13.6.05
China, primeiras impressões
Chego de viagem, a China imensa, gente em movimento, milhões, milhões, milhões. Tudo o que se imagina deixa de fazer sentido, 3000 habitantes por quilómetro quadrado nas regiões que visitei. Poluição colossal, destruição do património para construir edifícios horrendos, desrespeito total pelo indivíduo face ao número. Riqueza colossal, pobreza avassaladora. Lagos de água doce totalmente mortos e de cheiro pestilento, como o lago Tai Hu que se situa nas margens de Wuxi (uma pequena cidade com pouco mais de 4,3 milhões de habitantes), o terceiro lago em área na China (2250 km2) e onde caberia toda a imensa cidade de Shanghai, lago para onde convergem os despejos de uns trinta milhões (Wuxi e cidades limitrofes dentro de uma província de Jiangsu com 75 milhões), todos a urinar e defecar para um lago que já foi dos mais ricos da China em fauna e flora.
Shanghai que nem os chineses sabem quantos habitantes tem, entre 18 e 23 milhões de residentes, os considerados fixos e os trabalhadores sazonais, uns com licença para deslocação e outros clandestinos. Cidade onde não existe um dia de descanso para todos, seria impossível, tem de ser rotativo, senão não existiriam espaços de lazer, parques e ruas para todos passearem!
Zona comercial moderna de Pequim com parque de bicicletas
China, Pequim, esquadras especiais para estrangeiros onde grassa o habitual e total desconhecimento de línguas estrangeiras por parte forças de segurança da China! As esquadras para estrangeiros têm então e apenas uma mais valia: um mandarim (ou burocrata) que conhece o alfabeto ocidental e consegue ler os nomes nos passaportes, mas devagar! Para fazer uma participação de um pequeno furto gastamos entre 4 a 5 horas, isto com um amigo intérprete, sem intérprete creio que seria impossível, mesmo conhecendo algum chinês básico.
Conhecer o chinês também não é garantia de nada, palavras simples como "quatro" podem, se mal pronunciadas, querer dizer "porco" e em vez de estarmos a pedir quatro bilhetes de metro estamos a insultar o bilheteiro!
China onde a televisão local tem um canal que todos os dias passa concertos com as orquestras e músicos chineses. China com a sua imensa muralha mandada fazer pelo megalómano primeiro imperador, o tal do exército de terracota de Xi'an.
Muralha refeita pelos Ming, palavra que quer dizer brilhante, tal como tudo o que tem a ver com os imperadores. Império do Meio porque se julgavam os senhores do Universo exactamente no centro. Por todo o lado ainda é visível a cegueira megalómana que levou a China ao atraso mais absurdo, à renúncia da exploração dos mares pelos Ming do século XVI depois de terem uma frota magnífica no século XV, deixando o Índico abertos a todas as potências que como nós, nos aproveitámos desse mesmo autismo imperial. Depois da pólvora, da bússula, da astronomia veio praticamente o vazio absoluto.
A muralha é magnífica: quando se sobe à montanha e se contempla o espectro da muralha que serpenteia por escarpas impossíveis até ao infinito somos invadidos por um maravilhamento e por uma angústia sem limites. A muralha é imensa mas também é imenso o medo que representa, o terror de quem foi obrigado a construí-la. Sentimos a opressão do isolamento ao exterior e, finalmente, a asfixia que encerra dentro de si. A capital do Norte, Beijing (Pequim em cantonês) com a sua cidade proibida de vícios e intrigas, de arbitrariedades e morte. China de Confúcio e da Arte da Guerra, China da Mafia victoriana das guerras do ópio, em que as potências ocidentais obrigaram os chineses a consumir a droga vinda de Bengala, comprada por bom preço, precisamente para corromper e enfraquecer ainda mais o povo chinês e lhe retalhar com mais facilidade o território. Vietname para a França, Shanghai para ingleses, americanos e franceses, Hong Kong para ingleses...
Ódio, muito, que os chineses conhecem muito bem a história e cem anos são fragmentos de nada. Em 1900 foi queimado pela última vez o magnífico palácio de Verão de Pequim por franceses e ingleses, muito pouco tempo para a memória chinesa...
Só estando na China e viajando pelo país se percebe como esta cresce e como cresce. Se pensarmos que o sistema de irrigação dos campos adjacentes às cidades vem de tempos imperiais e que os esgotos com dejectos humanos são canalizados directamente para este sistema de irrigação, afinal uma tradição milenar num país com pouco gado, percebemos à custa de que princípios cresce o país... Se pensarmos que existe internet por todo o lado, mas que é impossível fazer, aceder ou consultar um blog onde quer que seja, percebemos o regime que ainda impera.
