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15.10.04

Manhãs de Rádio - Antena II 

O programa da manhã na Antena II tem sido uma agradável renovação da rádio pública. João Almeida, Judite Lima e Ana Paula Russo (ordem alfabética de apelido) fazem um programa agradável de ouvir, música bem escolhida, amor pela mesma. Mistura com informações úteis. Frescura, equilíbrio, rádio bem feita, bem comunicada. Empatia com o ouvinte. Alegria. É um prazer escutar os momentos de rádio que eu tenho escutado todas as manhãs.
Reparos: um espaço de três horas retira obras de longa duração, obras como sinfonias e concertos, obras dos quais os autores do programa devem gostar mas que o formato do programa impede.
A voz de João Almeida está mal equalizada (pelo menos hoje estava). Seria preferível escutar a voz do comunicador com menos agudos (uma opinião pessoal), uma voz mais profunda acaba por acariciar o ouvido de quem a escuta, torna-se mais quente. Uma voz demasiado rica em agudos misturados com graves, mas com poucos médios, torna-se um pouco cansativa. Se o programa vem para ficar, e merece-o, o trabalho de equalização deve ser feito com muita atenção e cuidado. Judite Lima tem uma voz, no meu entender, excelente, amável sem ser em excesso, densa e encorpada. Uma voz que inspira confiança. Ana Paula Russo curiosamente, tem o inconveniente de ter uma voz demasiado timbrada, muito rica em agudos. Boa para cantar mas difícil em rádio. Isso e a mania de pronunciar os nomes em "alemanês" fazem com que a cantora pareça um pouco arrogante, coisa que, de facto, não é. Tem de se afirmar pela inteligência e gosto musical, uma vez que a sua voz de cantora é já uma imagem de marca e não pode hoje ser alterada por equalização diferente.

O prazer de escutar rádio regressa nas manhãs da antena 2. O formato ainda talvez deva ser melhorado. É natural que assim aconteça. O tempo em rádio é lento. um programa demora meses a afirmar-se e deixa de ser um programa novo ao fim de um ano. O público conquista-se devagar. Mas João Almeida e Judite Lima sabem isso melhor que ninguém e que há arestas a limar. Não são autistas, sabem escutar o público e isso é muito bom.
As criticas têm de ser melhoradas. Hoje escutei a crítica ao concerto da Gulbenkian de ontem, como vou escutar hoje o concerto, em repetição, tirarei a limpo se esta crítica foi correcta ou se pecou por excesso de benevolência como João Almeida comentou. É preciso relativização, escutar muito, ouvir os melhores intérpretes para poder depois estabelecer comparações. Ter ouvidos e cérebro, recordar que existem mais pessoas a ouvir os concertos. Meditar e saber, conhecer as obras, conhecer os estilos, as técnicas, ler muito, aspectos muito importantes e que não se apreendem em dois dias. Mas há tempo...
Nota muito positiva para as manhãs da A2.

P.S. Bylsma toca a BWV 1006 (originalmente destinada ao violino) em violoncelo piccolo e não em violoncelo! Um instrumento do tempo de Bach que poderia também servir para os jovens aprenderem. É importante reparar na sonoridade mais rica nos agudos e na agilidade maior do instrumento, estas informações às vezes são mais úteis do que dizer que Bylsma é um grande violoncelista ou que Bach era fantástico.


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