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20.5.05

Calor 

Faz calor. Quando o calor aperta lembro-me sempre do longo mês de Agosto passado todos os anos na quinta com a avó.

Das escapadelas à hora da sesta, em que não tinha “autorização” para sair de casa, para me sentar à sombra da nespereira à conversa com o Senhor Miguel. Aquelas sim, eram histórias diferentes, eram verdadeiras e ao vivo. Sentado sempre no mesmo banquinho aguardava a minha presença para me contar verdadeiros segredos, enquanto preparava as réstias de cebola e de alho que me insistia em ensinar a fazer. Um verdadeiro mistério.

Lembro-me do cheiro da fruta madura disposta na palha estendida no chão da casa das alfaias agrícolas e de sair ao fim do dia para apanhar os abrunhos que a avó tanto gostava e que só Ela sabia escolher.

Da tia Odete que passava as tardes sentada no sofá a tricotar gorros de lã, em pleno mês de Agosto! Gorros de lã iguais àqueles que picavam no pescoço e que a mãe nos obrigava a pôr nas manhãs frias de Inverno quando saíamos para o colégio.

Da senhora Amélia, sempre vestida de preto e com o seu carrapito, a rodopiar de um lado para o outro para dar conta do recado. Do cheiro do sabão azul e branco e da cal fresca.

Do som das badaladas do relógio da sala que as quatro horas nos davam autorização para irmos a banhos, bem como da aflição da avó que não sabia nadar.

Das andorinhas.

De tanta coisa mais…

E por isso é sempre bom fugir para lá mesmo que faça calor!



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