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1.2.05

Orquestra Sinfónica Portuguesa - O Pecado Original de Álvaro Cassuto e de Santana Lopes 

O escândalo que se passou ontem no interpretação da Medeia de Cherubini é algo que se tem repetido ciclicamente com esta orquestra. É tempo de reavaliar esta formação. Uma Walküre com muitos ensaios acabou por sair digna, um Cherubini que afinal é muito mais fácil, saiu uma vergonha! Parece estranho, mas não é, se pensarmos na forma errática como a orquestra tem sobrevivido nestes anos todos.

Dez anos após a formação é tempo de reavaliar os músicos, fazer avaliações reescalonar os naipes. Sem uma acção de fundo esta orquestra estará condenada ao fracasso total e à falência de um modelo que já se revelou catastrófico para o panorama da cultura em Portugal.

É ainda um desperdício de dinheiros públicos. Se compararmos o nível desta orquestra com o da orquestra do Porto verificamos que a Sinfónica Portuguesa está, em média, muito abaixo!

Mas a culpa não é apenas dos músicos, a culpa não deve morrer solteira nestas questões. A orquestra foi reformada com um papel preponderante de Álvaro Cassuto com audições em alguns casos, com audiências privadas, e mesmo sem qualquer concurso para admissão de músicos, noutros.
Note-se que um júri inicial com nomes de alto nível, com Martin André e Will Humburg por exemplo, foi substituído por um Álvaro Cassuto com plenos poderes quando Santana Lopes era Secretário de Estado da Cultura. Músicos sem qualquer qualidade foram escolhidos, pessoas que ganharam concursos foram eliminadas para outros poderem entrar. Uma vergonha que se propagou até hoje a expensas do erário público, e cujos defeitos se têm ampliado. Muitos músicos esforçam-se, outros encostam-se pura e simplesmente à preguiça, à falta de estudo, à inconsciência da própria incapacidade. A ausência de vergonha e de autocrítica é uma medida da falta qualidade de alguns músicos que arruinam o trabalho de todos.

Falei muito contra o concertino, Devries, certamente cheio de defeitos, mas nenhum concertino no mundo poderá fazer muito melhor com uma orquestra formada desta forma.

Se Paolo Pinamonti, actual director do Teatro de S. Carlos e responsável pela orquestra, quiser fazer qualquer coisa desta massa informe de músicos desmotivados, uns pela sua própria incompetência, muitos pela ausência de incentivos e por verem que a preguiça e mediocridade são recompensadas, tem de pedir à nova tutela, que se aproxima, poderes totais para reformar esta orquestra em estado terminal. Sem medidas de fundo, ou mesmo uma total refundação da orquestra usando um júri de qualidade internacional, sem condições de ensaio, sem salas de estudo e bibliotecas esta orquestra será ciclicamente a infâmia e pouca vergonha que se escutou ontem.

O mesmo se passa com o coro, se o coro não tem qualidade intrínseca nunca será um bom coro. Muitos anos da gestão João Paulo Santos colocaram no coro muita gente sem qualidade para cantar num coro amador e nem o melhor maestro de coro do mundo poderá tornar o coro do S. Carlos num coro de excelência. Andreoli terá de ter poder total para remodelar este coro, senão nunca teremos ópera de qualidade em Lisboa.

A nomeação de um maestro em permanência, com qualidade e poderes para avaliar e reformar é também muito importante. Se implicar uma nova lei orgânica que se faça uma nova lei para resolver o problema da orquestra e coro. Avaliação do desempenho por padrões internacionais é a única forma de manter a qualidade. Faz-se em todos os domínios, apenas a Orquestra Sinfónica Portuguesa e coro do S. Carlos são imunes a uma avaliação rigorosa e pública do desempenho. Afinal quem lhes paga, o público e o povo que paga impostos, não tem o menor domínio sobre os destinos do dinheiro gasto para manter uma orquestra onde existem muitos preguiçosos e incompetentes totalmente impunes após anos e anos de fracassos artísticos e que contribuem para a desmotivação global de uma instituição. Poucas maçãs podres fazem apodrecer o pomar!

Tive muitas reservas relativamente a Pinamonti, sei hoje que é um homem inteligente e ponderado. É impossível não perceber a desgraça que reina na casa, Pinamonti também tem ouvidos e cabeça. É altura de reclamar do poder político os poderes necessários para levar a cabo a sua missão. Provavelmente ficará tudo na mesma, mas ficam aqui as minhas palavras.

