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23.11.04

Thielemann e a Walküre hoje no coliseu. 

Stephen Gould,tenor - Siegmund. Susan Anthony, soprano - Sieglinde. Jyrrki Korhonen, baixo - Hunding, Gabriele Schnaut, soprano - Brunnhilde.

Thielemann pode ser um maestro extremamente prometedor mas os cantores foram fracos.
Stephen Gould não tem voz de tenor heróico, a voz apaga-se no registo médio, médio agudo. As partes em fortíssimo em que compete directamente com a orquestra, raras em Wagner pois o compositor raramente tapa as vozes com os instrumentos, foram claramente em perda. A invocação que Siegmund faz de seu pai, Wotan, na palavra Wälse, com o salto descendente de oitava do sol bemol agudo para o médio (leif de Notung -a espada - que Wotan deixou para o filho, cravada na árvore e que Wagner associa ao pai encoberto - Wälse - que, tal como Notung, está escondido) foi um desastre, uma suspensão longuíssima, preparada por Thielemann sobre o trémulo das cordas em fortíssimo para o tenor atingir o clímax foi o total anticlímax, Thielemann bem pedia, mas o tenor não dava! Semelhante a invocação de Notung, mais à frente, agora num salto de oitava descendente do fá agudo para o médio, que saiu um pouco melhor, mas mesmo assim a puxar para o confrangedor. Uma voz pesada, baça, sem brilho. Falhou totalmente no final do primeiro acto da Walküre em que se chegou a perder e a deixar uma frase inteira por cantar, isto com o papel à frente!... Também terrível na lindíssima parte do Winterstürme, a arrastar as frases (a nota final destas) de uma forma abominável, muito para além do que vem escrito, conseguiu com isso perder a entrada na frase seguinte pelo menos uma vez.
Susan Anthony não mostrou dotes invulgares, tendo deixado escapar a voz algumas vezes, tacteando a afinação com portamentos, mostrando graves muito descoloridos e fracos. Não convenceu, quer interpretativamente, quer pela voz.
O baixo Korhonen mostrou-se também pesadão (Hunding é pesadão de qualquer modo) mas pior do que isso, irregular na emissão, bom em algumas notas graves, foi muito fraco no seu registo médio, o sol era um poço...
A Brunnhilde de Gabriele Schnaut foi pior ainda, sem voz, a perder metade das frases por incapacidade de emissão e de respiração. Sem potência, sem cor, sem corpo, foi a negação de qualquer soprano dramático que se preze. Um desastre. Assim Thielemann não chega ao Ciclo de 2006 em Bayreuth.

O naipe dos trombones da Orquestra da Ópera Alemã de Berlim foi um perfeito desastre. Os músicos pareciam desconcentrados, cantavam mal as frases, na marcha fúnebre parecia que estavam a enterrar os restantes colegas da orquestra em vez de celebrar o corpo defunto do Herói caído pela traição do velhaco Hagen.

Sobre a concepção interpretativa de Thielemann fica para amanhã. Um concerto que poderia ter sido excelente e que acabou por ser apenas bom, por mercê de Wagner e da sua música incomparável, por mercê da maior parte da orquestra e por mercê, apesar de tudo, de Thielemann. Veremos em Bayreuth no próximo Verão ...


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