10.3.05
Vinte e cinco anos de carreira atropelados por um telemóvel
Pianista abandona recital comemorativo dos 25 anos de carreira após vários toques de telemóvel
Eram os 25 anos de carreira de Artur Pizarro que se celebravam hoje no Teatro de S. Luiz em Lisboa. Artur Pizarro fazia um recital memorável, que não acabou...
No programa Miroirs de Ravel, a primeira interrupção no início do trecho "La vallée des cloches" que encerra a obra, porque um telemóvel não se calava. Os toques aliás multiplicavam-se. Ouvia-se gente na conversa no exterior da sala. O pianista reiniciou o "la vallée..." e o recital voltou à normalidade com a rapsódia espanhola de Liszt.
O Ravel foi de uma transparência, de uma clareza e beleza sonora que só por si justificariam uma ida ao S. Luiz. Uma rapsódia de Liszt que não é uma obra muito interessante mas que resulta se o pianista tem um grande virtuosismo e se toca com liberdade total. Não foi o caso, Artur Pizarro a tocar pelo papel não se libertou, teve de olhar para o teclado para ver onde punha as mãos nos acordes mais intensos, a fluidez e o ritmo da obra ressentiram-se. Chegou ao ponto de ser um pouco trapalhão. Seria provavelmente o ponto menos conseguido do recital.
Segunda parte, "Suite Bergamasque" de Debussy. Um prélude fantástico, um menuet comovente, com uma elaboração sonora e musical a atingir a perfeição mágica que resulta do entendimento total da obra e da arte de criar timbres e sonoridades. O fraseado em Pizzaro é excelente e equilibrado nas duas mãos. A mão esquerda é irrepreensível. No menuet esta mão esquerda criou poesia através da recitação de uma das melodias mais belas da história da música, melodia que muitas vezes fica enterrada nas entranhas da obra. Um clair de lune belíssimo sem cair no sentimentalismo e, de repente, antes do andamento terminar, mais um toque de telemóvel. Era a quarta vez, sem contar outros ruídos parasitas. Pizarro pára de tocar e diz com palavras exactas: "quanto atender eu volto a tocar, mas saia" [mais correcta a citação do DN de sábado por Bernardo Mariano, palavras exactas: atenda que eu páro, mas saia ]. O pianista olha em volta, a pessoa que tinha o telefone a tocar insistentemente, e com o volume no máximo, nem atende nem sai. Pizarro, por seu turno, levanta-se e sai. Palmas. Alguns minutos depois Jorge Salavissa (o director do teatro) anuncia que este momento tão especial para o pianista ficava por ali. O recital estava terminado.
Nem vou comentar, a situação fala por si, foi demasiado triste. O público aplaudiu Artur Pizarro durante largos minutos, o pianista não regressou, com razão.
Eram os 25 anos de carreira de Artur Pizarro que se celebravam hoje no Teatro de S. Luiz em Lisboa. Artur Pizarro fazia um recital memorável, que não acabou...
No programa Miroirs de Ravel, a primeira interrupção no início do trecho "La vallée des cloches" que encerra a obra, porque um telemóvel não se calava. Os toques aliás multiplicavam-se. Ouvia-se gente na conversa no exterior da sala. O pianista reiniciou o "la vallée..." e o recital voltou à normalidade com a rapsódia espanhola de Liszt.
O Ravel foi de uma transparência, de uma clareza e beleza sonora que só por si justificariam uma ida ao S. Luiz. Uma rapsódia de Liszt que não é uma obra muito interessante mas que resulta se o pianista tem um grande virtuosismo e se toca com liberdade total. Não foi o caso, Artur Pizarro a tocar pelo papel não se libertou, teve de olhar para o teclado para ver onde punha as mãos nos acordes mais intensos, a fluidez e o ritmo da obra ressentiram-se. Chegou ao ponto de ser um pouco trapalhão. Seria provavelmente o ponto menos conseguido do recital.
Segunda parte, "Suite Bergamasque" de Debussy. Um prélude fantástico, um menuet comovente, com uma elaboração sonora e musical a atingir a perfeição mágica que resulta do entendimento total da obra e da arte de criar timbres e sonoridades. O fraseado em Pizzaro é excelente e equilibrado nas duas mãos. A mão esquerda é irrepreensível. No menuet esta mão esquerda criou poesia através da recitação de uma das melodias mais belas da história da música, melodia que muitas vezes fica enterrada nas entranhas da obra. Um clair de lune belíssimo sem cair no sentimentalismo e, de repente, antes do andamento terminar, mais um toque de telemóvel. Era a quarta vez, sem contar outros ruídos parasitas. Pizarro pára de tocar e diz com palavras exactas: "quanto atender eu volto a tocar, mas saia" [mais correcta a citação do DN de sábado por Bernardo Mariano, palavras exactas: atenda que eu páro, mas saia ]. O pianista olha em volta, a pessoa que tinha o telefone a tocar insistentemente, e com o volume no máximo, nem atende nem sai. Pizarro, por seu turno, levanta-se e sai. Palmas. Alguns minutos depois Jorge Salavissa (o director do teatro) anuncia que este momento tão especial para o pianista ficava por ali. O recital estava terminado.
Nem vou comentar, a situação fala por si, foi demasiado triste. O público aplaudiu Artur Pizarro durante largos minutos, o pianista não regressou, com razão.
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