23.10.04
Kissin Excelente - Orquestra muito boa no concerto em mi bemol maior e medíocre no concerto em sol maior de Beethoven
No primeiro programa, quinta feira passada, o fraseado de Kissin não esteve propriamente ao seu melhor nível, com alguns problemas, muito localizados, de fluidez nas passagens muito rápidas, problemas que se notaram, sobretudo, no terceiro concerto dos três primeiros que tocou neste ciclo.
Hoje na Fundação Gulbenkian escutámos um Kissin perfeitamente superlativo, um Kissin que lutou muito contra a orquestra no rondo do concerto em sol maior. Uma orquestra totalmente desastrada no mais delicado concerto de Beethoven. O rondo do concerto opus 58 foi o pior momento dos dois programas, a orquestra entrou no terceiro andamento de forma pesada e sem qualquer chama, factor que já se tinha notado antes, por exemplo, nos compassos 52 e 53 do primeiro andamento onde se notaram gravíssimos problemas de acerto entre cordas e sopros, falta de exactidão e de coesão. Os sopros foram, aliás, completamente infelizes neste concerto, para mim o mais belo de Beethoven, que preenchia a primeira parte do programa de hoje.
Volto ao rondo do quarto concerto de Beethoven: Kissin tentou dar um andamento vivo (vivace) mas a orquestra tentava puxar para trás, uma terrível luta que Kissin chegou a perder no momento em que deu notas erradas e perdeu (instantaneamente) a concentração. Uma orquestra a carburar mal atrapalha claramente qualquer solista mesmo que seja um dos melhores do mundo. Consequência: uma primeira parte muito boa por parte por parte do pianista e fraca (relativamente) por parte da orquestra. Se a orquestra Gulbenkian quiser fazer digressões e gravações com este ciclo tem de preparar melhor esta obra ao nível do acerto rítmico e da coesão. Nem todos os públicos são tão generosos (ou ignorantes) como o de Lisboa...
Com respeito ao concerto em si bemol maior, conhecido impropriamente como "Imperador", tivemos Música a sério. O prazer de ouvir um grande solista numa obra espantosa com uma orquestra bem preparada e a tocar empolgada foi notável. Finalmente a impressionante capacidade técnica de Kissin veio ao de cima. Uma capacidade de articular com um detalhe incrível todas as notas, por mais difícil que fosse a passagem, é certo que à custa de marcar o tempo com um rigor cartesiano, às vezes muito matemático e pouco poético. Mas é a lei das coisas, é quase impossível fazer todos os detalhes com perfeição técnica absoluta e ao mesmo tempo tocar com o sentimento dos poetas. Kissin é um assombro técnico, quando está no máximo da forma, e foi um assombro escutar o recorte do concerto em si bemol maior, pena uma única nota errada no terceiro andamento e um ponto em que foi irregular no dedilhar, senão teria sido quase sobre humano. Uma nota trocada pode ser agradável, lembra-nos a condição humana do intérprete.
Os andamentos lentos, mesmo que um pouco frios, acabaram por nos trazer a poesia que faltou nas passagens mais rápidas. A orquestra neste quinto concerto esteve irrepreensível (cuidado clarinetes com a concentração no segundo andamento, evitem notas trocadas por distracção). Foster foi muito correcto na leitura do texto de Beethoven e conseguiu entusiasmar a orquestra. Não ouvimos o pianista a "carregar com a orquestra às costas". Excelente música num programa memorável, sobretudo, pela segunda parte. A Fundação Gulbenkian está de parabéns por este momento e o público teve o privilégio de ouvir uma das melhores interpretações ao vivo do concerto em mi bemol maior de que há memória desde o célebre concerto de Viena com Michelangeli e Giulini. Sem exagero...
Hoje na Fundação Gulbenkian escutámos um Kissin perfeitamente superlativo, um Kissin que lutou muito contra a orquestra no rondo do concerto em sol maior. Uma orquestra totalmente desastrada no mais delicado concerto de Beethoven. O rondo do concerto opus 58 foi o pior momento dos dois programas, a orquestra entrou no terceiro andamento de forma pesada e sem qualquer chama, factor que já se tinha notado antes, por exemplo, nos compassos 52 e 53 do primeiro andamento onde se notaram gravíssimos problemas de acerto entre cordas e sopros, falta de exactidão e de coesão. Os sopros foram, aliás, completamente infelizes neste concerto, para mim o mais belo de Beethoven, que preenchia a primeira parte do programa de hoje.
Volto ao rondo do quarto concerto de Beethoven: Kissin tentou dar um andamento vivo (vivace) mas a orquestra tentava puxar para trás, uma terrível luta que Kissin chegou a perder no momento em que deu notas erradas e perdeu (instantaneamente) a concentração. Uma orquestra a carburar mal atrapalha claramente qualquer solista mesmo que seja um dos melhores do mundo. Consequência: uma primeira parte muito boa por parte por parte do pianista e fraca (relativamente) por parte da orquestra. Se a orquestra Gulbenkian quiser fazer digressões e gravações com este ciclo tem de preparar melhor esta obra ao nível do acerto rítmico e da coesão. Nem todos os públicos são tão generosos (ou ignorantes) como o de Lisboa...
Com respeito ao concerto em si bemol maior, conhecido impropriamente como "Imperador", tivemos Música a sério. O prazer de ouvir um grande solista numa obra espantosa com uma orquestra bem preparada e a tocar empolgada foi notável. Finalmente a impressionante capacidade técnica de Kissin veio ao de cima. Uma capacidade de articular com um detalhe incrível todas as notas, por mais difícil que fosse a passagem, é certo que à custa de marcar o tempo com um rigor cartesiano, às vezes muito matemático e pouco poético. Mas é a lei das coisas, é quase impossível fazer todos os detalhes com perfeição técnica absoluta e ao mesmo tempo tocar com o sentimento dos poetas. Kissin é um assombro técnico, quando está no máximo da forma, e foi um assombro escutar o recorte do concerto em si bemol maior, pena uma única nota errada no terceiro andamento e um ponto em que foi irregular no dedilhar, senão teria sido quase sobre humano. Uma nota trocada pode ser agradável, lembra-nos a condição humana do intérprete.
Os andamentos lentos, mesmo que um pouco frios, acabaram por nos trazer a poesia que faltou nas passagens mais rápidas. A orquestra neste quinto concerto esteve irrepreensível (cuidado clarinetes com a concentração no segundo andamento, evitem notas trocadas por distracção). Foster foi muito correcto na leitura do texto de Beethoven e conseguiu entusiasmar a orquestra. Não ouvimos o pianista a "carregar com a orquestra às costas". Excelente música num programa memorável, sobretudo, pela segunda parte. A Fundação Gulbenkian está de parabéns por este momento e o público teve o privilégio de ouvir uma das melhores interpretações ao vivo do concerto em mi bemol maior de que há memória desde o célebre concerto de Viena com Michelangeli e Giulini. Sem exagero...
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