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14.10.04

A sondagem e o aviso 

A sondagem feita neste Blogue sobre a passagem de Zoltan Peskó, ex-maestro titular do Teatro Nacional de S. Carlos é esclarecedora.
Creio que apenas conhecedores votaram nesta sondagem, tivemos alguns milhares de visitas (cerca de 2500) nos dias da sondagem, iniciada no dia 6 de Outubro de 2004 e terminada no dia 13 do mesmo mês pelas 24h. No entanto apenas 114 pessoas, eu próprio votei, expressaram a sua opinião. Dessas 114 pessoas 105 acham que Peskó não deve ser nomeado maestro honorário do S. Carlos, 92% dos votantes. Até parece que Fidel de Castro esteve metido nesta votação!
Evidentemente a opinião das pessoas, e sobretudo da crítica, não conta muito para a direcção do mesmo Teatro. Peskó já foi nomeado maestro honorário, seja isso o que for. Independentemente de ser incompetente, de ser incapaz de dirigir uma orquestra sinfónica do princípio ao fim de uma ópera ou num concerto.
Segundo imagino, um maestro honorário é alguém que prestou serviços relevantíssimos, que se destacou por ter prestígio e competência invulgar. Por ser brilhante. Recordo que maestros como Levine não foram nomeados maestros honorários nas melhores orquestras do mundo depois de finalizados os seus contratos. Peskó conta no seu currículo uma das maiores pateadas de todos os tempos no Scala. Uma pateada que abriu mesmo o noticiário da RAI I, televisão. Mas há pior: Peskó tem na sua lista de barbaridades uma das piores interpretações de todos os tempos do Tristan und Isolde, acto a acto em versão de concerto, na Culturgest em Novembro de 2003. Uma leitura sem qualquer capacidade analítica, sem qualquer perspectiva interpretativa de registo, uma leitura a ler as notas e mal, salva no último acto por uma orquestra e cantores que sobreviveram ao maestro por milagre e apesar deste. Uma orquestra que, entretanto, soçobrou terrivelmente no segundo acto pela incapacidade de direcção, de ensaio, de preparação, parecendo que estavam a ler as notas à primeira vista. Peskó foi incapaz de acertar nos tempos, nas entradas, de conduzir o que quer que seja no exigentíssimo segundo acto da tremenda obra de Wagner. Despedimento certo no Scala ou em Londres, honorário em Lisboa.
Se fosse apenas o Wagner, o facto é que este maestro assassinou repetidamente obras de grandes compositores, lembro a Ariadne auf Naxos de Richard Strauss, em que mais um compositor foi maltratado por um maestro incapaz das sonoridades refinadas que se lhe impunham.
O coro de João Paulo Santos (bendita a hora em que foi posto na prateleira dourada) com Peskó no comando da orquestra atingiu níveis de infâmia musical, sempre a coberto da batuta complacente deste húngaro fora de prazo (creio que nunca esteve dentro). Um homem capaz de receber milhares e milhares de contos por récitas de ópera (2500 para estreias e 2000 para récitas normais), mais um vencimento mensal de 800 contos, mais milhares e milhares por concertos onde espalhou a sua total incapacidade de dirigir. Um titular que passava dois meses por ano em Lisboa (com generosidade).
Outros haverá que são ou foram piores, dizem-me. Piores? Mas porquê comparar Peskó com os piores dos piores? Encinar, o anterior titular? Mas andamos a pedir comparações entre indigentes e miseráveis? É evidente que se comparar Peskó com João Paulo Santos temos de dizer que o húngaro ainda conseguia (há uns tempos) dizer se duas flautas em uníssono tocam afinadas. Mas a um maestro pede-se mais do que isso. Pede-se honestidade na sua relação com as obras, pede-se respeito pelo público. Não se pede a um maestro titular que passe os ensaios a olhar para o relógio (como me disse um cantor de ópera dirigido por Peskó e que achou a experiência desconcertante). Não se espera, nem numa república das bananas, que se promova a incompetência ao estatuto de honorária!

Henrique Silveira


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