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9.10.04

O Criativo de Factos Políticos 

Portugal é um país pequeno. Muito pequeno. No entanto existe uma opinião pública e uma indústria ligada à comunicação social.
Esta indústria necessita de factos, os chamados factos políticos, quanto mais quentes, mais sórdidos, mais polémicos, melhor. Os piores instintos desta sociedade simiesca em que vivemos são despertados pelo lado sórdido, chocante, mórbido, pelo choque, pela ânsia de espanto e de sensação. A curiosidade humana não resiste a um acidente com mortos e carros espatifados, as pessoas param. Um atropelado ou um trucidado por um comboio são pitéus a que o nosso povo não resiste. É humano, dirão.
Relativamente aos poderosos, aos detentores de cargos políticos, aos ricos, nota-se que os membros da classe média, e o povo em geral, se pelam por ver os primeiros em trajes menores, de chinelos, dentro das suas casas pirosas, para servirem de modelo. Por outro lado ver os ricos e poderosos a cairem em desgraça é também apetitoso, é o momento em que a curiosidade popular se regozija com as desgraças alheias, em que a inveja rasteira se compraz com a queda dos anjos que servem de modelo noutras ocasiões.
Infelizmente os modelos, os tais "ricos" os "famosos", as tais "celebridades" são modelos de mediania e de mediocridade exemplares. Basta olhar para a classe política portuguesa, basta atentar na cultura da pretensa elite. Elite? Sim, a elite que na Renascença encomendava quadros a Rafael, que dava a Leonardo todas as condições para criar, aliás com pouca produtividade para os usos da época. A mesma elite que patrocinava as artes, que discutia Dante em Florença. Que fundava a ópera nesta cidade. A elite que mantinha uma vida cultural riquíssima em Veneza. Com que orgulho os burgueses de Veneza mantinham a sua actividade musical, a sua Capela de S. Marcos com os seus coros múltiplos, os seus orgão, os seus músicos. Os dois Gabrieli, Monteverdi, Vivaldi entre tantos outros como Schütz, que tanto devem a Veneza. A elite que pagava a cientistas, a astrónomos, que fundava academias e sustentava universidades.