Segue excerto de artigo do Jornal "O Público", Fevereiro de 2002, da autoria de Cristina Fernandes em que se relata a situação a propósito do regresso a Portugal de Martin André. Percebe-se o "escândalo", como o próprio Martin André disse, ao ler o texto. Santana Lopes actuou de forma vergonhosa, como habitual, sem respeito pelas pessoas e pelos compromissos. O amigo de Santana, Álvaro Cassuto ficou com a Sinfónica Portuguesa nas mãos. Um processo triste, lembra outros... o nepotismo em Portugal é a essência da governação.


O regresso de Martin André

Cristina Fernandes

Depois da versão de concerto da ópera “Éditpo, Tragédia de Saber” no passado dia 16, o ciclo que a Culturgest está a dedicar à obra de António Pinho Vargas prossegue esta noite com um concerto pela Orquestra Nacional do Porto (ONP), sob a direcção de Martin André. Esta será a primeira vez que o maestro britânico actua em Lisboa depois do seu contrato como primeiro titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa, em 1993, não se ter inexplicavelmente concretizado — recorde-se que foi ele o responsável pela selecção dos instrumentistas que deviam integrar a nova formação.
O programa, que teve a uma primeira apresentação ontem no Porto, no Mosteiro de São Bento da Vitória, é constituído pelas obras para orquestra mais representativas de Pinho Vargas — “Geometral”, “Duas Peças para Orquestra de Cordas”, “Acting-Out” e “A Impaciência de Mahler” —, constituindo uma oportunidade inédita para “descobrir relações e filiações entre as peças, perceber cortes e mudanças”. Conforme o compositor disse em entrevista ao Mil Folhas (9-2-2002) “esta possibilidade é especialmente pertinente no campo da música orquestral, uma vez que neste caso não existem sequer gravações.”
Das peças seleccionadas, “Acting-Out” tem sido uma das mais interpretadas. A última vez foi em Julho no âmbito do Porto 2001 e do Festival de Espinho pelos mesmo intérpretes que hoje se apresentam na Culturgest, incluindo os solistas Miguel Henriques (piano) e Elisabeth Davis (percussão) e o maestro Martin André. Para os que não se recordam, este último foi o responsável pela selecção dos músicos no momento da criação da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), quando Santana Lopes era Secretário de Estado da Cultura. A extinção da antiga Orquestra do TNSC passou pelo despedimento de todos os músicos, tendo-se realizado posteriormente audições para a formação da nova orquestra (OSP). Depois de lhe atribuirem as funções de selecção dos músicos e tendo em vista os projectos que iam sendo discutidos com ele, o desenlace lógico seria o cargo de maestro titular, até porque a sua qualidade interpretativa e a boa relação com os instrumentistas era plenamente reconhecida. Acabaria por ser dispensado sem explicações, sendo Álvaro Cassuto o nomeado para o cargo. Martin André esteve anos sem regressar a Portugal, prosseguindo uma notável carreira internacional.
Martin André não esconde a mágoa mas prefere sublinhar os aspectos positivos do regresso a Portugal. “Pensava mudar-me com a família para Lisboa. Em 1994 seria a Capital Europeia da Cultura, estavam também a construir o Centro Cultural de Belém… As perspectivas eram aliciantes e estava empenhado em construir um formação do melhor nível europeu. Dispensaram-me de um dia para o outro sem nenhuma justificação. Foi um grande escândalo.” Poderia ter colocado um processo ao Estado Português, mas não o fez. “Sou só uma pessoa e o governo uma instituição poderosa, não era tão fácil.”
O convite do Porto 2001 e da ONP no ano passado foi um pretexto gratificante para retomar os contactos. “O Jorge Vaz de Carvalho [director artístico da ONP] tinha cantado no ‘Amor das Três Laranjas’, de Prokofiev, que dirigi no São Carlos. Conhecia bem o meu trabalho. Ao saberem que estava no Porto, vários músicos me telefonaram a pedir desculpas pelo sucedido, embora não tivessem culpa.” O regresso a Lisboa é aguardado com igual expectativa — “Adoro a cidade e as pessoas, muitos músicos são ainda meus colegas e amigos. Encontrei também excelentes condições de trabalho na ONP e rapidamente se gerou uma grande empatia com os músicos. Têm um espírito maravilhoso, o que para mim é muito importante. São muito flexíveis e comunicativos. Creio que a comunicação é o fulcro da questão, tanto entre o maestro e os instrumentistas, como entre os músicos e com o público. O público português é muito entusiasta. Também acho que é muito receptivo à música com a qual não está familiarizado.”

...

E o artigo continuava.


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