15.10.04
Um concerto banal
Hoje na Gulbenkian.
CORO DE CÂMARA INFANTIL DA ACADEMIA DE MÚSICA DE SANTA CECÍLIA
LAWRENCE FOSTER (maestro)
LUCY SCHAUFER (meio-soprano)
LILIANA BIZINECHE-EISINGER (meio-soprano)
RICHARD SHAPP (barítono)
MERVON MEHTA (narrador)
Gustav Mahler
Adagietto (da Sinfonia Nº 5)
Eric Zeisl
Requiem Ebraico: Salmo Nº 92, para orquestra, três solistas e coro misto
Leonard Bernstein
Sinfonia Nº 3, Kaddish
Um adagietto executado sem chama nem pathos pelas cordas e harpa. Desafinações aqui e ali nos agudos. Um problema que não existia na orquestra Gulbenkian a ter de ser tratado, com brevidade.
Um requiem ebraico de um compositor judeu fugido da Alemanha. Uma obra menor de um compositor menor. Sem inovação, uns toques "orientais" e uma música de uma banalidade confrangedora. Liliana Bizineche desastrosa, creio que nunca entrou afinada, raramente deu as notas certas, uma interpretação inacreditável. Um barítono banalíssimo, com má articulação. Uma meio soprano (Shaufer) absolutamente mediana, e que ainda escapou ao panorama fracote dos solistas. O coro a fraquejar aqui e ali na afinação e na segurança nas entradas e no ritmo. Uma primeira parte muito duvidosa.
A segunda parte foi preenchida com a sinfonia nº 3 de Bernstein. Um bom compositor de música para filmes, um excelente maestro mas que não me convence como compositor americano "sério". Uma sinfonia cheia de efeitos teatrais com um narrador de voz completamente rouca, pareceu bom actor mas o estado miserável da sua voz (amplificada) fez perder as nuances sonoras de um inglês bem pronunciado. Efeitos, teatralidade, texturas (pós Ligeti), complexidade na estrutura ritmica, mas em termos musicais uma obra pouco inovadora, serôdia. Demasiado barulho na própria partitura. Efeito fácil para o público americano? Na prática hoje aconteceu demasiada gritaria no coro (em versão alargada) a desafinar claramente nos agudos, o que chegou a ser doloroso. Pouca subtileza dinâmica do maestro, pouco equilíbrio na orquestra onde faltaram cordas (violoncelos precisam-se na Gulbenkian) e excesso de violência sonora nos sopros, madeiras e metais todos exagerados.
Não percebo porque razão a orquestra Gulbenkian afina pelo oboé quando está presente um piano. O piano não pode afinar para acompanhar a afinação da orquestra, mas o contrário pode e deve ser feito. Erro técnico? Esquecimento?
O coro de crianças cumpriu muito razoavelmente, com os defeitos inerentes a um coro de crianças. Mas o empenho dos jovens foi enternecedor.
Gostei da tuba e trombones em Bernstein quando mais expostos, gostei menos do peso global dos sopros face às cordas.
Em suma um concerto com alguma competência, uma certa qualidade intrínseca da orquestra e do maestro. Solistas duvidosos e uma cantora desastrosa: Bizineche. Um programa bonito no papel mas que resulta maçador na prática. A primeira parte com um adagietto retirado do contexto da 5ª de Mahler e com a orquestra ainda a frio, uma pequena obra prima que nada tem a ver com o resto das obras em palco. Porque não apresentar as obras primas contemporâneas, onde pára o Berio? Onde vive o Ligeti? Em vez de um clássico "popular" como Bernstein porque não um compositor como Lopes Graça? Em vez de uma obra "judaica" de 1945, absolutamente banal, porque não um Bartók?! Escolhas...
Sobre Foster: interpretações demasiado simplistas, menos equilibradas que no ano anterior em termos sonoros. Espero que vá subindo com a temporada para atingir de novo a nível elevado a que estamos habituados. Menos gestos e mais trabalho de ensaio, casacos com melhor corte e uma indumentária mais apropriada a um maestro frente a cento cinquenta músicos e cantores também se agradeciam.
Um concerto para 11, digamos 12 valores com água benta. Ao menos vem aí o quarteto Vermeer e o Kissin para a semana.
P.S. Sobre a "crítica" feita na rádio antena II, programa da manhã de João de Almeida, sexta feira de manhã, apenas posso considerar que foi totalmente inadequada para o concerto a que assisti hoje (repetição do concerto de ontem). A rever o excesso de entusiasmo juvenil...