A opressão existe, uma opressão asfixiante que vai desde os milhões de polícias que estão por todo o lado até ao próprio ar que se respira, pesado, denso de poluição e de um calor húmido que vai corroendo as cidades e os homens.
Voltei maravilhado da China, maravilhado mas apreensivo e deprimido ao mesmo tempo.
Um cartão de passageiro frequente
da China Airlines?
(cont.)
Shanghai que nem os chineses sabem quantos habitantes tem, entre 18 e 23 milhões de residentes, os considerados fixos e os trabalhadores sazonais, uns com licença para deslocação e outros clandestinos. Cidade onde não existe um dia de descanso para todos, seria impossível, tem de ser rotativo, senão não existiriam espaços de lazer, parques e ruas para todos passearem!
Zona comercial moderna de Pequim com parque de bicicletas
China, Pequim, esquadras especiais para estrangeiros onde grassa o habitual e total desconhecimento de línguas estrangeiras por parte forças de segurança da China! As esquadras para estrangeiros têm então e apenas uma mais valia: um mandarim (ou burocrata) que conhece o alfabeto ocidental e consegue ler os nomes nos passaportes, mas devagar! Para fazer uma participação de um pequeno furto gastamos entre 4 a 5 horas, isto com um amigo intérprete, sem intérprete creio que seria impossível, mesmo conhecendo algum chinês básico.
Conhecer o chinês também não é garantia de nada, palavras simples como "quatro" podem, se mal pronunciadas, querer dizer "porco" e em vez de estarmos a pedir quatro bilhetes de metro estamos a insultar o bilheteiro!
China onde a televisão local tem um canal que todos os dias passa concertos com as orquestras e músicos chineses. China com a sua imensa muralha mandada fazer pelo megalómano primeiro imperador, o tal do exército de terracota de Xi'an.
Muralha refeita pelos Ming, palavra que quer dizer brilhante, tal como tudo o que tem a ver com os imperadores. Império do Meio porque se julgavam os senhores do Universo exactamente no centro. Por todo o lado ainda é visível a cegueira megalómana que levou a China ao atraso mais absurdo, à renúncia da exploração dos mares pelos Ming do século XVI depois de terem uma frota magnífica no século XV, deixando o Índico abertos a todas as potências que como nós, nos aproveitámos desse mesmo autismo imperial. Depois da pólvora, da bússula, da astronomia veio praticamente o vazio absoluto.
A muralha é magnífica: quando se sobe à montanha e se contempla o espectro da muralha que serpenteia por escarpas impossíveis até ao infinito somos invadidos por um maravilhamento e por uma angústia sem limites. A muralha é imensa mas também é imenso o medo que representa, o terror de quem foi obrigado a construí-la. Sentimos a opressão do isolamento ao exterior e, finalmente, a asfixia que encerra dentro de si. A capital do Norte, Beijing (Pequim em cantonês) com a sua cidade proibida de vícios e intrigas, de arbitrariedades e morte. China de Confúcio e da Arte da Guerra, China da Mafia victoriana das guerras do ópio, em que as potências ocidentais obrigaram os chineses a consumir a droga vinda de Bengala, comprada por bom preço, precisamente para corromper e enfraquecer ainda mais o povo chinês e lhe retalhar com mais facilidade o território. Vietname para a França, Shanghai para ingleses, americanos e franceses, Hong Kong para ingleses...
Ódio, muito, que os chineses conhecem muito bem a história e cem anos são fragmentos de nada. Em 1900 foi queimado pela última vez o magnífico palácio de Verão de Pequim por franceses e ingleses, muito pouco tempo para a memória chinesa...
Só estando na China e viajando pelo país se percebe como esta cresce e como cresce. Se pensarmos que o sistema de irrigação dos campos adjacentes às cidades vem de tempos imperiais e que os esgotos com dejectos humanos são canalizados directamente para este sistema de irrigação, afinal uma tradição milenar num país com pouco gado, percebemos à custa de que princípios cresce o país... Se pensarmos que existe internet por todo o lado, mas que é impossível fazer, aceder ou consultar um blog onde quer que seja, percebemos o regime que ainda impera.
A opressão existe, uma opressão asfixiante que vai desde os milhões de polícias que estão por todo o lado até ao próprio ar que se respira, pesado, denso de poluição e de um calor húmido que vai corroendo as cidades e os homens.
Voltei maravilhado da China, maravilhado mas apreensivo e deprimido ao mesmo tempo.
Um cartão de passageiro frequente
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