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27.9.05

Burmester regressa 

Nunca nutri especial admiração por Pedro Burmester como pianista. Acho-o dotado desde que o ouvi na aula magna da Reitoria da Universidade de Lisboa no concurso Vianna da Motta em que não foi atribuído o primeiro prémio. Depois desta ocasião escutei o pianista inúmeras vezes e sempre me soube a pouco, creio que Burmester é um superdotado, um intuitivo, para ele o piano é fácil. No meu entender este é o seu principal problema, a apreensão rápida das obras a fogosidade mas pouco amadurecimento, pouco estudo, quando as coisas lhe saem bem o concerto ou recital é excitante mas pouco profundo, quando lhe correm mal é uma trapalhada. Relembro um concerto no S. Luiz em que massacrou completamente a fantasia de Beethoven tentando disfarçar com uma violência incrível e desproporcionada para a obra o que lhe faltou em subtileza e em domínio técnico numa actuação que para mim foi confrangedora num dos pontos mais baixos de uma carreira que é aceite como muito boa em Portugal, recordo ainda um concerto com obras de Liszt há mais de 15 anos depois do concurso Vianna da Motta, que me ficou na memória pela capacidade técnica, mas em que mesmo assim a respiração foi algo kitsch. Burmester ainda alinha em projectos de câmara que se têm revelado algo medíocres, como o exemplo do trabalho conjunto com os sopros. Mas adiante que o tempo desses concertos já passou. Somos hoje confrontados com a Notícia. Creio que é uma má notícia, Burmester poderia ter um lugar na Administração, atendendo ao seu lugar de figura tutelar no projecto, lugar tutelar que mesmo assim não percebo na sua totalidade. Mas não conheço ou reconheço ao pianista as qualidade do actual director Antony Withworth-Jones que além de ter uma cultura elevada na área da Casa da Música, tem também uma enorme rede de conhecimento e além disso construiu uma programação notável com poucos recursos.
Com Burmester voltamos ao nível paroquial, à trica portuense, ao provincianismo bacoco, Burmester não é gestor cultural e nunca deu provas nesta área. O Porto merece mais ou nunca deixará de ser uma cidade de província cheia de complexos relativamente ao resto do país.
Duvidamos que seja útil trocar o certo pelo incerto. Esperamos estar enganados e que a programação continue ao nível actual e do anunciado para 2006, uma vez que o próximo ano já foi preparado pelo actual director e não pelo pianista que provará o que vale apenas para 2007.
Espectantes e apreensivos é como devem estar os apreciadores de boa música relativamente à Casa da Música.


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