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3.3.05

Desceram à capital e não tocaram mal 

Concerto no S. Luiz. Dia 2 de Março de 2005. Início do mês da música no S. Luiz.

Orquestra Nacional do Porto.
Direcção Marc Tardue.
Piano: Jorge Moyano.

D. Juan Poema Sinfónico de Richard Strauss

Concerto para piano em ré menor de Mozart, KV 466.
Allegro
Romance
Rondo (Allegro assai)

Sinfonia nº 3 de Brahms, Fá Maior op. 90.
Allegro con brio
Andante
Poco Allegretto
Allegro

Como o programa era muito escasso, nem sequer os andamentos tinha impressos, reproduzo aqui alguns sobre o concerto em ré menor de Mozart:

Foi completado em 10 de Fevereiro de 1785. Parece que, segundo Leopold então de visita a Viena a obra ainda estava a ser copiada para partes cavas no dia seguinte, ou seja no dia da estreia! "O concerto é esplêndido e a orquestra tocou de forma soberba" escreveu o pai do compositor numa carta à irmã de Mozart. O primeiro de uma série de seis concertos que surgiram em seis sextas feiras consecutivas de 11 de Fevereiro até 18 de Março.
Tratou-se de um sucesso musical, financeiro e de marketing para Mozart, uma vez que toda a gente influente de Viena assistiu a este autêntico tour de force de Mozart. Seguiram-se dois anos de sucessos e de bem estar financeiro.
Beethoven gostava muito deste concerto, escrito na tonalidade sombria de ré menor, e escreveu cadências notáveis para o mesmo. O próprio Brahms também escreveu cadências para este concerto.

Dados sobre a sinfonia de Brahms:

Foi escrita no Verão de 1883 em Wiesbaden onde a sua amiga cantora (contralto) Hermine Spies vivia. Brahms tinha 58 anos. Como de costume as férias de lazer tornaram-se em férias de trabalho. A estreia foi a 2 de Dezembro de 1883 com Hans Richter a dirigir a Wiener Philharmoniker. A obra foi um enorme sucesso. Eduard Hanslick, o célebre crítico, amigo de Brahms e altamente conservador (diria mesmo reaccionário) declarou que se tratava da mais perfeita das sinfonias de Brahms: "A mais compacta na forma, a mais clara nos detalhes". Foi tocada em Berlim, Leipzig, Meiningen e Wiesbaden, ainda em vida de Brahms. O próprio Brahms ficou um pouco desagradado com a popularidade que a sinfonia tomou!

A orquestra do Porto nos primeiros acordes do poema sinfónico D. Juan começou com uma sonoridade feia mas com o decorrer do concerto melhorou francamente, provavelmente foi-se adaptando à acústica do Teatro.
Gostei muito do naipe dos trombones e das trompas, dos clarinetes, oboés, flautas e sobretudo das cordas. Tardue conseguiu atribuir à orquestra um grande equilíbrio. Creio que o modelo de sucesso para uma orquestra jovem é manter um maestro competente como Marc Tardue à sua frente. Com excepção de alguns pizzicatos desfasados, a orquestra trabalhou muito bem o poema de Strauss. Metais com contenção mas com belo som, linhas densas e coesas nas cordas, solos de violino com plasticidade, articulações uniformes em todos os naipes. O melhor do concerto foi este D. Juan de Strauss feito numa leitura linear de Tardue sem grandes elucubrações filosóficas mas com competência.

O concerto de piano foi bastante razoável pela parte da orquestra, mantendo sempre um ritmo vivo e certo, dando certezas ao pianista (e não armadilhas rítmicas e insegurança como vimos no mesmo teatro com a OSP relativamente a este mesmo pianista no quarto de Beethoven algum tempo atrás). Não se pode dizer que a orquestra tenha estado muito exaltante, mas esteve correcta.
Parece que Moyano acusou algum receio de falhar, creio que tocou a medo. Não sei se teve muito tempo para ensaiar com a orquestra, mas palpita-me que não. Nunca se libertou ou se esqueceu de uma certa prisão técnica o que resultou em alguma insegurança. O seu pianismo e a sua extraordinária sensibilidade vieram ao de cima em alguns belíssimos momentos nomeadamente no "romance", mas ficou uma sensação de algo que faltou: a criatividade artística liberta dos detalhes da técnica...

E foi isso que faltou em Brahms. Uma bela orquestra, raramente a falhar: atenção trompetes nas entradas de acordes gerais (gritante no final do último andamento e do primeiro). Sonoridades muito belas, instrumentistas de grande qualidade nas madeiras, cordas formando um corpo de alto nível técnico, resolvendo as passagens mais exigentes com um conjunto com alto nível, incluindo articulações complicadas ritmicamente.
Mas faltou algo: a exaltação da obra, o lirismo do terceiro andamento, feito de forma demasiado elegíaca, demasiadamente arrastado e pouco exaltante. Morno. Marc Tradue mostrou competência técnica, mas falta-lhe algo em termos artísticos, coisa que resulta evidente numa obra de fôlego como a sinfonia de Brahms. Talvez haja saturação, talvez a orquestra precise agora de maestros frescos para irradiarem alguma energia criativa e fazerem a sonoridade sair do habitual, do pastelão. Sem deslustrar a competência de Tardue creio que a sua fase está a precisar de ser temperada com novas energias. Ser competente não é tudo, às vezes é necessária a transcendência e o risco.

Apesar de tudo um concerto razoável com uma orquestra muito séria.

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