trompas com presença (começo a achar que este naipe da OSP é bem melhor que o da Gulbenkian que se tem mostrado muito fraco ultimamente), tímpanos à procura da potência sonora correcta o que é difícil porque estão junto do fecho da concha acústica onde a reflexão sonora é maior, creio que deve ser muito difícil para o instrumentista perceber como chega o som ao público, mas muito exactos na Eroica (menos na primeira sinfonia).
Um Renzeti vivo e em cima da partitura cantarolou mas não empolgou na primeira parte uma orquestra anémica, conseguiu extrair mais frutos do seu trabalho na Eroica. Segunda parte para 13 valores, num concerto que se tornou agradável com o seu decorrer. Espera-se melhor para hoje e um crescendo de forma nos próximos concertos deste ciclo de aquecimento inicial.
Boa temporada é o que se deseja à orquestra e ao Teatro para bem de quem escuta e da cultura portuguesa.
O concerto de ontem com Donato Renzeti foi razoável, dentro do médio, ou seja ao melhor possível dentro da actual situação da OSP. Sem sala de ensaio, usa o Salão Nobre do Teatro Nacional de Ópera, os músicos não têm condições de trabalho, não há salas de trabalho ou gabinetes de estudo, os ordenados são baixos e os músicos não são propriamente os melhores do mundo, nem isso seria possível. Os instrumentos têm qualidade mediana e, sobretudo nas cordas, isso sente-se na audição das obras...
Umas breves palavras sobre o concerto: a interpretação da 1ª sinfonia, em dó maior, de Beethoven, op. 21, foi muito mastigada e pouco ágil. Parecia que os músicos estavam presos, sobretudo nas cordas, inadmissível o número de notas trocadas nos violinos e o medo com que se abordavam as passagens mais difíceis (que não são complicadas), o que se traduzia por uma invariável redução sonora, quase como que um buraco que se abria, por outro lado as terminações das frases acabaram muitas vezes em perda. Os tímpanos estavam a um nível sonoro demasiado elevado em algumas passagens, provavelmente pela pouca habituação à nova concha acústica, concha que resulta muito agradável e melhora consideravelmente a acústica para concerto.
Digamos que estivemos ao nível 11 nesta sinfonia de Beethoven, Renzeti não pareceu empolgar muito os músicos e o novo concertino, parece que foi convidado para este ciclo, não impressionou vivamente. O primeiro andamento, Adagio Molto, Allegro com brio, foi demasiado adagio e com pouco brio, o Andante Cantabile com moto, foi mais andante do que com moto e foi poco cantabile e muito arrastabile, o menuetto, allegro molto e vivace, foi agradável mas poderia ser mais vivace e o final Adagio - Allegro molto e vivace, foi muito inseguro e diria mesmo triste em vez de allegro. Notou-se cuidado na afinação mas também muito medo e pouco entusiasmo.
Estávamos deste modo com muito poco moto para a segunda parte, com a Eroica, o nosso heroísmo para suportar o concerto não era muito e no intervalo deambulámos algo deprimidos e maledicentes, defeito bem nosso e que temos de corrigir. No entanto a coisa foi melhorando. Provavelmente mais habituados à linguagem mais elaborada de Beethoven, e com mais prática e ouvido nesta obra, a sinfonia op. 55, em mi bemol maior, a terceira do mestre de Bona, foi mais precisa, mais briosa no seu allegro con brio inicial. O seja houve mesmo sinal mais, ou não teria usado a palavra tantas vezes! A marcha fúnebre foi demasiado arrastada por Renzeti, se a orquestra tivesse outra untuosidade nas cordas ou outro pathos na interpretação, o tempo estaria bem, mas assim tornou-se arrastado e inconclusivo, um adagio demasiado assai para o nosso gosto. O scherzo, com algumas falhas ligeiras, foi um momento de alegria com um delicioso trio em que as trompas nos divertiram com passagens de cor e brilho campestre tudo rematado com um Finale, allegro molto, poco andante e presto, vivo e com heroísmo q.b. em que até o andante foi rico e inspirado, com um presto culminante que empolgou a meia casa que compareceu à chamada neste início de época.
Na segunda parte as sonoridades saiam mais equilibradas, as cordas agudas menos tensas e com menos erros, mas mantendo alguns buracos sonoros no final das passagens, gostámos em particular do naipe de violoncelos e dos contrabaixos, as próprias violas estiveram bem. A 1ª flauta que nos havia decepcionado na primeira parte esteve bem melhor na segunda, bem como o 1º oboé, o clarinete esteve sempre bem na articulação e na técnica mas já o ouvimos com uma sonoridade mais cheia e aveludada, talvez tenha tentado ir ao encontro do instrumento alemão do tempo de Beethoven. O fagote foi muito expressivo e incisivo, com denodo atacou com sonoridade cheia as passagens em que contracena com as cordas enriquecendo com o seu timbre a textura orquestral. Metais bem e trompas com presença (começo a achar que este naipe da OSP é bem melhor que o da Gulbenkian que se tem mostrado muito fraco ultimamente), tímpanos à procura da potência sonora correcta o que é difícil porque estão junto do fecho da concha acústica onde a reflexão sonora é maior, creio que deve ser muito difícil para o instrumentista perceber como chega o som ao público, mas muito exactos na Eroica (menos na primeira sinfonia).
Um Renzeti vivo e em cima da partitura cantarolou mas não empolgou na primeira parte uma orquestra anémica, conseguiu extrair mais frutos do seu trabalho na Eroica. Segunda parte para 13 valores, num concerto que se tornou agradável com o seu decorrer. Espera-se melhor para hoje e um crescendo de forma nos próximos concertos deste ciclo de aquecimento inicial.
Boa temporada é o que se deseja à orquestra e ao Teatro para bem de quem escuta e da cultura portuguesa.
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