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20.11.04

Thielemann - comentários gratuitos 

Lemos neste Mil Folhas a seguinte frase:
Thielemann prossegue também ele uma bem específica "tradição alemã", cujas referências são Wagner, Strauss e também o arqui-reaccionário Pfitzner.

Como de costume as confusões no texto levam a uma pergunta. O "cujas" refere-se a uma bem específica "tradição alemã" ou a Thielemann que se enquadra nessa tradição?
Enfim, não é importante, importante é o despautério arrogante (e ignorante) de se meter nessa específica tradição alemã Wagner, Strauss e o pobre do Pfitzner, que além de ser um palerma bajulador (de Hitler) se julgava suficientemente importante para criticar o nacional socialismo sem sofrer represálias por parte do sistema nazi (as quais sentiu na pele em 1934). Um pobre compositor que escreveu "Palestrina", uma ópera razoável (para o fraco) que Thielemann reabilitou. O autor deste texto no Mil Folhas esquece que Strauss e Wagner têm importância no trabalho de Thielemann, mas também Schumann, Brahms, Beethoven e até o judeu Schönberg, do qual Thielemann é admirador confesso e intérpre excelentíssimo. A tradição cultural alemã (forçosamente muito variada, porque isso da Alemanha una é coisa que não faz sentido) de Thielemann não se fica por essa imbecil conjunção de dois génios maiores com um pobre diabo academista que acabou por morrer semi-louco e desconhecido em 1949. Schönberg é bem melhor o exemplo da evolução sonora produzida pelo fermento cultural, também bem alemão, de Viena. Além disso o disparate de classificar como "alemão" aquilo que é inclassificável. Será alemão da Turíngia ou da Baviera, ou será da Prússia, terá a ver com Áustria, ou refere-se aos cantões germânicos da Suiça? Não esquecer a Morávia, será que na Morávia não sobraram as tais características alemãs? E nos países bálticos? Ou as cidades Hanseáticas? A Renânia? O Holstein? A Saxónia? Países diferentes, regiões diferentes, uns católicos, outros protestantes. Uns alegres e descontraídos, outros militaristas empedernidos. A Alemanha não existe, bem como não existe uma característica alemã. Não percebo como alguém que diz que é sociólogo (em quase tudo o que escreve) pode ser tão redutor, uma redução que roça a ignorância, misturada com uma grande dose de prosápia e de terminologia complexa para o leitor ficar a pensar que "temos homem". Enjôa e é demais.

Quem escreve em jornais de divulgação nacional deve ter o sentido da responsabilidade sobre o que escreve e não disparar o que lhe vem à cabeça. O acto de ononismo semanal, para exaltação do próprio ego e obter uns discos à borla, de escribas e mais escribas em jornais de referência, sobretudo aos fins de semana, comentando discos incomparáveis, uns de mil novecentos e carqueja e outros saídos anteontem é uma das maiores inutilidades da imprensa portuguesa e um mau serviço para os leitores.

Percebe-se também que estes escribas têm uma discografia recente, pouco apoiada no vinil, devo dizer que eu próprio, com um discoteca relativamente pequena, disponho das gravações de Hans Knappertsbusch em Bayreuth, vinil claro, e que são extraordinárias, não preciso de reedições para nada. Nem para fazer publicidade às editoras...

Finalmente e discorrendo sobre as histórias dos sobreagudos da Flagstad, Richard Osborne diz-nos em 2001 que realmente a própria Schawarzkopf contou a história como verdadeira. Entre o reputado Richard Osborne e o Seabra não é difícil optar pela versão do primeiro.

E quanto a Thielemann se, na próxima segunda feira, poderemos ver e ouvir alguns cantores e uma orquestra de alto nível sob a sua direcção no primeiro acto da Valquíria (que este ano não se ouve em Bayreuth, é o chamado pousio), teremos em Bayreuth, a 28 de Julho do próximo ano o próprio Thielemann a dirigir o Tannhäuser. Esperamos tirar conclusões ao vivo com estas duas performances de Thielemann, sem ter de escutar as gravações trabalhadas e maquilhadas em estúdio.

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