16.3.05
William Christie na Gulbenkian
A extraordinária orquestra Les Arts Florissants e os solistas do Jardin des Voix apresentaram um concerto no sábado 5 de Março. Já toda a crítica se pronunciou. É tempo de ficar aqui o registo!
Programa:
LES ARTS FLORISSANTS
WILLIAM CHRISTIE (maestro)
AMEL BRAHIM DJELLOUL (soprano)
CLAIRE DEBONO (soprano)
JUDITH VAN WANROIJ (soprano)
XAVIER SABATA COROMINAS (contratenor)
ANDREW TORTISE (tenor)
ANDRÉ MORSCH (barítono)
KONSTANTIN WOLFF (baixo)
Henry Purcell - The Indian Queen (excertos)
Domenico Mazzochi - La catena d’Adone (excertos)
Luigi Rossi - Un peccator pentito: «Spargete sospiri»
Michel Lambert - Que d'amants separez languissent nuit et jour (excertos)
Marc-Antoine Charpentier - Venus et Adonis (excertos)
Jean Desfontaines - Le désespoir de Tirsis (excertos)
Jean-Philippe Rameau - Pigmalion: «Fatal Amour, cruel vainqueur»
André Campra - Enée et Didon (excertos)
George Frideric Handel - Radamisto II (excertos) e Amadigi: «Minacciami, non ho timor»
Wolfgang Amadeus Mozart - Ascanio in Alba, K.111: « Al chiaror di que beirai»
André-Ernest-Modeste Grétry - Zémire et Azor: «Veillons mes soeurs»
François-André Danican Philidor - Tom Jones (excertos)
Extras: Excerto de "Les Indes Galantes" de Rameau e mais um excerto de Tom Jones de Philidor.
Um projecto pedagógico fundamental de William Christie que na companhia do grande cravista Kenneth Weiss dirigem a Academia do Jardin des Voix. Os cantores são seleccionados entre centenas de jovens estudantes que concorrem aos disputados lugares na Academia. Estes concertos são uma espécie de mostra do trabalho desenvolvido. Por esse motivo se justifica a variedade do programa. A encenação de Vincent Boussard com orquestra em palco e que se cingiu a marcações e movimentos dos cantores realçando a expressividade das obras foi outro factor pouco habitual mas não inovador. A encenação, foi no meu entender, totalmente conseguida e melhorou claramente a recepção da música. Totalmente enquadrada no contexto musical e dramático contribuiu para uma precisão conceptual dos momentos musicais pelos sublinhados expressivos da movimentação cénica.
Foram ditas muitas coisas sobre este concerto, nomeadamente que os cantores não eram homogéneos, ou que a orquestra era um modelo de afinação, que as vozes femininas eram ácidas e mais alguma conversa de amador sobre o assunto. Na minha opinião há dois aspectos a destacar: vozes e interpretação dos cantores. Interpretação e concepção global das obras em presença. Superlativo na música francesa William Christe falhou na expressividade italiana de Mazzochi, interpretado com um claro sotaque francês nas acentuações, no fraseado, no final de frases e mesmo na ornamentação. Tudo o resto foi excepcional, Rossi teve a inspiração do sofrimento e uma beleza vocal deslumbrante de sentimento. Até o banal Gétry teve requintes que mereceram a sua inclusão no programa. Purcell teve de novo alguns problemas idiomáticos, mas o estilo francês da orquestra e do maestro enquandram-se bem neste compositor, que teve uma leitura muito viva e colorida.
Os cantores homens e mulheres foram quase sem excepção perfeitos. O que foi confundido com acidez na vozes femininas é uma forma de cantar sem vibrato, no extremo da afinação, realçando uma certa fragilidade. Há quem goste, há quem deteste. Não se pode condenar. Eu, no meu caso considero essa produção de som de uma beleza sem par, de uma realidade histórica que a minha intuição me diz ser a mais adequada à música francesa do século XVII e mesmo à música de Handel. Neste aspecto a ária de Ascanio de Mozart foi interpretada de forma muito arriscada por Amel Brahim-Djellou, mas o risco compensou!
O contratenor catalão Xavier Sabata mostrou-se como um valor de presente seguro e de futuro certo. Uma voz plena e pujante, de uma extensão admirável, naturalíssima, com uma musicalidade e um sentido dramático profundo deu-nos um Handel de encantar.
O temperamento Valotti, foi a solução de compromisso para todos os géneros, todas as nações, todos os períodos, todas as tonalidades! Um compromisso que adocicou um pouco no mais antigo e endureceu no mais recente, mas com este programa é difícil encontrar um temperamento versátil para todas as situações.
A orquestra esteve entre o bem e o excelente, mas não esteve ausente alguma desafinação, ao contrário do que se afirmou em alguma imprensa. Trataram-se de situações pontuais nos violinos e não comprometeram o concerto.
