19.12.04
Gesamkunstwerk
Abre hoje a temporada lírica do S. Carlos, com destaque para compositores italianos e uma ausência notada, e esperada, de Wagner. Hoje o Simão Bocanegra de Verdi, o corsário que chegou a Doge... Uma récita para um público seleccionado pelo BCP, o mecenas exclusivo do Teatro. Mais tarde a estreia para o público vulgar, a 21 de Dezembro, terça feira. Mais uma ópera com libreto pífio em termos teatrais, originalmente de Piave, com versão revista posteriormente por Arrigo Boito. Verdi achava que não tinha tido muito engenho ao compor esta obra vindo a refazê-la posteriormente. Parece que a ópera ganhou bastante com isso, e Verdi também, em termos financeiros este "face lift" foi um sucesso de bilheteira.
Sobre o S. Carlos quero dizer que temos uma temporada pobre, a começar muito tarde, com um orçamento reduzido face ao ano anterior. Seis produções teatrais. Um acto da Walküre em versão de concerto (antes da abertura operática) e uma Dama do Lago de Rossini, com o Flores, em versão de concerto.
Sucessivos governos (desde os tempos do primeiro PSD de Cavaco até ao PS e de novo com este PSD) foram retirando dinheiro ao teatro. A temporada acabou nisto, ao nível dos teatros de cidades de terceira na Europa segundo Jorge Calado (palavras do crítico do Expresso na conferência de imprensa de divulgação da temporada quando se dirigia à decorativa secretária de Estado, Teresa Caeiro). Os cantores portugueses não têm onde começar, sequer, a cantar. Formação de novos públicos não existe. Programa de abertura à comunidade é nulo. Número de récitas ínfimo quando comparado com teatros de província em Espanha, por exemplo.
Uma Direcção que, ainda assim, consegue fazer algumas coisas e manter uma qualidade digna de registo nos poucos programas disponíveis. Com inteligência e alguns golpes de rins.
Mas penúria musical (em termos de ópera e não só) é confrangedora, apesar da inteligência de Pinamonti (director do S. Carlos) e de outros programadores, e da boa vontade de muitos agentes. Um país triste de gente triste cujo divertimento é a "quinta das celebridades" e o futebol. Um país de broncos que fazem gala da sua estupidez e ignorância e odeiam quem é diferente. Os broncos que ocupam os ministérios, que gerem as empresas, que andam de carro a matar outros broncos e uns inocentes que se atravessam no caminho, os broncos que governam Portugal nesta ditadura disfarçada de democracia em que vivemos, a ditadura da estupidez. Portugal está igual aos tempos do D. João VI, onde, para variar, sempre havia alguns jesuítas que tinham voltado depois da expulsão ordenada por esse ogre maldito, mas muito estimado, que se chamou: Sebastião de Carvalho e Melo; Camilo Castelo Branco bem o denunciou no "Perfil...".
Mas está tudo bem, o S. Carlos volta a abrir as portas, final de Dezembro de 2004, um mês enganador, em mais um Inverno de muitos descontentamentos, muitos meses depois da última ópera ter passado pelo palco deste teatro de capital da Europa.
P.S. Finalmente um reparo: não percebo a insistência anual e repetida num compositor fraquíssimo, datado, musicalmente repetitivo, e cheio de tiques de mau gosto, como Massenet e o esquecimento de Wagner ou Bizet?
E falo de ópera a sério, encenada, e não de uns actos desgarrados em versão de concerto.
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Sobre o S. Carlos quero dizer que temos uma temporada pobre, a começar muito tarde, com um orçamento reduzido face ao ano anterior. Seis produções teatrais. Um acto da Walküre em versão de concerto (antes da abertura operática) e uma Dama do Lago de Rossini, com o Flores, em versão de concerto.
Sucessivos governos (desde os tempos do primeiro PSD de Cavaco até ao PS e de novo com este PSD) foram retirando dinheiro ao teatro. A temporada acabou nisto, ao nível dos teatros de cidades de terceira na Europa segundo Jorge Calado (palavras do crítico do Expresso na conferência de imprensa de divulgação da temporada quando se dirigia à decorativa secretária de Estado, Teresa Caeiro). Os cantores portugueses não têm onde começar, sequer, a cantar. Formação de novos públicos não existe. Programa de abertura à comunidade é nulo. Número de récitas ínfimo quando comparado com teatros de província em Espanha, por exemplo.
Uma Direcção que, ainda assim, consegue fazer algumas coisas e manter uma qualidade digna de registo nos poucos programas disponíveis. Com inteligência e alguns golpes de rins.
Mas penúria musical (em termos de ópera e não só) é confrangedora, apesar da inteligência de Pinamonti (director do S. Carlos) e de outros programadores, e da boa vontade de muitos agentes. Um país triste de gente triste cujo divertimento é a "quinta das celebridades" e o futebol. Um país de broncos que fazem gala da sua estupidez e ignorância e odeiam quem é diferente. Os broncos que ocupam os ministérios, que gerem as empresas, que andam de carro a matar outros broncos e uns inocentes que se atravessam no caminho, os broncos que governam Portugal nesta ditadura disfarçada de democracia em que vivemos, a ditadura da estupidez. Portugal está igual aos tempos do D. João VI, onde, para variar, sempre havia alguns jesuítas que tinham voltado depois da expulsão ordenada por esse ogre maldito, mas muito estimado, que se chamou: Sebastião de Carvalho e Melo; Camilo Castelo Branco bem o denunciou no "Perfil...".
Mas está tudo bem, o S. Carlos volta a abrir as portas, final de Dezembro de 2004, um mês enganador, em mais um Inverno de muitos descontentamentos, muitos meses depois da última ópera ter passado pelo palco deste teatro de capital da Europa.
P.S. Finalmente um reparo: não percebo a insistência anual e repetida num compositor fraquíssimo, datado, musicalmente repetitivo, e cheio de tiques de mau gosto, como Massenet e o esquecimento de Wagner ou Bizet?
E falo de ópera a sério, encenada, e não de uns actos desgarrados em versão de concerto.
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