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Hoje em dia a "elite" portuguesa é o Jardim Gonçalves, o Belmiro de Azevedo, o Paes do Amaral, o Balsemão e espécimes afins. Na classe política a "elite" são os ministros, ex-ministros e futuros ministros, mais alguns "senadores". Quando Mário Soares é visto como uma referência do estado democrático, um ex libris do Portugal do final do século XX e início do século XXI está tudo dito. Junte-se ao Soares o actual presidente, o primeiro ministro e outros líderes políticos, o Alberto João, o Valentim Loureiro, o Narciso Miranda, a Fátima Felgueiras, e percebe-se a situação triste deste pobre país.
Os fazedores da política portuguesa os chamados "Criativos Políticos" são o Luís Delgado, o Marcelo Rebelo de Sousa, o Boaventura, o José Manuel Fernandes, o Vilaverde Cabral, o Pulido Valente, a Constança, o Carlos Magno, a Sousa, o Tipo do Laço, o Vicente (uma estrela apagada cuja saída do PS deu direito a notícias na penúltima página)...Já a canalhada do Barnabé entre outras amostras mais ou mesmo do mesmo calibre como o Seabra, afinal todos bloquistas, ainda estão na fase de candidato a Criativo de Factos Políticos! Não é preciso ser um grande analista político (i.e. Criativo de Factos Políticos) para perceber que entre os inventores da coisa política também estamos em franca penúria. Os chamados comentadores políticos têm de criar os factos políticos, que não existem na realidade, para se alimentarem a si e a quem lhes paga uma vez que o produto natural não existe. Santana Lopes é demasiado cuidadoso, dentro da sua mediocridade, para oferecer notícias, é aquilo a que se chama um esperto sem ser inteligente, um habilidoso sem ser hábil.
Mas, felizmente para os Criativo de Factos Políticos, existem ainda personalidades tão pouco dotadas que dão espaço para a criação dos tais factos. Os inventores de factos políticos têm enormes carências culturais, veja-se o Mega culto Prado Coelho que é um mau inventor de factos políticos e prefere comentar os factos inventados pelos outros quando não discorre sobre os problemas existênciais originados pelo movimento ou inacção do seu próprio umbigo. Amaral Dias pertence a esta categoria de comentadores de Factos Políticos frios, não é um Criativo, é um Dissecador de Factos Políticos. Os Criativos abusem da indigência dos compradores. Mas uma coisa têm: são mesmo criativos, é a sua maior qualidade a par de parecerem bem na televisão (com excepção do José Manuel Fernandes com a sua imagem de marca oleosa e camisas berrantes mas que não cria muitos factos), eles são pomposos, são imperiais, apresentam-se credíveis e sempre isentos, até o Delgado gosta de parecer isento por mais absurdo que isto possa parecer! Outro aspecto é falarem sempre de coisas imaginadas como se tratasse da realidade pura, da mesma realidade das pessoas que trabalham, que têm de produzir conhecimentos e riqueza. O que é importante é que não se perceba que estão a manipular o real e a subverter todos os princípios da liberdade de expressão, ou do acesso das pessoas à informação. Acrescenta-se a esta situação o jogo dos espelhos em que assessores, políticos, jornalistas e Criativos Políticos convivem todos, todos tentando obter dividendos, todos dormindo (em sentido figurado e real), bebendo e comendo uns com os outros. Todos tentando manipular todos. Nenhum consegue tirar grandes dividendos porque estão todos demasiados metidos no jogo e são todos muito fracos para perceber o que se passa realmente.
Grandes ajudantes dos Criativos de Factos Políticos são os protestantes crónicos, os tipos do aborto, os bloquistas, os dez manifestantes anti-touradas, os tipos anti-aborto, os três sindicalistas à porta do ministro Y, os quinze manifestantes anti propinas, os magistrados que querem dar nas vistas, o Procurador com as suas respostas, reparo que Barrancos e Sampaio já deram o que tinham a dar, eles não pagam a multa e já ninguém leva a sério os discursos do presidente. Mas ainda sobram imensos grupos folclóricos que chamam as Televisões sempre que querem e que fomentam a criação de Factos Políticos.
Falemos agora dos irrelevantes (nem conseguem ser medíocres) do tipo de Rui Gomes da Silva, um rapaz impulsivo, provavelmente cheio de boas intenções, incapaz de se conter dentro dos limites das suas funções. Geralmente não se dá por ele, não serve para nada ao contrário de Marques Mendes nas mesmas funções, Silva é bom rapaz e amigo de Santana Lopes. Enganam-se os que pensam que Silva é um peso morto, não o é em absoluto, estes políticos são de uma utilidade extrema para um bom inventor político: servem como gatilho, como pequena chama que se transforma em fogo depois de bem regada pela gasolina do comentário do "Criativo de Factos Políticos" na sua coluna no DN ou do Público ou mesmo com as honras do Expresso. O fogo transforma-se num tremendo holocausto quando o assunto passa, facilmente, para a televisão. Claro que a TSF tem o exclusivo que foi dado duas horas antes pela Antena 1. O facto dissipa-se lentamente nos blogues, arrastando-se por mais alguns meses.
Normamente uma criatura tão irrelevante, como o ministro Silva, nunca arrancaria de Marcelo Rebelo de Sousa mais do que uma farpa, uma bandarilha. Marcelo nunca se daria ao trabalho de massacrar este Silva por mais de um minuto. Mas acontece que Gomes da Silva é ministro da república portuguesa, ou seja os seus comentários não são comentários, são o discurso do poder. O que diz, o que quer que seja, sobre comunicação social é imediatamente pressão do poder sobre a suposta "imprensa livre". O Silva é um joker que o "Criativo de Factos Políticos" tem à mão sempre que a coisa amorna. Depois das colocações de professores era necessário algo, Gomes da Silva dá (presume-se que involuntariamente) uma mãozinha à malta da SONAE, da IMPRESA, da MEDIA CAPITAL, da PT e das suas congéneres com umas bocas irresponsáveis e irreflectidas.
Marcelo um génio táctico, ainda falta provar se é génio estratégico, percebeu de forma aguda os dividendos que poderia tirar das espumantes declarações de Silva. "Retirou consequências políticas". O facto político deixou de ser apenas sonhado, imaginado, fabricado para ser repercutido pelos seus pares sempre prontos para ampla divulgação e cobertura. O facto político deixou de estar apenas na cabeça de Marcelo. Não era apenas uma fria vichyssoise que se serve como a facada dada a Santana. Era um Facto Político quente, pulsante, era de carne e osso. O sonho de Marcelo tornava-se realidade, o próprio Marcelo corpo e espírito, passava a ser o "Facto Político". O comentador transformado no comentário ou o contrário, parece Piradello mas é Portugal. A cereja em cima do bolo é um toque de mestre: a benção do patrono da nulidade portuguesa. Uma benção que cai do céu sobre o Corpus Factus. O presidente chama Marcelo, tudo à mistura com indignação e palmas de meio PSD. Marcelo aclamado pela esquerda. Marcelo o "Facto Político" o Himself made Fact made Himself. Marcelo a vítima das tropelias do poder! Marcelo o amordaçado! Marcelo o independente!

Seria realmente ridículo se isto não representasse a tragédia de Portugal, sem reformas e com 9% de analfabetos e um milhão de alcoólicos no dealbar do século XXI.
O financiamento à arte e à cultura privada agora retém 25% na fonte para financiar os gastos de um governo que não apoia a cultura, que desinveste na Universidade, que abandona o ensino à mais pobre das indigências. O mesmo governo que é incapaz de reformar, que tem como critério para escolhas de ministros o facto de se ser amigo do primeiro ministro.
Santana de caminho fica arrumado. Gomes da Silva naturalmente teria de ser demitido mas Santana é amigo do ministro e não tem capacidade de manobra porque não tem legitimidade eleitoral, não tem a legitimidade do mérito e não tem o apoio do próprio partido.
Afinal o único inteligente é o Marcelo. Marcelo reserva moral da Nação! Marcelo Presidente de todos os Portugueses! E eis Marcelo o candidato natural se Cavaco não avança.

P.S. O tipo do laço é o Nocolau Santos.

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