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13.11.04

E não se enganaram no dia? 

Sexta, 12 (não devia ser 13?) de Novembro 2004 pelas 19:30h, Reitoria da Universidade Nova. Concerto pela OSP, maestro Donato Renzetti.
Programa:
Eurico Carrapatoso
Música Praxitélica para dois deuses do Olimpo
Franz Joseph Haydn
Sinfonia n.º 103 em Mi bemol «Paukenwirbel» (O Rufar do Tambor)
Wolfgang Amadeus Mozart
Sinfonia n.º 40 em Sol Menor, K. 550

Sob o Signo da Moca

O concerto começou por uma obra tonal com um nome esquisito, os nomes deste calibre são habituais em Carrapatoso. Tivémos esperança que a obra fosse, dentro do estilo côncavo do autor, uma pragmática elíptica que nos levasse à negação das analíticas esperanças de um paraíso plano de convergências e de citações, mesmo que limitadas. Nada disso, a obra de Carrapatoso nem plano nem elipse, nem parábola. As notas descarregadas contituíram motivo de uma longa meditação aos ritmos populares do autor, tão típicos da sua arreigada e concentrada raiz transduriense, que terminaram numa metafísica e contrastante reflexão sobre a sétima arte. Uma ideia de abismo surgida nos primeiros compassos submersa pela repetição exaustiva dos motivos iniciais da obra na primeira secção, uma segunda secção que levaria Sampaio às lágrimas, se estivesse presente. Devries o concertino perdeu o tempo e o ritmo nos seus solos. Já sabemos que este violinistas não usa o arco, nas mãos de Devries o arco torna-se moca, que é usada com liberalidade sobre as pobres cordas do seu martirizado instrumento! E foi sob o signo da moca que prosseguiu o concerto...

Haydn tem na sua sinfonia 103 uma das mais belas obras que escreveu. É uma peça clássica de um equilíbrio enorme, uma peça de uma densidade e beleza difíceis de descrever. A OSP conseguiu banalizar o génio de Haydn. Não é pouco, Renzetti bem se esforçava por puxar pela orquestra, mas mesmo com bom cocheiro a carruagem não andava para a frente... Os violinos ameaçados pela moca omnipresente do concertino tocavam tudo a arrastar, tudo em esforçadíssimo, tudo em excesso, um excesso de agressividade no som, de aterrorizar, sem avançar na música, pesado, agressivo. O concertino continua a entrar antes do tempo para se exibir, mas depois atrasa por falta de técnica... Uma aflição... Uma orquestra infeliz a tocar uma obra maravilhosa. O som dos violinos saía feio, deselegante, horrível. Não sei se por excesso de entrega, de pressão dos arcos, se por existirem demasiados instrumentos de má qualidade, o som dos violinos neste concerto foi horrendo. Nem comento a entrada, feita com grande aflição pelos instrumentistas, sem acertarem na coesão necessária para tocar ao menos as notas iniciais ao mesmo tempo.
As violas não estiveram bem no coração da orquestra a sua sonoriadade não foi bonita, pareceram pouco coesas. Os violoncelos e contrabaixos pareceram-me os mais felizes naquilo tudo (embora desafinados), mas com os violinos a andar para trás e a arruinar tudo, sob a moca de Devries, tornava-se impossível fazer melhor.
A flauta gosta muito de se ouvir, atrasa sempre que faz solos e desafina no final das frases... Se no primeiro concerto desta série escapou o Carolino Carreira no fagote, que tocou muito bem nas passagens mais "bravas" do Mozart, o qual me esqueci de referir na crítica feita na altura, ontem tivemos um jovem no clarinete, infelizmente não sei o seu nome, que fez uns belíssimos solos e tem uma sonoridade muito bonita, a bisar a boa prestação do concerto de sábado passado.
As passagens mais a descoberto do primeiro violino foram sempre um desastre, um exagero de sonoridade que roçava o ridículo. Será que o homem tem um violino eléctrico, com amplificador, disfarçado de violino acústico??? Mau gosto, acentuação desmedida nas anacruzas, de arrepiar. Mau gosto, histeria. Excesso de som nas cordas mais agudas atingindo espasmos de sonoridade irritante. Nas cordas mais grossas Devries deixa de se ouvir, passa a ser monótono porque se ouve pouco e deixa de se esforçar. A frase musical como instrumento da vaidade pessoal do músico? Onde fica a música no meio disto tudo? Lamentável. A moca, a moca.
Pinamonti estava presente, será que o senhor director é surdo? Ou espera por melhores dias para acabar com esta tortura. Aconselho o director do teatro a escutar o maestro Renzetti, um bom maestro não pode ser insensível a uma tão grande falta de sentido estético e musical. Se o maestro elogiar Devries calo-me para sempre, mas não o creio.
Sopros superiores aos violinos e violas.
O tímbaleiro esteve bem, o que revela que um tutti pode fazer o lugar dos solistas que, no momento do concerto, devem estar em casa à lareira, nestes dias frios de Novembro, ou então desertaram para outras paragens...

A conhecidíssima sinfonia 40 de Mozart teve uma interpretação com um pouco mais de respiração, mas os violinos sob o signo da moca voltaram a um estado de arruaça global sobre a sonoridade clássica que se pretende em Mozart. Um descalabro que arruina o bom trabalho de Renzetti com a orquestra nos outros naipes. É notória a evolução da OSP sob a batuta de Renzetti, as articulações saem bem trabalhadas, as sonoridades saem coesas, mas quando os violinos têm uma liderança assim até o mais obscuro violinista do mundo seria um bom concertino. Um trabalho sério arruinado pela vaidade e incompetência de um só músico que leva para o abismo um naipe inteiro, ainda por cima o naipe mais importante em Haydn e Mozart, a voz condutora da melodia na orquestra.
Quando vi a cadeira vazia para a entrada atrasada do concertino Devries para receber as palmas chocas da vaidade, pensei logo: porque será que este não ficou em casa, com os timbaleiros solistas. A esperança é sempre a última coisa a morrer e ainda pensei que o trabalho de ensaio com Renzetti tivesse alterado os problemas da última sexta feira, mas não, foi pior ainda. Não estou presente nos ensaios mas será que o concertino se comporta assim apenas no concerto?

Fica a pergunta, Um Concerto Sob o Signo da Moca que parecia ter decorrido numa sexta feira 13.

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