Em resumo: uma mostra de talento notável numa geração totalmente nova de cantores e uma afirmação de saber e classe na música barroca francesa e em Handel.
Programa:
LES ARTS FLORISSANTS
WILLIAM CHRISTIE (maestro)
AMEL BRAHIM DJELLOUL (soprano)
CLAIRE DEBONO (soprano)
JUDITH VAN WANROIJ (soprano)
XAVIER SABATA COROMINAS (contratenor)
ANDREW TORTISE (tenor)
ANDRÉ MORSCH (barítono)
KONSTANTIN WOLFF (baixo)
Henry Purcell - The Indian Queen (excertos)
Domenico Mazzochi - La catena d’Adone (excertos)
Luigi Rossi - Un peccator pentito: «Spargete sospiri»
Michel Lambert - Que d'amants separez languissent nuit et jour (excertos)
Marc-Antoine Charpentier - Venus et Adonis (excertos)
Jean Desfontaines - Le désespoir de Tirsis (excertos)
Jean-Philippe Rameau - Pigmalion: «Fatal Amour, cruel vainqueur»
André Campra - Enée et Didon (excertos)
George Frideric Handel - Radamisto II (excertos) e Amadigi: «Minacciami, non ho timor»
Wolfgang Amadeus Mozart - Ascanio in Alba, K.111: « Al chiaror di que beirai»
André-Ernest-Modeste Grétry - Zémire et Azor: «Veillons mes soeurs»
François-André Danican Philidor - Tom Jones (excertos)
Extras: Excerto de "Les Indes Galantes" de Rameau e mais um excerto de Tom Jones de Philidor.
Um projecto pedagógico fundamental de William Christie que na companhia do grande cravista Kenneth Weiss dirigem a Academia do Jardin des Voix. Os cantores são seleccionados entre centenas de jovens estudantes que concorrem aos disputados lugares na Academia. Estes concertos são uma espécie de mostra do trabalho desenvolvido. Por esse motivo se justifica a variedade do programa. A encenação de Vincent Boussard com orquestra em palco e que se cingiu a marcações e movimentos dos cantores realçando a expressividade das obras foi outro factor pouco habitual mas não inovador. A encenação, foi no meu entender, totalmente conseguida e melhorou claramente a recepção da música. Totalmente enquadrada no contexto musical e dramático contribuiu para uma precisão conceptual dos momentos musicais pelos sublinhados expressivos da movimentação cénica.
Foram ditas muitas coisas sobre este concerto, nomeadamente que os cantores não eram homogéneos, ou que a orquestra era um modelo de afinação, que as vozes femininas eram ácidas e mais alguma conversa de amador sobre o assunto. Na minha opinião há dois aspectos a destacar: vozes e interpretação dos cantores. Interpretação e concepção global das obras em presença. Superlativo na música francesa William Christe falhou na expressividade italiana de Mazzochi, interpretado com um claro sotaque francês nas acentuações, no fraseado, no final de frases e mesmo na ornamentação. Tudo o resto foi excepcional, Rossi teve a inspiração do sofrimento e uma beleza vocal deslumbrante de sentimento. Até o banal Gétry teve requintes que mereceram a sua inclusão no programa. Purcell teve de novo alguns problemas idiomáticos, mas o estilo francês da orquestra e do maestro enquandram-se bem neste compositor, que teve uma leitura muito viva e colorida.
Os cantores homens e mulheres foram quase sem excepção perfeitos. O que foi confundido com acidez na vozes femininas é uma forma de cantar sem vibrato, no extremo da afinação, realçando uma certa fragilidade. Há quem goste, há quem deteste. Não se pode condenar. Eu, no meu caso considero essa produção de som de uma beleza sem par, de uma realidade histórica que a minha intuição me diz ser a mais adequada à música francesa do século XVII e mesmo à música de Handel. Neste aspecto a ária de Ascanio de Mozart foi interpretada de forma muito arriscada por Amel Brahim-Djellou, mas o risco compensou!
O contratenor catalão Xavier Sabata mostrou-se como um valor de presente seguro e de futuro certo. Uma voz plena e pujante, de uma extensão admirável, naturalíssima, com uma musicalidade e um sentido dramático profundo deu-nos um Handel de encantar.
O temperamento Valotti, foi a solução de compromisso para todos os géneros, todas as nações, todos os períodos, todas as tonalidades! Um compromisso que adocicou um pouco no mais antigo e endureceu no mais recente, mas com este programa é difícil encontrar um temperamento versátil para todas as situações.
A orquestra esteve entre o bem e o excelente, mas não esteve ausente alguma desafinação, ao contrário do que se afirmou em alguma imprensa. Trataram-se de situações pontuais nos violinos e não comprometeram o concerto.
Em resumo: uma mostra de talento notável numa geração totalmente nova de cantores e uma afirmação de saber e classe na música barroca francesa e em Handel.
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