CORO DE CÂMARA INFANTIL DA ACADEMIA DE MÚSICA DE SANTA CECÍLIA
LAWRENCE FOSTER (maestro)
LUCY SCHAUFER (meio-soprano)
LILIANA BIZINECHE-EISINGER (meio-soprano)
RICHARD SHAPP (barítono)
MERVON MEHTA (narrador)
Gustav Mahler
Adagietto (da Sinfonia Nº 5)
Eric Zeisl
Requiem Ebraico: Salmo Nº 92, para orquestra, três solistas e coro misto
Leonard Bernstein
Sinfonia Nº 3, Kaddish
Um adagietto executado sem chama nem pathos pelas cordas e harpa. Desafinações aqui e ali nos agudos. Um problema que não existia na orquestra Gulbenkian a ter de ser tratado, com brevidade.
Um requiem ebraico de um compositor judeu fugido da Alemanha. Uma obra menor de um compositor menor. Sem inovação, uns toques "orientais" e uma música de uma banalidade confrangedora. Liliana Bizineche desastrosa, creio que nunca entrou afinada, raramente deu as notas certas, uma interpretação inacreditável. Um barítono banalíssimo, com má articulação. Uma meio soprano (Shaufer) absolutamente mediana, e que ainda escapou ao panorama fracote dos solistas. O coro a fraquejar aqui e ali na afinação e na segurança nas entradas e no ritmo. Uma primeira parte muito duvidosa.
A segunda parte foi preenchida com a sinfonia nº 3 de Bernstein. Um bom compositor de música para filmes, um excelente maestro mas que não me convence como compositor americano "sério". Uma sinfonia cheia de efeitos teatrais com um narrador de voz completamente rouca, pareceu bom actor mas o estado miserável da sua voz (amplificada) fez perder as nuances sonoras de um inglês bem pronunciado. Efeitos, teatralidade, texturas (pós Ligeti), complexidade na estrutura ritmica, mas em termos musicais uma obra pouco inovadora, serôdia. Demasiado barulho na própria partitura. Efeito fácil para o público americano? Na prática hoje aconteceu demasiada gritaria no coro (em versão alargada) a desafinar claramente nos agudos, o que chegou a ser doloroso. Pouca subtileza dinâmica do maestro, pouco equilíbrio na orquestra onde faltaram cordas (violoncelos precisam-se na Gulbenkian) e excesso de violência sonora nos sopros, madeiras e metais todos exagerados.
Não percebo porque razão a orquestra Gulbenkian afina pelo oboé quando está presente um piano. O piano não pode afinar para acompanhar a afinação da orquestra, mas o contrário pode e deve ser feito. Erro técnico? Esquecimento?
O coro de crianças cumpriu muito razoavelmente, com os defeitos inerentes a um coro de crianças. Mas o empenho dos jovens foi enternecedor.
Gostei da tuba e trombones em Bernstein quando mais expostos, gostei menos do peso global dos sopros face às cordas.
Em suma um concerto com alguma competência, uma certa qualidade intrínseca da orquestra e do maestro. Solistas duvidosos e uma cantora desastrosa: Bizineche. Um programa bonito no papel mas que resulta maçador na prática. A primeira parte com um adagietto retirado do contexto da 5ª de Mahler e com a orquestra ainda a frio, uma pequena obra prima que nada tem a ver com o resto das obras em palco. Porque não apresentar as obras primas contemporâneas, onde pára o Berio? Onde vive o Ligeti? Em vez de um clássico "popular" como Bernstein porque não um compositor como Lopes Graça? Em vez de uma obra "judaica" de 1945, absolutamente banal, porque não um Bartók?! Escolhas...
Sobre Foster: interpretações demasiado simplistas, menos equilibradas que no ano anterior em termos sonoros. Espero que vá subindo com a temporada para atingir de novo a nível elevado a que estamos habituados. Menos gestos e mais trabalho de ensaio, casacos com melhor corte e uma indumentária mais apropriada a um maestro frente a cento cinquenta músicos e cantores também se agradeciam.
Um concerto para 11, digamos 12 valores com água benta. Ao menos vem aí o quarteto Vermeer e o Kissin para a semana.
P.S. Sobre a "crítica" feita na rádio antena II, programa da manhã de João de Almeida, sexta feira de manhã, apenas posso considerar que foi totalmente inadequada para o concerto a que assisti hoje (repetição do concerto de ontem). A rever o excesso de entusiasmo juvenil...
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