7.3.05
Fidelio - mais considerações
Como não fundamentei em rigor o que escrevi (pouco) sobre o Fidelio na Gulbenkian, em versão de concerto, aqui vai um texto baseado nas notas que tomei no meu caderninho sobre esta interpretação.
A ópera Fidelio de Beethoven teve uma interpretação vigorosa de Foster e grandes solistas:
- Birgit Steinberger em Marzelline, correcta, bem colocada com uma voz de um timbre rico mas pouco potente, de qualquer modo com uma vocalidade totalmente adequada e uma interpretação amadurecida, não parecia ser uma cantora substituta.
- Herbert Lippert foi fracote, até no fato foi inferior aos outros cantores, o único sem casaca! Foi o pior cantar em cima do palco, descuidado e vaidoso, mal colocado, roufenho, fraseado pouco apropriado a Beethoven e alongado nas frases arrastando a música. E digam se a indumentária não é o sintoma de qualquer coisa por detrás...
- O baixo Reinhard Hagen foi excelente no seu papel de Rocco. O carcereiro foi muitíssimo bem caracterizado vocalmente. Noto o empenho de alguns críticos em deitar abaixo Lippert e em se esquecerem de elogiar o que de melhor esteve na Gulbenkian. Sinal das opções de cada um: se há poucos caracteres disponíveis num texto, certos críticos nunca exaltam o bom, apenas massacram o pior. Voltando a Hagen, a interpretação deste baixo foi imponente e decisiva para o sucesso da ópera, rústico mas com bom fundo assim me pareceu o Rocco, como deve ser aliás, de Hagen. Uma voz magnífica, boa em todos os registos. Apenas desafinou um pouco no início (voz mal aquecida?), nos graves.
- O D. Pizarro de Esa Ruuttunen foi para mim algo complicado. Percebi uma grande voz no cantor finlandês, mas a entrada zangada deste cantor foi demasiado aos gritos, autênticos berros. Sempre que tentava puxar pela potência vocal começava invariavelmente a gritar, o timbre tornava-se muito desagradável. Sempre que era mais "cantabile" percebia-se uma boa voz e alguma sensibilidade possível para o papel. Uma interpretação em que denotou falta de inteligência.
- Guardei para o fim a Leonora de Christine Brewer foi também fantástica. Uma voz pujante, encorpada, boa em todos os registo, equilibrada, aveludada apesar da força natural, domada o suficiente para fazer os pianos e pianíssimos. Apenas abusando um pouco da sua extraordinária projecção nas partes de conjunto, mas com uma voz assim, uma capacidade interpretativa elevada e inteligência, perdoa-se quase tudo.
A orquestra esteve francamente bem, apenas o naipe das trompas borrou a pintura nos momentos em que Beethoven deixou ao cuidado do difícil instrumento caracterizações decisivas e delicadas. Notas erradas, entradas esborratadas. Em momentos a coisa correu melhor, mas a actuação foi em geral desastrosa. Não se compreende o gesto de Foster ao mandar levantar o naipe numa das interrupções para palmas aos cantores que foram ocorrendo... Steve Mason esteve bem no trompete.
O coro esteve razoável, desafinações pontuais mas a energia foi o mote. A opção de um coro de mais de oitenta cantores em cima do palco da Gulbenkian é discutível, sobretudo se temos apenas o número anémico e ridículo de seis violoncelos! A falta de equilíbrio é evidente, sobretudo nas partes em fortíssimo, o coro torna-se intolerável em termos de potência sonora face a uma orquestra sem massa nos naipes graves. Um mínimo de nove violoncelos seria exigível se compararmos com os outros naipes dentro das cordas. O coro dos prisioneiros foi cantado com convicção e com a resposta dinâmica exigida pelo maestro.
