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12.5.05

O Quarteto Takács 

Terça, 10 de Maio, 19h00, Fundação Calouste Gulbenkian.

Quarteto Takács

Edward Dusinberre, Violino
Károly Schranz, Violino
Roger Tapping, Viola
András Fejér, Violoncelo

Joseph Haydn
Quarteto em Dó Maior, op.76 nº 3, Imperador (Hob.III.77)

Uma obra pouco amadurecida pelo quarteto Takács, bem tocado mas pouco interiorizado, Haydn é falsamente fácil do ponto de vista interpretativo.
São célebres as variações sobre o hino "Deus Proteja o Imperador Francisco" composto anteriormente ao quarteto por Haydn. Uma melodia que deu origem ao hino alemão dos tempos do nazismo e, com uns versos diferentes, ao actual. Os austríacos, no pós-guerra, preferiram uma melodia de Mozart que afinal, veio-se a descobrir posteriormente, era de um outro qualquer!... Tema e quatro variações expostas pelos quatro instrumentos do quarteto onde se notaram dificuldades no segundo violino, que aliás se mantiveram em todo o concerto. Nem a articulação nem o fraseado, nem a sonoridade deste violinista foram aceitáveis em Haydn. Em contrapartida a géstica era exuberante e excessiva, a contrariar com a pose bem mais discreta do primeiro violino, cuja sonoridade relativamente pouco encorpada foi contrabalançada por uma boa técnica e subtileza no fraseado. Impressionou muito favoravelmente o viola, com muita sensibilidade e uma sonoridade espessa e densa. O violoncelo também esteve num plano superior. O resultado da análise individual nestas variações estende-se aliás a quase todo o concerto.
Pode-se dizer que se o nível do concerto se ficasse pela abordagem de Haydn o concerto teria sido uma decepção. Não apreciei particularmente a leitura algo superficial deste compositor extraordinário. Penso que o quarteto Takács sub-estimou Haydn, abordando o seu quarteto como uma obra de "aquecimento".

Alexander Borodin
Quarteto Nº 2, em Ré Maior

Um compositor simples mas eficaz, um domínio muito elevado da técnica de composição para quarteto de cordas. Um nocturno de grande beleza. O quarteto Takács começou a mostrar o seu real valor com a obra do russo. Unido, coeso, amadurecido na leitura, uniforme na articulação. Sem cair na lamechice o nocturno foi lido de forma notável. O segundo violino, com problemas de personalidade, a tocar os acompanhamentos de forma demasiado incisiva e demasiado em sforzando para o meu gosto. Um segundo violino tem de ter a sábia contenção de perceber que não é o primeiro violino. De resto... quase perfeito.

Ludwig van Beethoven
Quarteto Nº 16, em Fá Maior, op.135

Uma leitura de alto nível, não fora a excessiva preponderância sonora do segundo violino e teríamos uma interpretação paradigmática. A mecânica da composição é extraordinária, as instrumentos em diálogos sucessivos vão integrando elementos basilares, como se fossem peças de um puzzle, na economia da obra. Temos presentes elementos quase gésticos, diria seriais, que somados vão gerar uma obra extraordinária na sua concisão e no seu efeito global. Um quarteto difícil que exige um grupo de quatro instrumentistas que sabem o que fazem, que não hesitam nas entradas, com a noção dos tempos apuradíssima e com grande confiança. Estes elementos misturados com a coesão estilística do quarteto Takács trouxeram ao grande auditório da Fundação Gulbenkian uma interpretação de alto nível. Pena as já referidas exuberâncias desnecessárias do segundo violino, aqui algo atenuadas relativamente ao resto do concerto, que tiraram a nota vinte ao opus 135 de Beethoven.

Um último andamento do opus 96 de Dvorjak como extra acabou com grande entusiasmo este concerto.


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