Em resumo: a interpretação de Foster tem sempre a vantagem de ser entusiástica, propulsiva, o detalhe às vezes perde-se, mas ganha-se energia. É uma visão que dá vida e cor e se justifica plenamente com o resultado vivo e brilhante obtido.
A ópera Fidelio de Beethoven teve uma interpretação vigorosa de Foster e grandes solistas:
- Birgit Steinberger em Marzelline, correcta, bem colocada com uma voz de um timbre rico mas pouco potente, de qualquer modo com uma vocalidade totalmente adequada e uma interpretação amadurecida, não parecia ser uma cantora substituta.
- Herbert Lippert foi fracote, até no fato foi inferior aos outros cantores, o único sem casaca! Foi o pior cantar em cima do palco, descuidado e vaidoso, mal colocado, roufenho, fraseado pouco apropriado a Beethoven e alongado nas frases arrastando a música. E digam se a indumentária não é o sintoma de qualquer coisa por detrás...
- O baixo Reinhard Hagen foi excelente no seu papel de Rocco. O carcereiro foi muitíssimo bem caracterizado vocalmente. Noto o empenho de alguns críticos em deitar abaixo Lippert e em se esquecerem de elogiar o que de melhor esteve na Gulbenkian. Sinal das opções de cada um: se há poucos caracteres disponíveis num texto, certos críticos nunca exaltam o bom, apenas massacram o pior. Voltando a Hagen, a interpretação deste baixo foi imponente e decisiva para o sucesso da ópera, rústico mas com bom fundo assim me pareceu o Rocco, como deve ser aliás, de Hagen. Uma voz magnífica, boa em todos os registos. Apenas desafinou um pouco no início (voz mal aquecida?), nos graves.
- O D. Pizarro de Esa Ruuttunen foi para mim algo complicado. Percebi uma grande voz no cantor finlandês, mas a entrada zangada deste cantor foi demasiado aos gritos, autênticos berros. Sempre que tentava puxar pela potência vocal começava invariavelmente a gritar, o timbre tornava-se muito desagradável. Sempre que era mais "cantabile" percebia-se uma boa voz e alguma sensibilidade possível para o papel. Uma interpretação em que denotou falta de inteligência.
- Guardei para o fim a Leonora de Christine Brewer foi também fantástica. Uma voz pujante, encorpada, boa em todos os registo, equilibrada, aveludada apesar da força natural, domada o suficiente para fazer os pianos e pianíssimos. Apenas abusando um pouco da sua extraordinária projecção nas partes de conjunto, mas com uma voz assim, uma capacidade interpretativa elevada e inteligência, perdoa-se quase tudo.
A orquestra esteve francamente bem, apenas o naipe das trompas borrou a pintura nos momentos em que Beethoven deixou ao cuidado do difícil instrumento caracterizações decisivas e delicadas. Notas erradas, entradas esborratadas. Em momentos a coisa correu melhor, mas a actuação foi em geral desastrosa. Não se compreende o gesto de Foster ao mandar levantar o naipe numa das interrupções para palmas aos cantores que foram ocorrendo... Steve Mason esteve bem no trompete.
O coro esteve razoável, desafinações pontuais mas a energia foi o mote. A opção de um coro de mais de oitenta cantores em cima do palco da Gulbenkian é discutível, sobretudo se temos apenas o número anémico e ridículo de seis violoncelos! A falta de equilíbrio é evidente, sobretudo nas partes em fortíssimo, o coro torna-se intolerável em termos de potência sonora face a uma orquestra sem massa nos naipes graves. Um mínimo de nove violoncelos seria exigível se compararmos com os outros naipes dentro das cordas. O coro dos prisioneiros foi cantado com convicção e com a resposta dinâmica exigida pelo maestro.
Em resumo: a interpretação de Foster tem sempre a vantagem de ser entusiástica, propulsiva, o detalhe às vezes perde-se, mas ganha-se energia. É uma visão que dá vida e cor e se justifica plenamente com o resultado vivo e brilhante obtido.
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